As Crônicas de Gelo e Fogo – A fúria dos reis (Livro II) – George R.R. Martin

Nesse segundo volume da série As Crônicas de Gelo e Fogo (A Fúria dos Reis), o autor George R. R. Martin perpetuou o que eu mais apreciei no volume 1, sua sutilidade ao nos contar elementos chaves do enredo. Cada capítulo tem o título do personagem que irá nos revelar alguns fatos da história ou que apenas nos deixará mais familiarizados com seus receios ou inimagináveis superações de obstáculos de seu próprio núcleo. Nesse livro dois novos nomes foram acrescentados à gama de títulos anteriores: Davos e Theon Greyjoy.

Theon Greyjoy é um dos amigos de infância dos filhos Stark, embora seja anos mais velhos que Robb, o primogênito Stark. Theon, aos dez anos, foi tirado de sua terra/mar natal e levado numa espécie de condição refém dos Stark (embora sempre bem tratado e criado juntamente com os Stark mais novos, como já mencionado) para que seu pai, Balon Greyjoy, não tentasse uma nova rebelião. E o resumo de Theon nesse livro é: tentar agradar, se descobrir e procurar um lugar para chamar definitivamente de lar, o que lhe causa toda uma troca de lados no decorrer do livro. Ele tem uma cisão dentro de si. E se um um reino partido não se mantém, quanto mais uma pessoa partida.

Davos, um grande personagem

Davos é alguém que subiu na vida com a ajuda do irmão do antigo rei de Westeros, Stannis Baratheon. Davos, assim como Theon deveria ser, é um homem do mar, sua vida foi velejar e contrabandear até ser o mais novo amigo sincero do novo pretendente ao trono, Stannis. Davos é de importância no livro para mostrar o núcleo do irmão Baratheon cujo trono é de direito, o já mencionado Stannis. Além de Stannis, uma pessoa também fica sob o olhar narrativo de Davos, Melisandre, cujo prólogo lhe é dedicado.

Em A fúria dos reis, o personagem Davos possui poucos capítulos e neles divide com o leitor suas preocupações e considerações sobre o que se passa em todo o continente ocidental, algumas conversas com Stannis e no que lhe sobra de parágrafos, temos rápidas olhadelas na intrigante e poderosa Melisandre de Asshai.

Martin nos deixa comendo os talos dos dedos para sabermos mais informações dessa peculiar personagem que junto com os dragões da “Quando meus dragões crescerem, vocês vão ver” e os White Walkers estão trazendo a magia de volta à essa terra fictícia. O trunfo de Martin fica muito evidente em Melisandre, as partes principais que muito almejamos, como por exemplo saber mais a respeito dela, vão sendo adiadas, e quanto mais isso acontece, mais ávidos ficamos. Como se ele sempre postergasse a refeição enquanto mais famigerados ficamos.

O núcleo Daenerys

Com respeito às diferenças da série televisiva, notei claramente o núcleo de Daenerys. Ninguém lhe rouba os dragões, e ela tem participações restrita no livro assim como Davos. Poderia se dizer que quase não houve alterações no seu enredo, mas do que pude entender, o intuito de Martin com mãe dos dragões no livro dois seria fazer Daenerys perceber que não é só achar três dragões que tudo seria resolvido, ao contrário, o perigo sobre ela aumentou, mais pessoas estão interessadas em seu fracasso, não só os reis mortos de Westeros. Dany viu que mudar o mundo é uma verdade odisseia, mesmo para quem tem dragões.

A mudança de Sansa

Quem também continuou vendo o mundo duma forma diferente em A Fúria dos Reis foi Sansa. Cavaleiros de canções e homens honrados não existem. E se existem, deixam bastardos e perdem a cabeça no Septo real (a.k.a. Eddard). O seu núcleo e o de Theon são os meus favoritos, o de Sansa porque ela teve que reformular toda sua visão de mundo apanhando do seu futuro marido. E cá por mim, isso não deve ser fácil. Theon similarmente não sabe que rumo seguir.

Não entendi por que Arya não deu o nome de Tywin para o cavaleiro de Bravos. E Arya vislumbrou muito o nome do lorde no qual eu acho que ela irá se juntar no volume três. Assim como Daenerys vislumbrou a morte de Robb naquela casa do mago sinistro.

De restante foi um troca troca de poderio entre os exércitos Lannister, Stark, Baratheon, Tyrell e afins. Ninguém sabia com quem contar e fora tudo na sorte. Meio que um: que os deuses nos abençoem com muitos vassalos na hora da luta. O que eu não entendi também foi a razão de Robb não ter atacado Twyn, deixando que este fosse no encalço de Porto Real, o que foi uma das surpresas mais desagradáveis que tive na vida.

A série e o livro

Este último parágrafo concedo a dois episódios da característica que elogiei no primeiro parágrafo, a sutilidade de Martin. Na série, mostra-se claramente Melisandre dando a luz o bebê das sombras. No livro tem-se uma morte um bocado estranha de Renly e apenas uma centena e algumas dezenas de páginas mais a frente que se explica que fora Melisandre e como isso se sucedeu. Isso deixa o leitor com uma centena e algumas dezenas de pulgas atrás da orelha.

Enquanto a série mostrou tudo certinho, mastigadinho: Melisandre concebendo o bebê das sombras e este matando Renly. Um outro fato é o da chegada de Lorde Tywin que a Arya não quis matar em Porto Real. Na série fica bem claro ele chegando, ao passo que no livro entende-se que os homens de Stannis estão se matando. Mas senti falta dos diálogos fenomenais de Cersei e Sansa enquanto aguardavam o término da batalha, e da própria Cersei envenenando Tommen Lannister. Enfim, a série é muito épica e bem feita. Mas nada como o gostinho de suspense e quero mais que a falta de detalhes e agilidade da história que George Martin consegue magistralmente fazer.

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