É a segunda vez que leio MAUS, a primeira HQ a ganhar o prêmio Pulitzer, em meados da década de oitenta.
Pensei que a releitura seria dispensável, afinal, já que conhecia a trama. Mas, o livro de Spiegelman já se tornou um clássico, e assim como os clássicos, surpreende, captura e esgota o leitor a cada releitura.
É um livro denso, melancólico. Não pense que por se tratar de uma história em quadrinhos a leitura é mais fluída ou dinâmica. Maus é autobiográfico. É a história de Art entrelaçada com a de Vladek, seu pai, um judeu-polonês sobrevivente de Auschwitz.
MAUS é uma história dentro de outra. Somos apresentados a um Art adulto, já consagrado como escritor, que frequenta a casa de Vladek esporadicamente, a fim de que este lhe conte suas memórias que servirão de base para seu novo livro. A partir daí o leitor já está fisgado e não tem mais escapatória. Mergulhamos de cabeça na história da família de Spiegelman, desde à infância de Art, ao suicídio de sua mãe, passando pelos anos que parecem intermináveis de seus pais em Auschwitz.
Uma caracterísitca singular, que acredito eu, foi um “ponto extra” para Spiegelman arrebatar o Pulitzer, é a antropomorfização das personagens, ou seja, a caracterização das personagens como animais humanizados: os judeus são desenhados como ratos e os alemães como gatos. A eterna perseguição. Outras etnias também são retratadas: os poloneses são porcos e os americanos são desenhados como cães.
O traço do autor é extremamente simples. As ilustrações são em preto e branco, o que me parece ideal, uma vez que retrata toda a brutalidade do holocausto. Além disso, uma história trágica não deve ser carregada de cores.
Para finalizar, MAUS é leitura obrigatória. Um livro intenso, que mostra outra faceta de um período muito triste da história, repleto de atrocidades e intolerância. Uma HQ escrita por um filho, sob o ponto de vista de seu pai, um sobrevivente, que viu todo aquele horror de perto e ficou atormentado pelas lembranças de seu passado até os últimos momentos de sua vida. Impossível não se emocionar.