Alguns livros, os raros, possuem uma tal profundidade. É como olhar para uma pessoa e saber se ela está extremamente triste ou feliz, mesmo que lágrimas ou sorrisos não brotem de sua face, porque a verdade está lá dentro. Em “O frágil toque dos mutilados”, o primeiro romance de Alex Sens (escritor brasileiro, nascido em Santa Catarina) podemos sentir esse tipo de verdade profunda.
O romance, lançado neste ano pela Editora Autêntica, ganhou o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura e traça uma história surpreendente de Magnólia, uma mulher que ao visitar o irmão, provoca a si mesma e também a todos que estão à sua volta, quando decide parar com os remédios que controlam sua grave doença psicológica.
Orlando, irmão de Magnólia, a recebe em sua casa localizada em frente ao mar. Nela vivem também os seus dois filhos, Muriel e Thomas. No início, o leitor vai saber que a família não está em seus melhores momentos e tudo fica mais complexo com a inconstância de Magnólia. Se ela tem problemas psicológicos e exagera no vinho, Orlando tenta se livrar do alcoolismo, as crianças se sentem sozinhas e Herbert, marido dela, vive em constante alerta apenas por imaginar o desequilíbrio de sua mulher vindo à tona.
São 415 páginas de tensão, humor sutil e também compreensão. Magnólia, a nossa protagonista, é uma personagem maravilhosa. Por um lado problemática, por outro muito verdadeira. Ela é a nossa heroína, mas também quem provoca o caos. E isso fica muito evidente no relacionamento dela com o marido Herbert, um homem tão apaixonado… por ela e também por Virginia Woolf. Enquanto Magnólia e Orlando protagonizam momentos complexos em suas rotinas, Herbert está escrevendo um ensaio sobre o livro As Ondas no pequeno e tranquilo escritório da casa. É como se ele fosse o ponto de calmaria, um pequeno barco à espera de nervosos tripulantes que caíram em alto mar.
Muriel, uma doce menina que gosta de meditação. Thomas, um jovem garoto descobrindo a paixão por outro garoto. As ondas quebrando na praia. Magnólia tomando porres de vinho. Orlando tentando controlar o desejo por uma cerveja e também pintando quadros em sua garagem. Tudo até parece ser relativamente normal, mas Magnólia é como um vulcão pronto para explodir. E como sabemos, vulcões não conseguem controlar a própria lava. Para alguns, Magnólia e suas explosões ajudam; para outros, não. Para ela, estar livre dos remédios que a controlam, é sentir o sabor de ser ela mesma, de liberdade, porém como se apontasse uma metralhadora para quem se ama.
O livro narra 28 dias na vida de uma família, com direito a café da manhã, almoços e jantares vegetarianos, uma exposição de obras de arte, chegadas inesperadas, paixão, ódio, vizinhos e vista para o mar. Cada linha escrita por Alex Sens examina a fundo os passos de frágeis pessoas, mas que por uma faísca de coragem e loucura, se arriscam.
As últimas páginas de O frágil toque dos mutilados, que causam dor, alívio, angústia, tristeza e também satisfação, funcionam como um quente cobertor sobre os ombros do leitor que de repente caiu no mar sem perceber. A pergunta que fica é sobre o quanto dói viver dentro de si mesmo.
7 Comentários
Parece sensacional! Acho que terei de quebrar aquela promessa de não comprar mais livros…kkkk 😉
hahahaa compre que vai valer a pena! 🙂
Já me identifiquei com a Magnólia ^_^
Fran está deixando todo mundo curioso para ler esse livro.
Beijo!
Magnólia é mais uma personagem que eu gostaria que existisse de verdade para ser minha melhor amiga! rs
O livro é o máximo meesmoo!!! <3
Bjosss
Essa busca de compreensão da vida e de nós mesmos parece eterna. Acho que no ponto literário, só temos a agradecer, pois assim aparecem obras espetaculares para nós leitores! 🙂 E, claro, um pouco mais de compreensão para essa loucura toda chamada vida.
Beijos!
Obrigada pela visita
Estou mergulhada no livro fran! Sensacional! Pior que me identifiquei com a Magnólia logo no início do livro haha
Bom ou ruim se identificar com ela? Ainda não sei haha vamos aguardar o final do livro!
Acho que neste ano vamos ter a continuação da história! 🙂 Estou ansiosa!
E sobre a Magnólia, acho que rola uma identificação porque ela é cheia de defeitos, o que a torna muito humana, como todos nós.