De acordo com alguns livros que li sobre leitura, sempre fico em dúvida na minha posição como leitora, se ainda sou uma leitora de primeira viagem ou se consigo caminhar pelos complexos limites da crítica literária.
Virginia Woolf ensina que o leitor comum é de extrema importância para a literatura, porque ele é a pessoa que aprecia a obra sem os olhares técnicos de um crítico literário. E neste assunto, fica uma eterna pergunta que não vou conseguir responder: o leitor deve caminhar para a crítica ou pode, para sempre, ser um leitor comum? Ter a consciências desses dois tipos de leitura pode colaborar para que o leitor seja mais atento ao universo literário e isso, sem dúvidas, é de enorme valor.
“se ele [ o leitor comum] tem alguma palavra final do legado das reputações poéticas, então, talvez, poderá valer a pena prosseguir escrevendo algumas ideias e opiniões que, insignificantes em si mesmas, irão contribuir muitíssimo para um resultado.”
(Virginia Woolf, p. 12, O leitor comum)
Não apenas Virginia Woolf, mas Vincent Jouve em seu livro A leitura, também comenta sobre o leitor comum (que ele chama de inocente) e o crítico. Sabiamente, ele diz que “entender uma obra não se limita a destacar a estrutura ou relacioná-la com seu autor. É a relação mútua entre escritor e leitor que é necessário analisar”. Por isso, podemos afirmar que o leitor comum, se tem consciência sobre si mesmo, pode, sem querer, se tornar um crítico, mesmo que só um pouquinho, mesmo que não profissionalmente.
Assim, para quem trabalha no universo literário – seja como livreiro, escritor, editor, etc, a linha que divide essas profissões do tal crítico literário (figura misteriosa!) é muito pequena, porque, inconscientemente, os livros são lidos com prazer, mas também com um pequeno olhar técnico. E outra pergunta: existe olhar mais ou menos técnico? Não tenho respostas.
Leitura é um processo múltiplo
A leitura é um processo múltiplo que pode ser analisado por diferentes formas, como algo neurofisiológico, cognitivo, afetivo, argumentativo e simbólico. Diversos teóricos defendem cada um desses tipos como grandes verdade e são, claro, mas, acredito, o mais importante é a junção de todos eles, que formam, então, as diversas possiblidade de análise literária, o que foge e diverge muito – graças a deusa!, do que aprendemos na escola, quando a literatura é mostrada em categorias, temas e dados para passar em vestibulares. Blah!
Então, a pergunta que faço e divido com você, leitor (comum ou crítico), a sua leitura é inocente ou não?
A literatura deve levar em conta o leitor comum, porque ele acaba mostrando a recepção da obra perante o público. E esse leitor comum, talvez, seja o mais feliz dos leitores. Se esse mesmo leitor comum, fazer uma releitura, talvez ele consiga caminhar pelos caminhos da crítica, mesmo não sabendo as técnicas com profundidade. Comentar sobre personagens, estilos e epifanias faz parte não só da literatura, mas também da vida comum.
Como escolher?
Eu gostaria de poder escolher, cada vez que estou diante de um novo livro, se quero ser uma leitora comum ou uma crítica. Cada vez mais, busco a inocência na leitura (é mais romântico). O motivo é difícil explicar, mas, talvez, nesse momento, ainda more em mim o desejo de me encantar com um livro como se fosse a primeira vez. E tenho a impressão que o leitor comum e inocente é muito mais feliz.