Começamos os estudos sobre o Drácula com um olhar sobre três casos que inspiraram a obra e, depois, passamos para uma análise mais atenta sobre o próprio mito do vampiro. Agora, vamos se voltar para o criador que ficou oculto pela força de sua criação: Bram Stoker.
Dentre muitos autores do século XIX que ficaram famosos graças à cultura pop e às adaptações para o cinema, Bram Stoker foi um dos poucos que não ficaram conhecidos, apesar de sua obra Drácula ser um dos livros mais conhecidos do mundo. O homem por trás das páginas não teve o devido reconhecimento; grande parte das pessoas que conhecem o livro mal sabem quem o escreveu, ou, se sabem, é apenas pelo nome, sem conhecer a história que rodeia um dos escritores mais talentosos e mais misteriosos que já passaram por esse planeta.
Afinal, quem foi Bram Stoker?
Abraham “Bram” Stoker nasceu em Clontarf, na Irlanda, em 8 de novembro de 1847. Foi o terceiro de sete filhos, cresceu em meio a uma família protestante membros da Church of Ireland Parish of Clontarf. Seu pai, Abraham Stoker (1799-1876), e seu irmão mais velho, Sir Thornley Stoker (1845-1912), serviram ao Serviço Civil Real para a Coroa. A época em que nasceu ficou marcada pela Grande Fome, que durou de 1845 a 1849, e, apesar de sua família não sofrer os efeitos dessa crise, eles, com certeza, sofreram os efeitos sociais que isso causou. Sua infância, então, foi manchada por mortes e sofrimentos, o que afetou a sua imaginação. Bram Stoker costumava passar seu tempo ouvindo as histórias que sua mãe, Charlotte Mathilda Blake Thornley (1818-1901), lhe contava acerca da epidemia de cólera em 1832, por exemplo. Bram, além disso, foi uma criança muito doente e passava a maior parte do tempo dentro de casa ou na cama, e isso durou até os seus sete anos. Com o passar dos anos, ele foi se recuperando de sua saúde debilitada e cresceu como um jovem forte e saudável.
Após seu tempo de escola, Bram Stoker se inscreveu no Trinity College, em Dublin, em 1863, onde se destacou por sua dedicação aos estudos e ao atletismo, conquistando diversos prêmios em disciplinas variadas e como jogador de rugby. Stoker foi auditor do College Historical Society (The Hist) e presidente da University Philosophical Society, onde escreveu Sensationalism in Fiction and Society [O Sensacionalismo na ficção e na sociedade]. Ele se graduou em matemática pura, em 1870, com honrarias no campo da ciência, além de ser um estudioso em oratória e história.
Logo depois, Bram se alistou no serviço civil da Irlanda, no qual serviu por dez anos como inspetor de sessões que cuidavam de pequenas causas e delitos. Foi durante essa época que ele teve tempo para desenvolver sua paixão pela escrita e publicou seu primeiro conto nas décadas de 1870, chamado The Crystal Cup [O Copo de Cristal] e sua primeira história de terror The Chain of Destiny [A Corrente do Destino], em 1875. No mesmo ano, ele escreveu seu primeiro romance The Primrose Path [O Caminho da Prímula], publicado em capítulos na revista The Shamrock e que contava a história de um homem e os males trazidos para sua vida pelo álcool.
Após alguns anos trabalhando no serviço civil, ele decidiu escrever uma espécie de manual chamado The Duties of Clerks of Petty Sessions in Ireland [Deveres dos Amanuenses e Escrivães nas Audiências para Julgamento de Pequenas Causas e Delitos na Irlanda], em 1879, que continha uma sessão na qual falava sobre a forma como deveriam ser tratados os “lunáticos perigosos” na corte, o que pode ter servido como inspiração para a criação de alguns personagens de Drácula, como o Dr. Seward e seu paciente Renfield.
As influências na vida e obra de Bram Stoker
Durante seu tempo na serviço civil, Bram Stoker ficou fascinado por drama e teatro devido à influência de seu amigo, Dr. Maunsell. Possuindo um conhecimento considerável sobre a área, conseguiu um emprego secundário como crítico de teatro no Dublin Mail, no qual escrevia sobre diversos gêneros; na ocasião, publicou um artigo defendendo a coletânea de poemas Leaves of Grass [Folhas da Relva], de Walt Whitman, autor este que Stoker acabou conhecendo e se tornando amigo, da mesma forma que viria a se tornar amigo de diversos outros escritores de grande porte.
E então, em 1876, Bram conheceu Henry Irving, um ator famoso de sua época, graças a uma das críticas favoráveis feitas por Stoker sobre Irving, iniciando, assim, uma amizade que mudaria a vida do escritor. Nesse período, encontramos o primeiro vestígio romântico de Stoker, já que ele estava envolvido em um triângulo amoroso com Florence Balcombe, filha de James Balcombe, e cuja terceira pessoa dessa trama era ninguém menos que Oscar Wilde, outro grande escritor do século XIX, criador de O Retrato de Dorian Gray, e amigo de Stoker desde seus dias de estudante, quando convidou Wilde a fazer parte da Philosophical Society.
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Entretanto, o coração da jovem Florence acabou escolhendo Bram Stoker em 1878 e os dois se casaram no dia 4 de dezembro do mesmo ano, e, por mais incrível que isso pareça, Wilde e Stoker continuaram a ser grandes amigos. Nesse ponto, é possível fazer um paralelo com um caso singular na obra Drácula, na qual Lucy, melhor amiga de Mina Harker, é cortejada por Quincey Morris, Lord Holmwood (Arthur) e Dr. Seward. Mesmo após a jovem decidir se casar com Arthur, os três mantiveram a forte amizade.
Ainda no ano de 1878, Henry Irving convidou Stoker para ir a Londres e trabalhar como seu gerente, cuidando dos negócios e de seu teatro, o The Lyceum. Aceitando o trabalho, suas relações e amizade continuaram até 1905, quando Irving morreu devido a um derrame cerebral. Esse trabalho foi de extrema importância para ele, pois foi trabalhando com Irving que Stoker conheceu James Abbott McNeill e Sir Arthur Conan Doyle, o célebre escritor de Sherlock Holmes.
Antes e depois de Drácula
Em 1879, Stoker e Florence deram à luz seu único filho, Irving Noel Thornley Stoker, afilhado de Henry Irving. O nascimento da criança inspirou Stoker a escrever o livro Under the Sunset [Sob o pôr do sol], uma coleção de histórias dedicadas ao público infantil. No ano de 1890, Bram Stoker publicou seu segundo romance, intitulado The Snake’s Pass [O Passe da Cobra, em tradução literal], o único trabalho de Stoker a se passar na Irlanda, podendo ser notado, nesse livro, o crescimento exponencial do sobrenatural e do fantástico em suas obras. Após sua publicação, Stoker começou a trabalhar em sua magnum opus, Dracula, the Undead [Drácula], que foi publicado em 26 de maio de 1897.
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Logo depois a publicação de Drácula, Bram Stoker trabalhou em outras obras, como Miss Betty, em 1898, The Jewel of Seven Stars [A Joia das Sete Estrelas], em 1903, The Man [O homem], em 1904, e, um ano após a morte do amigo Henry Irving, Stoker publicou Personal Reminiscences of Henry Irving [As reminiscências pessoais de Henry Irving], seguido de The Vampire-Woman’s Coffin [O Caixão da Mulher-Vampiro], em 1909. Um ano antes de sua morte, Bram Stoker publicou The Lair of the White Worm [A Toca do Verme Branco].
O escritor irlandês Bram Stoker faleceu em Londres, no dia 20 de abril de 1912. A causa de sua morte ainda é debatida por biógrafos do escritor, alguns dizendo que ele morreu pelo excesso de trabalho e outros que foi por sífilis terciária, já que, em seu obituário, é descrito que a causa da morte foi ataxia locomotora, o que presumem ser um sintoma da sífilis.
Referências
BIOGRAPHICS. Bram Stoker: Resurrecting the Vampire. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bram_Stoker. Acesso em: 4 rev. 2021.