Facebook
Threads
Pinterest
WhatsApp
Email

Diário de Leitura Ao Farol (Virginia Woolf) #5 A metáfora do alfabeto

E continuo caminhando em meio Diário de Leitura Ao Farol: O Sr. Ramsay é realmente um chato, como aqueles que agarram qualquer razão superficial como verdade absoluta. E assim, ele mantém o ódio em seu filho mais novo – uma criança assustada com o pai – e também a característica típica de um homem orgulhoso e rabugento.

Em seus devaneios (por estar de saco cheio com certas coisas) ele se põe a uma auto análise sobre o quanto ele é gênio. Conclui, claro, que não é, mas resolve quantificar a inteligência como as teclas de um piano ou as letras do alfabeto, que representam, cada uma, um nível:

Era uma mente esplêndida. Pois se o pensamento é como o teclado de um piano, dividido em umas tantas notas, ou como o alfabeto, distribuído por vinte e seis letras todas em ordem, então sua esplêndida mente não tinha nenhum tipo de dificuldade em percorrer essas letras uma por uma, firme e acuradamente, até chegar, digamos, à letra Q. Ele chegou ao Q. Eram muito poucas as pessoas em toda a Inglaterra que algum dia chegaram à letra Q. Aqui, parando por um momento ao lado do vaso de pedra que abrigava gerânios, ele viu, mas agora longe, muito longe, como crianças colhendo conchas, divinamente inocentes e ocupadas com pequenas coisas a seus pés e, de alguma forma, inteiramente indefesas contra um destino que ele percebia, a mulher e o filho, juntos à janela. Eles precisavam de sua proteção; ele lhes dava. Mas depois do Q? O que vem depois? Depois do Q há uma quantidade de letras, a última das quais é dificilmente visível para olhos mortais, tremeluzindo em vermelho ao longe. O Z é atingido apenas uma vez por um único homem em toda uma geração. Mas se ele pudesse chegar ao R seria algo. Aqui, ao menos, estava o Q. Ele empacou no Q. Do Q ele tinha certeza. O Q ele conseguia demonstrar. Se Q, então Q… R… Aqui, ele esvaziou o cachimbo, com duas ou três ressonantes batidas no chifre de carneiro de que era feita a asa do vaso e continuou. “Então R…” Ele se alertou. Ele se concentrou. (p. 31/32)

É uma grande bobagem esses métodos, porém me diverti tentando encontrar uma letra para os personagens do livro. E, claro, para a Sra. Ramsay. Eu arriscaria (usando a mesma métrica do Sr. Ramsay) a dar a nota “U”, por ela ser uma mulher que transborda e de repente se faz inteira. A letra “Z”, nota máxima, não, pois ainda há um caminho (a leitura do livro) para eu conhecer mais dessa grande dama.

Onde Comprar Ao Farol: Amazon

Continue lendo o Diário de Leitura Ao Farol:

Se você gostou, compartilhe!
Facebook
Threads
Pinterest
WhatsApp
LinkedIn

Continue por aqui...

Respostas de 4

  1. Ahhh… é um método interessante, apesar de um pouco “limitador”. Mas, utilizando a metáfora do alfabeto, diga-me, Francine: qual nota você atribuiria à personagem Lily Briscoe? Esta que, como alguns críticos asseveram, é a representação da figura feminina subversiva, na medida que representa não apenas os conflitos da mulher que não consegue se adequar a um modelo feminino estereotipado pela sociedade patriarcal (limitada ao âmbito doméstico), mas também a imagem da artista que busca sua liberdade de expressão, ainda que seja vista como aquela que “não sabe escrever ou que não sabe pintar”.

  2. Oi Lis!
    A Lily Briscoe representa, no livro, a própria concepção de criação de uma arte, o próprio livro. No final (já terminei de ler), percebi que ela, Virginia Woolf e a própria obra se tornam uma coisa só: ela tentando pôr num quadro a imagem do farol; a última frase que encerra o livro – está tudo ali, de uma forma tão bonita e que representa a força da expressão artística. Sendo ela essa força, se é para brincar de nota, Lily merece mais que o Sr. Ramsay, porém, me atendando ao conceito do Sr. Ramsay que são poucos que chegam ao Z e apenas uma vez, Lily merece a nota T. E Virginia Woolf, claro, Z, por fazer de Ao Farol uma obra tão linda, complexa, envolvente e com personagens que navegam por diversas letras; e boas letras!

  3. Sim, é verdade! Essa obra – como diria Virginia, um “roman à clef” – acaba por constituir-se como um autorretrato da própria escritora e um símbolo da busca de liberdade artística e social.

    Sem falar que – como você mesma, Francine, já expôs em seus belíssimos textos – Virginia Woolf, com suas “visões”, proporciona uma viagem ao interior da vida e à essência de cada personagem… e, por que não dizer, nas nossas também!

    Parabéns pelos seus ótimos posts, Francine! É sempre muuuuuito bom passear por aqui…

    Abraço. 🙂

  4. Obrigada, Lis!

    É um prazer ler e escrever sobre Virginia Woolf. Mais prazer ainda é saber de pessoas que também gostam dela e que gostam de passar por aqui 😉

    Beijos!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *