Conhecer frases do livro Ao Farol, de Virginia Woolf, é uma forma de mergulhar nas complexidades das relações humanas, capturando a essência de uma das mais importantes escritoras do século XX.
Ambientado na tranquila Ilha de Skye, na Escócia, o romance retrata os anseios, desilusões e aspirações dos membros da família Ramsay, especialmente durante as férias de verão. Enquanto o patriarca, o intelectual Mr. Ramsay, busca validar sua importância acadêmica, sua esposa, Mrs. Ramsay, tece os fios delicados das interações sociais, e seus filhos enfrentam os desafios da juventude e da maturidade. Entre reflexões filosóficas e momentos de pura contemplação, o farol torna-se um símbolo de aspiração e reconciliação, delineando a jornada emocional e psicológica dos personagens. Em uma prosa poética e introspectiva, Virginia Woolf tece uma narrativa que transcende o tempo, explorando a fragilidade da existência e a beleza efêmera da vida.
Ao longo das páginas de “Ao Farol”, Woolf desafia as convenções narrativas tradicionais, mergulhando nas profundezas da psique humana e explorando a subjetividade de cada personagem. Por meio de fluxos de consciência meticulosamente elaborados, a autora revela os pensamentos mais íntimos e os conflitos internos que moldam as experiências dos Ramsay. A interseção entre passado, presente e futuro cria uma tapeçaria narrativa rica em nuances, onde memória e percepção se entrelaçam para formar uma visão multifacetada da realidade. Em meio às marés da mudança e da incerteza, “Ao Farol” é uma ode à beleza efêmera da vida e à busca eterna pelo significado, deixando uma marca indelével na literatura moderna.
Conheça a seleção de frases do livro Ao Farol (Virginia Woolf), da edição lançada pela Editora Autêntica, tradução de Tomaz Tadeu.
Pois como nos sentiríamos se tivéssemos que ficar calados por um mês seguido, em tempo de tormenta talvez mais, em cima de uma rocha do tamanho de uma quadra de tênis? perguntava-se ela; e não ter nenhuma carta ou nenhum jornal, e não ver ninguém; se for alguém casado, não ver a mulher, nem saber como estão os filhos – se eles estão doentes, se caíram e quebraram uma perna ou um braço; ver as mesmas e monótonas ondas quebrando semana após semana, e depois uma terrível tempestade chegando, e as janelas cobertas de respingos, e os pássaros atirados contra a lâmpada, e o lugar todo balançando, e não ser capaz de botar o nariz para fora da porta por medo de ser varrido para o mar? Como vocês se sentiriam? (p. 7)
Mas não era isso que as incomodava, diziam as crianças. Não era o seu rosto; não eram as suas maneiras. Era ele – o seu ponto de vista. Quando elas falavam sobre algo interessante, pessoas, música, história, qualquer coisa, simplesmente comentavam que fazia uma noite bonita, por que não iam sentar lá fora, então o que elas se queixavam a respeito de Charles Tansley era que, enquanto não tivesse virado a coisa toda de ponta-cabeça, fazendo com que, de alguma forma, refletisse ele próprio e as rebaixasse, enquanto não deixasse todas elas, de alguma maneira, com seu jeito amargo de espremer o sumo e a polpa de tudo, todas elas com os nervos à flor da pele, ele não ficava satisfeito.” (p. 9)
Se lançaram sobre ela os demônios que frequentemente a levavam à beira das lágrimas e tornavam essa passagem da concepção à obra tão pavorosa quanto a travessia de um corredor escuro para uma criança. Era assim que frequentemente se sentia – lutando contra terríveis adversidades para manter a coragem para dizer: “Mas isso é o que vejo; isso é o que vejo”, e, assim, apertar contra o peito algum miserável resquício de sua visão, que mil forças faziam tudo para lhe arrebatar. E foi então também, neste caminho frio e ventoso, enquanto começava a pintar, que foi assaltada por outras coisas, sua própria inadequação, sua insignificância (…) (p. 19)
Seus olhos, embaciados de emoção, desafiadores, com uma carga de intensidade trágica, encontrara os dele por um segundo, e tremularam, à beira do reconhecimento; mas, depois, levantando a mão, a meio caminho do rosto como que para evitar, para descartar, num paradoxismo de caprichosa vergonha, o olhar normal deles, como se lhes implorasse que suspendessem por um instante o que ele sabia ser inevitável, como se lhes remarcasse seu próprio ressentimento pueril pela interrupção, contudo, mesmo no instante da descoberta, ele não ia se deixar destroçar inteiramente, mas estava determinado a se aferrar a algo dessa deliciosa emoção, dessa rapsódia impura de que se envergonhava, mas com que se deleitava (…) (p. 25)
Nunca ninguém pareceu tão triste. amarga e sombria, a meio-caminho da descida, no escuro, no poço que ia da claridade do sol à escuridão das profundezas, uma lágrima se formava, talvez; uma lágrima escorria; as águas se mexeram, para um lado, para o outro, receberam-na, e voltaram ao repouso. Nunca ninguém pareceu tão triste. (p. 27)
(…) ela sentia, muitas vezes, que não passava de uma esponja encharcada de emoções humanas (p. 30)
Ele agora percebe, por alguma picada nos dedos dos pés, que está vivo, não se opondo, no geral, a viver, mas precisa de simpatia, e uísque, e alguém a quem contar logo a história de seu sofrimento? Quem o censurará? (p. 34)
Eles se tornavam parte daquele irreal mas penetrante e emocionante universo que é o mundo visto pelos olhos do amor. (p. 43)
Quando a vida esmorecia por um momento, a gama de experiências parecia sem limites. (p. 56)
Era estranho, pensou, como, quando estávamos sozinhos, nos apoiávamos em coisas inanimadas; árvores, regatos, flores; sentíamos que elas nos expressavam; sentíamos que elas se tornavam nós; sentíamos que nos conheciam – em certo sentido, eram nós; sentíamos por elas uma ternura tão irracional (olhou para aquela longa e firme luz) quando a que sentíamos por nós mesmos. (p. 57)
Ela tinha conhecido a felicidade, uma felicidade rara, uma felicidade intensa, e ela prateava as ondas encrespadas com um puco mais de brilho à medida que a luz do dia se apagava e o azul fugia do mar e ela se envolvia em ondas de puro limão que se curvavam e intumesciam e morriam na praia e o êxtase explodia em seus olhos e ondas de puro prazer corriam pelo solo de sua mente e ela sentia: Basta! Basta! (p. 58)
Sua inteligência frequentemente causava-lhe espanto. Mas notava ele as flores? Não. Notava ele a paisagem? Não. (p. 63)
E, novamente, sentiu-se sozinha na presença de sua velha antagonista, a vida. (p. 70)
Qual é o significado da vida? Isso era tudo – uma questão simples; uma questão que tendia a nos envolver mais com o passar dos anos. A grande revelação nunca chegara. A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres cotidianos, iluminações, fósforos inesperadamente riscados na escuridão; aqui estava um deles. (p. 139)
Pois o mundo inteiro parecia ter se dissolvido, nesta primeira hora da manhã, numa poça de pensamento, numa bacia profunda de realidade. (p. 154)
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