Meu nome é Laura (Alex Andrade): um retrato cru e sincero

Em seu romance “Meu nome é Laura”, Alex Andrade nos convida a refletir sobre nossa posição como cidadãos em uma sociedade marcada por injustiças. Segundo Alexandre Vidal Porto, que assina o texto de orelha, “Alex Andrade aborda de forma muito sensível as dores da infância, as angústia da paternidade jovem, as projeções de uma geração sobre a seguinte e a negação do amor por meio da religião, em um livro delicado e de ótima leitura”.  

Meu nome é Laura (Alex Andrade)
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A trama é contada a partir das perspectivas de Pedro, o pai, Pedrinho, seu filho e Laura. A história se inicia com Pedro refletindo sobre a infância difícil, marcada pela figura de um pai abusivo e alcoólatra. Conhecido pelo sobrenome “Pacheco” e por suas longas ausências devido à pescaria, o avô de Pedrinho tinha um comportamento negligente e destrutivo, que moldou profundamente a vida de seu pai. Ele costumava dar conselhos sobre como enfrentar o mundo com coragem, mas sua ausência e vício tiveram um impacto negativo na criação dos filhos.

Quando Pedro se torna pai, ele se depara com questões não resolvidas de sua própria infância. Seu filho, Pedrinho, que com o tempo se revela trans, enfrenta um ambiente familiar hostil, especialmente em relação à sua mãe, Heloísa, que demonstra rejeição e falta de compreensão em relação a sua condição. A visão conservadora e a crueldade de Heloísa e da avó de Pedrinho exacerbam o seu sofrimento, tornando sua vida ainda mais dolorosa.

Apesar dos desafios, Pedro se empenha em oferecer a Pedrinho o apoio que ele mesmo não recebeu, esforçando-se para superar os padrões prejudiciais de sua própria criação. A principal diferença entre Pedro e seu pai é que, mesmo diante de um tema delicado como a transexualidade, ele visa construir um ambiente de aceitação e compreensão para Pedrinho (futuramente Laura).

Uma abordafgem notável

A abordagem de Andrade é notável pela sua reflexão sobre as consequências de uma paternidade nociva e a descoberta da transexualidade. Ele explora não apenas os desafios enfrentados devido à falta de aceitação social da identidade de gênero, mas também os efeitos nocivos da rejeição e da ausência de informação. O romance oferece um retrato cru e sincero da luta por reconhecimento e da necessidade de amor incondicional, destacando a importância do apoio familiar em momentos de vulnerabilidade.

“Meu Nome é Laura” proporciona uma visão sincera e empática dos desafios enfrentados por aqueles que buscam ser aceitos em suas identidades. Por meio de uma narrativa complexa e sensível, Alex Andrade nos lembra da importância de confrontar nossos próprios preconceitos e de apoiar nossos entes queridos na busca pela autenticidade e pelo afeto:

Vivo pensando no amor, e isso me faz ultrapassar todas as fronteiras, e me deixa com mais vontade de ser da próxima vez novamente o nome de uma mulher, e mais forte para enfrentar o medo de ser. Vivo abrindo os espaços, feito o animal que ronda pela floresta fugindo do golpe de um tiro certeiro, corro tão rápido que meu corpo vai ficando para trás, primeiro vão chegando as minhas vontades. E me lanço no mar como quem vai ao encontro do horizonte, mas você, meu pai, me faz seguir o caminho de volta, para viver, para se transformar. A minha alma é amorosa e ouço o meu pai me dizendo bem baixinho, como se estivéssemos na esquina esperando encontrar oásis no fim das ruas, vá, ainda é cedo, voa a luz das certezas, e não canse de lutar.

Sobre o autor Alex Andrade

Alex Andrade é escritor e arte-educador. Foi um dos 20 semifinalistas do Prêmio Oceanos de literatura 2023 com o romance “Para os que ficam” editado pela Confraria do Vento editora em 2022.

(Lorena Mossa Fotografia/Divulgação)

Nascido no Rio de Janeiro, Andrade escreve desde pequeno. Além de “Meu nome é Laura”, publicado em 2024, o autor publicou os romances Antes que Deus me esqueça, Longe dos olhos, Para os que ficam e os livros de contos A suspeita da imperfeição, As horas, Poema, Amores, truques e outras versões, e os livros para as infâncias O Gigante, A menina que entrou na história, A menina e a sapatilha/O menino e a chuteira, A história do menino, O pequeno Hamlet, A galinha malcriada.

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