Virginia Woolf sentia um grande fascínio pelas mulheres, uma mistura de devoção, amor, mistério, compreensão, identificação, amizade, paixão e tudo mais. Isso está registrado em suas obras, nos romances, nos contos, e principalmente nos ensaios feministas.
O livro “As mulheres de Virginia Woolf”, escrito por Vanessa Curtis, mostra com detalhes toda a influência que Virginia Woolf recebeu e doou para as suas amizades femininas. Ao todo, foram 10 mulheres que, segundo a biógrafa, “do momento do seu nascimento no dia 25 de janeiro de 1882 até o dia em que morreu, uma sucessão de mulheres incomuns, enigmáticas e problemáticas modelou e inspirou a vida e a obra de Virginia Woolf”.
Relacionei abaixo essas 10 mulheres que estão no livro. Vamos conhecê-las:
Maria Jackson, Julia Stephen e Estela Duckworth
Avó, mãe e meia-irmã, respectivamente. As três, mesmo após a morte, permaneceram fortes na vida de Virginia, pois, devido às influências vitorianas e a rigidez da educação que recebeu dessas mulheres, daquele tipo que toda mulher deve ser submissa e não ter opinião própria, Virginia Woolf, por muito tempo, se sentiu incapaz de se expressar, mas conseguiu matar “o anjo do lar” e dar voz a si mesma e também, acredito, compreender que essas mulheres também eram vítimas do patriarcado. No livro é possível conhecer detalhes da rotina dessas mulheres que asseguram a influência que exerceram sobre Woolf.
Vanessa Bell
Vanessa Bell viveu sempre muito próxima à irmã. Uma sempre apoiou a outra. As duas, juntas, foram papéis importantes para o grupo de intelectuais londrinos “Bloomsbury”. Vanessa se tornou artista plástica e Virginia escritora. Talvez o que elas mais tinham em comum era a ausência de seus pais, pois, com a morte deles, só restou uma à outra. Enquanto Virginia vivia na corda bamba entre a sobriedade e a loucura, Vanessa sempre manteve a mente comum, se comparada à irmã.
“Quando crianças, Virginia e Vanessa adoravam deitar embaixo das árvores no parque, lendo exemplares da revista Tit-Bits e comendo chocolate. Aqueles anos, antes que as perdas e as crises de depressão começassem, foram mágicos, infantis e saudáveis (…)” (p. 65)
Violet Dickinson
Violet Dickinson era amiga de toda a família Stephen. Particularmente mais próxima à Stella. Com o tempo, ela se tornou uma grande amiga e incentivadora da carreira literária de Virginia. Ela era uma mulher com qualidades admiráveis: uma plena felicidade, vigoroso bom senso, jovialidade e otimismo. Numa carta para a própria Violet, Woolf assume que “Violet é uma amiga da família, na qual todos nós nos agarramos quando estamos nos afogando”.
Lady Ottoline Morrell
Lady Ottoline era uma “aristocrata e aspirante a anfitriã literária, com uma predileção para receber e entreter”. Para os membros do grupo Bloomsbury, era uma figura bastante estranha e excêntrica. Mas após as primeiras impressões, Virginia mudou o seu conceito em relação à amiga, porém nada ficou muito bem esclarecido, pois ela sentia uma mistura de repulsa e atração.
Katherine Mansfield
Lady Ottoline conhecia Lytton Strachey (também amigo dos Woolfs), que o apresentou para Katherine Mansfield, que mostrou muito entusiasmo por conhecer Virginia Woolf, pois tinha lido o romance A Viagem e ficou encantada. Os Woolfs também ficaram interessados, pois queriam conhecer novos escritores para serem lançados pela Hogarth Press, editora que eles haviam acabado de comprar.
O primeiro encontro das duas foi em 1917 e faíscas já começaram a aparecer. Virginia achou Katherine dura e desagradável. Mas outros encontros acontecerem e um sentimento mútuo de admiração surgiu. Tempos depois, a inveja fez parte da amizade das duas escritoras, que deixaram isso registrado em seus diários. Há muitos paralelos que podemos traçar sobre as obras dessas duas grandes escritoras.
“Enquanto os personagens de Mansfield são audaciosos, cômicos e, algumas vezes, indignos, vis, os de Woolf parecem infalivelmente elegantes, se expressam bem e são ponderados. Os personagens ficcionais de Virginia habitam vidas contra o civilizado pano de fundo de livros e de quadros, enquanto os de Katherine carregam arrimos – como flores ou lenços – cheios de simbolismos. Mas quando Woolf e Mansfield burilam a prosa para descrever paisagens, a palavra de cada escritora parece espelhar e complementar a da outra.” (p. 133)
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Dora Carrington
O que havia em comum entre Dora e Virginia era a amizade com Lytton Strachey, um homem muito admirado pelas duas e gay. As duas não foram amigas íntimas, mas, segundo Vanessa Curtis, é importante lembrarmos de Dora porque:
“ (…) a extraordinária bondade de Carrington e sua excêntrica e adorável personalidade despertaram muito dos traços mais suaves e mais cativantes de Virginia Woolf, (…) suas vidas revelam um extraordinário número de similaridades, tanto pessoalmente quanto em suas atitudes em relação à arte e à literatura.
Vita Sackville-West
Vita e Virginia tiveram uma amizade que durou 19 anos e é, sem dúvida, o relacionamento que mais comentam, porque além da admiração mútua, elas foram namoradas. Orlando, um dos livros de Virginia, é dedicado à Vita. Ou seja, se Orlando é o que é – no sentido de pessoa/ser admirável, incrível, capaz de deixar a gente em choque, Vita também deveria ser assim.
Elas se conheceram por intermédio de Clive Bell, marido de Vanessa Bell que, após presentear Vita com o romance O Quarto de Jacob, ela mostrou interesse em conhecer Virginia. Assim que elas se conheceram, num jantar na casa de Clive e Vanessa, Virginia anotou em seu diário que ficou “de cabeça aturdida” por ter conhecido Vita.
“A questão física do relacionamento entre Virginia e Vita que começou durante uma visita, foi tentadora, esporádica, e nem sempre bem-sucedida. Virginia jamais relatou isso a alguém, mas Vita confidenciou a Harold [seu marido] que, embora tivessem dormido juntas, nessa e em outras ocasiões subsequentes, o relacionamento entre elas era baseado principalmente em companheirismo, e numa profunda afeição.” (p. 182)
Ethel Smith
A última grande amizade de Virginia Woolf foi com Ethel Smith, uma compositora em fim de carreira. E como boa parte das amizades de Woolf, houve momentos perturbadores, porém Smith proporcionou que ela “registrasse por escrito muitos pensamentos e emoções pessoais que permaneciam inconfessados até então”. Quando elas se conheceram, Ethel falou o tempo todo sobre si mesma. Virginia registrou em seu diário que Ethel era uma “admirável velha criatura”.
No romance Os Anos, a personagem Rose Pargiter é um tributo a Ethel, que ela chamava de “rosa abrasadora”. Outra homenagem aparece também no livro Entre os Atos: a personagem Senhora La Trobe recebe descrições parecidas com o que Virginia Woolf escreveu após conhecer Ethel: “os olhos profundos e o queixo muito quadrado”.
Respostas de 2
Vita, minha Iolanda <3
rsrs
Vitolanda! rsrs