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“Os cientistas assim nos contam”: uma pequena reflexão

Interessante ler vários livros ao mesmo tempo. Interessante também as pequenas conexões que podemos fazer por meio desse gesto, até um pouco desesperador – aquela sensação de que não vai dar para ler todos os livros do mundo.

Finalizei a leitura do livro A Viagem na semana passada e ontem terminei de ler O homem que caiu na Terra. São livros totalmente diferentes, porém, há um momento no romance de Virginia Woolf que ajuda a compreender um pouco essa nossa busca incessante pela ciência (o estudo, a pesquisa), que no fundo também é uma forma de autoconhecimento.

No romance de Walter Tevis, um homem vem de outro planeta e tenta se adaptar aos humanos. Dentro desse universo de adaptação há algo mais sutil, porém muito mais importante, que é a transformação que pode acontecer quando alguém (deste planeta ou de outro rs) precisa se adaptar a um grupo, uma cultura, uma religião, etc. Tudo porque não conseguimos viver isolados, porque precisamos uns dos outros e também porque queremos ser aceitos e amados.

No romance de Virginia Woolf, há um momento em que vários personagens comparecem a uma missa e escutam atentos as palavras de um clérigo:

Assim como uma gota d’água, isolada, sozinha, apartada de outras, caindo da nuvem e entrando no grande oceano se altera, os cientistas assim nos contam, não apenas o ponto no oceano onde ela cai se altera, mas toda a miríade de gotas que, juntas, compõem o grande universo das águas, alterando assim a configuração do globo, as vidas de milhões de criaturas no oceano e, finalmente, as vidas dos homens e mulheres que ganham a vida nas praias… Tudo isso está na dimensão de uma única gota d’água, como qualquer chuvarada envia milhões para que se percam na terra… para que se percam na terra, nós dizemos, mas sabemos muito bem que os frutos da terra não podem brotar sem elas… uma maravilha comparável ao que está ao alcance de qualquer um de nós, que, soltando uma pequena palavra ou uma pequena ação no grande universo, altera-o; sim, é uma ideia solene, altera-o, para o bem e para o mal, não por um instante ou num pequeno ambiente, mas através de toda raça e por toda a eternidade. (p. 349)

Não paro de pensar que quando o homem viajou para este planeta (no livro de Walter Tevis), mesmo com desejos de dominar um novo planeta, ele se viu incapaz de concluir sua tarefa porque se envolveu com as pessoas, porque sentiu, porque percebeu que, de repente, também fazia parte disso tudo, como uma pequena gota que caiu do céu e se transformou em outras coisas e também foi transformada. Assim, quando Virginia Woolf usa o simples exemplo da gota d’água que cai no oceano – e tudo o que ela pode fazer, se ampliarmos isso aos humanos, fica fácil compreender o quanto é por meio das relações sociais e o amor que sobreviveremos.

Ampliando um pouco mais também as relações entre um livro e outro, A Viagem, de Virginia Woolf, é sobre uma viagem de navio. O homem que caiu na Terra, de Walter Tevis, é sobre um homem que viaja para o planeta Terra. Os dois livros é sobre uma viagem dentro de si mesmo.

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