Joana de Barro possui uma levada latina e uma guitarra com distorção bem suja, lideradas pela voz de timbre especialmente aveludado de Marcelo Morgado.
Com o vocal suave, com o arranjo harmonioso, com a levada ultramix e, acima de tudo, com a poesia no cerne, Joana de Barro, de cara, mas muito lentamente, vai nos levando pra um outro mundo. De cara porque, já no primeiro acorde da primeira música do EP “Mió”, se percebe que o que vem é outra coisa, uma que nos faz mais brasileiros e mais século XXI do que já fomos. Muito lentamente porque essa viajem nos leva pra esse outro mundo, em aprofundamento, e todos sabemos o quanto os aprofundamentos são vagarosos.
Os rapazes são de Campo Grande, bairro do Rio de Janeiro, na Zona Oeste da cidade, misturam, com eficácia e beleza, uma gama de sonoridades tão ampla, que seria uma grande bobagem tentar classificá-los o gênero. Na mesma vibe de grandes artistas como Céu ou Graveola, o que se pode dizer deles é que fazem música, e ponto, sem rótulo, sem tendência. Numa mesma canção, feita por Joana de Barro, cabem, com igual importância, uma levada latina e uma guitarra com distorção bem suja, lideradas pela voz de timbre especialmente aveludado de Marcelo Morgado.
As cinco canções do EP
São apenas cinco canções no EP, mas são daquelas que um ouvido ávido por novidade inspiradora não se cansa de ouvir e sempre quer mais, o repeat permanece on por horas.
Começa com “Lona e Balão”, que é a primeira a propor viajem sem retorno a quem a ouve. Com levada jazzística, tem-se a impressão, nela, de algo como uma continuidade sonora de Los Hermanos, mas a lembrança para por aqui, e não é ruim, afinal quem mais levou os ouvidos dos brasileiros a viagens modernamente românticas nos últimos tempos foram mesmo os caras dos Los Hermanos, portanto, lembrá-los seria também justificar nosso romance moderno.
“Iluminar” já traz uma batida dançante, meio baião meio funk, abrilhantado com uma guitarra em reverb quase em nível máximo. Nela a melodia, na primeira parte, é arrastada como se fosse mesmo muito difícil ir e “Iluminar”.
“Ibicuí”, ao contrário das antecedentes, vem bem, bem lenta e, talvez, mais brasileira, pois traz menos abusos de distorções e chama por uma tal “Maria” que teria virado “fumaça” nos versos cantados; nada mais brasileiro do que Maria, do que Fumaça.
“Catiara” começa, muito bem, com uma citação (na voz do próprio) Manuel de Barros: “A utilidade da palavra é realizar o sonho do vento”. É a canção mais poética do EP, onde parece que a voz, e o que nela vai, é o guia da faixa. Usando de personificações, o eu-lírico enche de imagens os versos da canção, deixando o ouvinte em estado de natureza, evocada na letra. Há também inserções de ‘viagem psicodélica’ no fim das estrofes, aproximando a temática natural, sugerida desde a citação de Manuel de Barros, das tendências musicais da contracultura presentes nas décadas de 1960 e 1970.
“Tudo ao Nada”. Levemente dançante, filosoficamente tendenciosa, volta a nos fazer mais brasileiros, pois só no brasil, como já ensinou Jorge Ben Jor, é possível, e aceitável, ser feliz, ao dançar, e ser inteligente, ao filosofar, ao mesmo tempo. A letra fala sobre a coragem de saber que nada está mesmo sob nosso controle, portanto não haveria por que fazer drama ou se regular, sendo “preciso mergulhar” nesse mar.
Em resumo, o EP é uma viagem infinita em nossa brasilidade, em nossa modernidade, em nossa amorosidade. É o EP de uma banda que promete ainda mais viagens ainda mais infinitas num futuro breve. Agradeçamos a Bruno Barbosa (violão), Gênesis Chagas (bateria e voz), Lucas Barata Machado (contrabaixo), Marcelo Morgado (voz) e Rogério Costa Jr. (guitarra e sintetizador) pelo Tour.
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