Vladimir Nabokov acredita que “um bom leitor, um leitor importante, um leitor ativo e criativo é um releitor”. Impossível não concordar com isso, uma vez que a releitura de alguns livros pode realmente ser um novo tipo de prazer, diferente daquela primeira leitura feita, quando o leitor era apenas um leitor comum. A segunda leitura permite um avanço mais significativo, pelo simples fato de já conhecer a obra e ficar à vontade para buscar outros detalhes que passaram despercebidos na primeira leitura.
A primeira leitura pode ser chamada de leitura linear, é o que afirma Vincent Jouve no livro “A leitura”. Segundo ele, o “texto é primeiramente concebido para ser lido na sua progressão temporal (basta pensar nos efeitos de ‘suspense’ do romance policial)”. Porém, se o leitor deseja saber como o texto funciona (o romance, o conto, a poesia, etc), é importante a releitura, que se torna, então, um tipo de prazer diferente da primeira leitura que funciona como um agrado, uma admiração seguida daquela satisfação por conhecer um bom livro. A releitura é importante porque esse “jogo” entre leitor e texto, apesar de charmoso respeitável e irresistível não permite usufruir de todas as camadas de uma história minimamente bem construída.
O prazer da releitura pode estar exatamente no fato de já conhecer a obra, o que torna a história “sem um antes e depois”. É o que afirma Roland Barthes, que também explica sobre o quanto um único texto pode ser plural. Essa pluralidade só conseguimos achar na releitura.
É claro que não são todos os livros que precisaríamos reler, apenas aquele que consideramos especial (o que é algo muito particular de cada um).
Releitura de Mrs. Dalloway
Eu fiz a releitura de Mrs. Dalloway (Virginia Woolf) três vezes e acredito que apenas na terceira vez consegui compreender o romance de um jeito mais satisfatório para mim. A primeira leitura ocasionou aquela satisfação por ter lido uma prosa tão poética. A segunda leitura me fez perceber que naquele texto havia diversas camadas a serem exploradas. Eu já conhecia o começo, o meio e o fim, mas a primeira leitura não me permitiu enxergar os personagens com detalhes. Era como se a primeira leitura fosse uma imagem fora de foco. Na segunda leitura consegui ajustar esse foco e a terceira leitura, até hoje quando penso no livro, me traz a sensação de que consegui atingir toda a pluralidade do texto, as linhas, as entrelinhas e tudo mais.
Releitura de Ao Farol
Uma outra releitura que quero fazer é do romance Ao Farol, também de Virginia Woolf. A obra, que li apenas uma vez, me forneceu um dos momentos mais lindos da minha vida como leitora. A tragédia que se anuncia na história, até hoje, me causa uma comoção sem tamanho. Acredito que a segunda leitura, além de compreender melhor os diálogos e as ações – que já conheço, dos personagens tão maravilhosos, vou conseguir penetrar em mais uma camada desse romance que é um dos meus preferidos da vida. Será um imenso prazer sim.
E você, leitor? Qual obra gostaria de reler?
15 motivos para ler Ao Farol (Virginia Woolf)
Respostas de 3
Jane Austen e Virginia Woolf são duas escritoras que amo!! Já fiz a releitura de todas as obras da Jane..e Realmente vi muitos detalhes que não fui capaz de ver na primeira leitura..e percebi que o amadurecimento do próprio leitor conta muito na releitura. Ter uma bagagem de referências sobre a obra é fundamental!
Oi Fran! Que saudades dos seus vídeos!!
Uma das obras que gostaria de reler é “O morro dos ventos uivantes”. Uma amiga comprou o livro e quando ela for ler, já comentei que vou reler para fazermos a leitura juntas.
Os livros que eu leio e que não me chama muita atenção procuro doar ou trocar.. Não sou de ficar com o livro encalhado só porque não curti muito.
Beijocas
Fan, parabéns pelo texto. Muito bonito. Nós que amamos a leitura, a releitura realmente é uma delícia, o que é cada vez mais difícil em um mundo com tanto para ler. Abraços. Virei seu fã.
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