Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, foi uma destacada poetisa brasileira nascida em 1889. Sua obra, marcada por uma linguagem simples e próxima do cotidiano, revela uma profunda conexão com as raízes culturais e a vida rural. Cora Coralina iniciou sua produção literária tardiamente, publicando seu primeiro livro aos 76 anos, mas rapidamente conquistou reconhecimento pelo olhar sensível e humanista com que abordava temas como a simplicidade da vida interiorana, a passagem do tempo e a força resiliente da mulher. Sua contribuição para a literatura brasileira vai além da poesia, sendo também reconhecida por seus escritos em prosa, nos quais compartilha memórias, reflexões e observações sobre a natureza e a existência.
A trajetória de Cora Coralina é marcada por uma persistência resiliente, refletindo não apenas suas experiências pessoais, mas também a representação de uma época e de uma sociedade em transformação. Sua escrita muitas vezes permeada por elementos autobiográficos, transmite uma autenticidade singular que ressoa com leitores de diferentes gerações. Cora Coralina faleceu em 1985, mas sua obra continua a ser apreciada como um testemunho poético da vida simples, da sabedoria acumulada ao longo dos anos e da capacidade de encontrar beleza na aparente simplicidade do dia a dia.
Doceira de profissão, Cora Coralina encanta até hoje com seu estilo simples e rimas singelas, fáceis de encantar e compartilhar. Confira abaixo cinco poesias de Cora Coralina para ler e se encantar.
Meu destino
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…
Considerações de Aninha
Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos.
Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Mulher da vida (Cora Coralina)
Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e ápodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.
Mulher da vida,
Minha irmã.
O Cântico da Terra (Cora Coralina)
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.
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