A Montanha Acima de Nós recebeu troféus de Melhor Direção Estrangeira na Itália, e de Melhor Direção em Curta-metragem e Melhor Direção de Fotografia em Curta-metragem na Espanha.
Do interior de São Paulo para os festivais de cinema independente no exterior. Aos 21 anos, o cineasta, roteirista e escritor Samuel Gomes Carvalho, o Samuel Carvalhé, foi premiado na Europa com um curta-metragem rodado inteiramente nas cidades de Sorocaba e São Roque.
Além do troféu de Melhor Direção Estrangeira no Milan International Film Fest, entregue no início de dezembro, na Itália, o curta “A Montanha Acima de Nós” também foi premiado no Prêmios Latino, realizado em setembro, na Espanha, como Melhor Direção em Curta-metragem e Melhor Direção de Fotografia em Curta-metragem. Por motivos financeiros, Samuel não pôde estar presente no segundo.
Lançado em novembro de 2017 em uma plataforma online de festivais, o filme foi gravado na região da Vila Augusta, em Sorocaba, e no pico do Morro do Saboó, em São Roque – para isso, foi necessária uma escalada de 1.090 metros com os equipamentos nas costas. O investimento total no trabalho foi de R$ 3.500 e logo o curta estará disponível no Youtube.
“Trabalho como cineasta há cerca de dois anos, mas ainda não é meu trabalho oficial, por enquanto sou chapeiro e espero um dia trabalhar somente com o cinema. ‘A Montanha Acima de Nós’ foi o meu primeiro filme profissional. Antes tinha rodado alguns amadores, principalmente vídeos curtos e clipes”, conta o cineasta.
Conheça 11 escritoras de Sorocaba para conhecer e prestigiar
Estrelado por Gabriel Fioravanti, Fran Bezerra, Juninho Costa e Matheus Fioravanti, além do próprio Samuel, o curta conta a história de Arthur, um jovem prodígio no Exército que é enviado para a guerra e precisa deixar para trás o pai doente e a mãe, ambos pobres.
Todo mês o protagonista envia dinheiro para o tratamento do pai até receber a notícia do falecimento dele e uma ligação da gerente do banco dizendo que todo o dinheiro que ele havia enviado não foi usado no tratamento do pai. Arthur então volta para casa tendo que lidar com os traumas da guerra e os problemas familiares.
“Amo minha cidade, nasci em Sorocaba e cresci por essas ruas. Quando veio a inspiração para o roteiro, já veio em minha mente que deveria ser gravado em Sorocaba e, com o tempo, veio o local certo para se gravar. Tenho um projeto futuro de gravar um longa-metragem na região.”
“A montanha acima de nós” pelo mundo
“A Montanha Acima de Nós” já participou de 19 festivais, como o Duemila30 e o San Mauro Film Festival, na Itália; Los Angeles Cinefest, Hollywood Screenings Film Festival, Fatherhood Image Film Festival, Newark IFF Youth Fest, Rebel Minded Festival, Venice Short Film Festival, IndieCapitol Awards, Branson International Film Festival e Detroit PTV, nos Estados Unidos; Charlottetown Film Festival e Our Voices Film Festival, no Canadá; African SIFF e Inshort Film Festival, na Nigéria; Zagreb Tourfilm Festival, na Croácia; e o Festival de Cinema de Itu, no Brasil.
No Hollywood Screenings Film Festival e no Los Angeles Cinefest, o curta-metragem sorocabano foi semifinalista. Em todas as nomeações, Samuel enfrentou mais de seis concorrentes por categoria.
Os filmes selecionados no Milan International Film Fest, que também incorpora o Festival Internacional de Cineastas do Cinema Mundial Berlin e o Festival Internacional de Cinema de Tenerife, são indicados para o World Independent Cinema Awards (Wica).
Em 2018 foram selecionados 60 curtas e longas-metragens de mais de 15 países da Europa, Ásia, Oceania e América.
Uma identidade brasileira
Para o cineasta, ser reconhecido fora do Brasil dá coragem para criar e produzir cada vez mais. “Não tem preço, são sensações mistas de gratidão. Estava no Milan, em meio a diretores do mundo inteiro, inclusive me sentei na mesa em que estava Jacky Woo, um dos maiores diretores independentes do Japão. Esse é só o começo”, acredita.
Embora acompanhe o trabalho de vários diretores, como Quentin Tarantino, Christopher Nolan e Alfred Hitchcock, Samuel tem um preferido: Juan José Campanella, o criador do clássico argentino ”O Segredo dos Teus Olhos”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “É alguém que admiro muito pelas práticas que usa em seus filmes, ainda mais por ser da América do Sul.”
“Tenho diretores preferidos, mas, com humildade, prefiro me inspirar em mim mesmo. Sei de minha capacidade e onde quero chegar. Quero que os brasileiros voltem a se orgulhar do cinema brasileiro”, ressalta.
O sorocabano já tem roteiros prontos para três projetos, além de várias outras ideias. A previsão é de começar a rodar um longa-metragem em janeiro, também em Sorocaba, sobre intolerância religiosa.
Na opinião dele, o cinema brasileiro precisa parar de consumir o que vem de fora e começar a criar seu próprio rumo com originalidade e identidade.
“Você senta no sofá com a família ou o companheiro e não vem aquela vontade de assistir a um filme nacional. Temos ótimos filmes e uma história cinematográfica rica, porém está na hora de inovar, fazer algo que ninguém nunca fez, fazer o cinema brasileiro voltar a ser grande, ser algo que as famílias sentem no sofá e tenham vontade de assistir”, completa.