Virginia Woolf e Carolina de Jesus: seus quartos, desejos e despejos

De certa forma, a história de todas as mulheres se cruzam, mesmo que pertençam a outros espaços e tempos. Por isso é urgente conhecer Virginia Woolf e Carolina de Jesus.

Para quem lê Um Teto Todo Seu (Virginia Woolf), é possível conhecer aspectos importantes e urgentes para as mulheres que desejam pensar por si mesmas e trilhar um caminho próprio, com o mínimo de interferência do patriarcado.

Para quem lê Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus), vai descobrir uma outra forma de encontrar a liberdade e a plenitude em ser mulher e livre, mesmo com as piores adversidades que a vida pode oferecer.

Assim, Virginia Woolf e Carolina de Jesus representam diferentes posições culturais, sociais e territoriais. E, por outro lado, cada uma a seu modo, deixou um registro significativo para pensarmos na luta diária das mulheres contemporâneas.

Obras essenciais

A leitura do livro Um Teto Todo Seu se torna essencial em nossos dias. É incrível poder acessar o conteúdo tão brilhante de Virginia Woolf sobre mulheres, profissões e liberdade. Porém, o seu lugar de fala é de uma mulher branca, inglesa, burguesa e o seu próprio teto contém conforto, alimento e uma boa convivência com o marido, a partir de um casamento não-convencional: ela não tinha que se preocupar com afazeres domésticos; o sexo não era prioridade, tampouco seus corpos que, em algumas ocasiões encontraram outros corpos e isso estava muito bem resolvido entre eles.

No livro Quarto de Despejo, é possível desmontar essa configuração sobre o que a mulher precisa para ter sua liberdade social e intelectual garantida, pois Carolina de Jesus relatou sua vida em uma favela no início dos anos 60, quando era uma catadora de lixo e seu teto feito de madeira e papelão. Também não havia alimento suficiente todos os dias e, diversas vezes, era preciso alimentar os filhos a si mesma. O lápis e o papel também vinham do lixo e ficavam embaixo de seu travesseiro. A figura masculina não esteve presente, pois a própria escritora registrou que a presença de um homem dentro de seu teto, arruinaria a sua profissão de escritora.

A liberdade das mulheres

Isso tudo nos leva a pensar no quanto a figura patriarcal pode ser uma barreira gigante para as mulheres de todos os lugares e de todas as classes sociais. Virginia Woolf, com todos os seus privilégios, quebrou esse padrão quando, apesar de ter escolhido o casamento (que tanto representa as convenções sociais), pode contar com uma figura masculina que não exigiu dela um comportamento padrão de dona de casa ou de mulher burguesa.

Porém, não sabemos o quanto isso realmente pode ser vivenciado, mas os fatos sobre o relacionamento dos dois, nos dá a certeza que se não fosse a liberdade que Virginia Woolf possuía para exercer sua profissão, ela fosse um outro tipo de escritora. Pois, logo no início de sua carreira, pelo sucesso de seus livros, ela pode comprar sua própria editora e, assim, publicar o que quisesse sem se preocupar em agradar editores.

Enquanto, para Carolina de Jesus, a presença do masculino em sua casa partia do viés dos padrões patriarcais da época. Segundo ela, um homem exigiria demais dela todas as noites e  assim, ela seria impedida de escrever, de exercer sua profissão quase secreta. Há também o fato de que, para ela, um homem não iria gostar de uma mulher que lesse livros.

Virginia Woolf e Carolina de Jesus: diferentes perspectivas

Cada mulher, com sua história, posição cultural e social, trilha um caminho próprio. Muitas, até hoje, não conseguiram se soltar das amarras do patriarcado. Outras tantas – e que nos inspiram – lutaram bravamente contra esse padrão que tanto as encarceraram.

Para Virginia Woolf, um teto todo dela era poder ter dinheiro e fazer as próprias escolhas. Para Carolina, o dinheiro era escasso, o teto de papelão e a fome intensa todos os dias, porém, a presença do homem era descartada porque se assim não fosse, o teto não pertenceria mais a ela e sim ao patriarcado.

Portanto, é dolorido pensar que a história de Virginia Woolf e Carolina de Jesus se entrelaçam no sentido da urgência que tiveram para tirar o fantasma do machismo em suas vidas. Porém, Virginia Woolf, a partir do dinheiro, eliminou esse fantasma quase como uma metáfora. Mas para Carolina, a ação foi realmente não permitir a entrada da figura masculina, sem metáforas, literalmente.

O patriarcado

Diariamente, o patriarcado mostra suas armas e mata as mulheres e os seus sonhos. Mata no relacionamento abusivo e mata com armas também.

Escritoras como Virginia Woolf e Carolina de Jesus nos mostram que não há outro caminho a não ser a conquista de sua liberdade que ainda mora nas mãos do machismo.

Por elas e tantas outras, é possível criarmos o nosso próprio teto, seja de papelão ou de qualquer outra forma. De fato, o resultado é poder libertar vozes e nos transformar em quem realmente merecemos e podemos ser.

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