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Mário de Andrade: “A morada do coração partido”

Muito se ouve de Macunaíma e Modernismo, mas Mário de Andrade fez ainda mais. Foi escritor, poeta, cronista, ensaísta, crítico das artes, músico, professor de música, pesquisador, folclorista, fotógrafo, ativista cultural e gestor público. Deixou seu legado em todas essas áreas, tornando-se um dos mais importantes intelectuais brasileiros do século XX e um dos fundadores do Modernismo no Brasil. Em 9 de outubro, comemoramos seu aniversário.

Trajetória

Nascido em 1893, sua paixão pelas artes se iniciou na juventude, quando começou a aprender piano. Em carta de 1940 a sua amiga e ex-aluna de piano, Oneyda Alvarenga – era um verdadeiro aficionado pela correspondência escrita –, Mário reflete:

“Que mistério, que intuição, que anjo-da-guarda, Oneida, quando aos 16 anos e muito resolvi me dedicar à música, me fez concluir instantaneamente que a música não existe, o que existia era a Arte?”.

Graduou-se professor de Piano e Dicção em 1917 e fez dessa a sua principal fonte de renda. Recebia seus alunos em casa, em uma sala destinada para isso – a sala do piano. O instrumento original segue no local onde Mário residiu como parte da exposição permanente Morada do Coração Perdido. No mesmo cômodo, é possível ver as estantes com banquetas embutidas que ele próprio desenhou.

A Casa Mário de Andrade

Antiga residência se tornou um museu de sua vida e obra, apresentando aos visitantes suas outras 299, 349 facetas

Motivado por revistas alemãs de arte e decoração, projetou diversos de seus móveis, os quais mandou executar no Liceu de Artes e Ofícios. Dentre eles, a mobília de seu estúdio e as suas estantes, dispersas em vários aposentos devido à grande quantidade de livros na sua coleção. Alguns destes móveis estão expostos na casa da Rua Lopes Chaves, para onde Mário de Andrade se mudou com a família em 1921 e viveu até sua morte, em 1945.

Entre o seu falecimento e a transformação da casa em museu, ela teve outros funcionamentos, não necessariamente relacionados ao escritor. Foi reaberta ao público na celebração do 70º aniversário de sua morte, e nesta ocasião se inaugurou a exposição de longa duração com curadoria de Carlos Augusto Calil, A Morada do Coração Perdido. A mostra inclui móveis originais da casa, objetos pessoais de Mário – entre eles, os famosos óculos redondos –, diversas reproduções de documentos, fotografias e vídeos.

No térreo da casa fica a sala do piano em que Mário lecionava, sua sala de estudos e o salão principal onde ele recebia seus amigos, célebres modernistas. No andar de cima, os antigos quartos da família e o estúdio de trabalho do poeta recebem exposições temporárias. Assim como o porão, que antes abrigava livros, marginálias e periódicos. A antiga residência passou a integrar a Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo em 2018.

Conheça o site 

Um lugar da Educação e da Cultura

A Casa Mário de Andrade oferece visitas educativas gratuitas, podendo ser agendadas ou espontâneas. A proposta do museu é fundamentada na polimatia de Mário e a sua diversificada programação cultural inclui atividades nas várias áreas pelas quais Mário se aventurou: literatura, música, artes visuais, cinema, teatro e gestão e políticas culturais.

Apesar de pouco sabido, Mário de Andrade teve notória participação no serviço público. Foi Diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo entre 1935 e 38, se tornando o primeiro Secretário de Cultura do Brasil; e colaborador do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do governo federal (SPHAN), tendo redigido também o seu anteprojeto de criação, que não pôde ser realizado por limitações políticas e financeiras.

A busca de uma identidade nacional

Muito de seu trabalho e pesquisa foi voltado à busca de uma identidade nacional. Mário realizou diversas expedições etnográficas pelo Brasil, nas quais explorou a fotografia. Viajou pelas cidades históricas de Minas, pela região amazônica e pelo Nordeste brasileiro, registrando as paisagens, a arquitetura e a população dos locais visitados. Lançou a sua obra mais aclamada, Macunaíma: O herói sem nenhum caráter, fundamentando-a nas informações que coletou nessas excursões.

Sua contribuição escrita é vasta. Iniciou a carreira de crítico no jornal A Gazeta, para o qual escrevia sobre música, e colaborou em revistas como A Cigarra, O Echo e Papel e Tinta. Escreveu para o Jornal do Comércio a série Mestres do Passado em 1921 e redigiu para a revista modernista Klaxon em 1922. A maior parte de sua produção, entre críticas, contos, crônicas e poemas, foi publicada no jornal Diário Nacional, para o qual escreveu até 1932.

O movimento modernista

A participação de Mário no movimento modernista é, talvez, o seu feito mais conhecido. Ainda não célebre, mas já engajado no meio literário e musical, marcou presença no banquete do Trianon em que foi lançado o Modernismo, em 1921. Foi apresentado ao público pelo artigo “Meu poeta futurista”, que Oswald de Andrade publicou no mesmo ano. Daí nasceu o famoso Grupo dos Cinco, com Mário, Oswald, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia, frequentadores assíduos da casa na Rua Lopes Chaves.

A Semana de Arte Moderna de 1922, na organização da qual Mário trabalhou com Anita e Oswald, se destinava a divulgar as criações do grupo modernista de São Paulo. Além de uma exposição de Malfatti e de outros artistas do movimento, durante os sete dias foram realizadas leituras e palestras sobre arte, música e literatura. Na ocasião, Mário apresentou o esboço do ensaio que viria a publicar três anos depois, A Escrava que não é Isaura, que o firma como um dos principais teóricos do movimento modernista. Também em 1922, o poeta lançou seu segundo livro, Paulicéia Desvairada, um marco na literatura moderna brasileira.

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