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A vida invisível (Karim Aïnouz, 2019) e a impossibilidade de ocultar a existência

A vida invisível, baseado na obra de Martha Batalha, chega aos cinemas para contar a história de duas irmãs separadas pelo machismo

Este é mais um post totalmente emocionado e, provavelmente, bem pouco técnico. Isso por se tratar de uma dica de algo que eu vi há alguns dias, sem um caderno nas mãos, com base em tudo o que senti e trago guardado na memória, em todas as emoções daquela pré-estreia lotada de pessoas que, assim como eu, saíram do cinema aos prantos.

A vida invisível, filme do diretor Karim Aïnouz, que ganha as telonas do país oficialmente hoje (21/11), é adaptação do romance A vida invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha. Roteirizado pelo próprio diretor, além de Murilo Hauser e Inés Bortagaray, o longa acompanha a vida e os desencontros das irmãs Guida e Eurídice. 

Rio de Janeiro, 1950. Eurídice, 18, e Guida, 20, são duas irmãs inseparáveis que moram com os pais em um lar conservador. Ambas tem sonhos: Eurídice o de se tornar uma pianista profissional e Guida o de viver uma grande história de amor. Mas elas acabam sendo separadas e forçadas a viver distantes uma da outra. Sozinhas, elas irão lutar para tomar as rédeas dos seus destinos, enquanto nunca desistem de se reencontrar.

Além da invisibilidade

Escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de 2020, o filme fala sobre dores – sejam elas físicas ou mentais, sobre corpos e seus fluidos – mostrados em sua forma mais crua, sobre silenciamentos e perdas, e sobre a saudade que sobrevive em silêncios. Ele narra, acima de tudo, as engrenagens que mantém o funcionamento de uma sociedade de comemora as décadas de um casamento de sucesso, mesmo que, para isso, precise fechar os olhos para estupros, mentiras, agressões e manipulações. 

Autodenominado um “melodrama tropical”, A vida Invisível retrata o que existe no calor de um Rio de Janeiro que, como Ana vê ao observar o Jardim Botânico, “era tão rico que apodrecia” (trecho retirado do conto Amor, de Clarice Lispector). Entre as árvores e o mar, entre sorrisos e comemorações, percebe-se que a crueza do mundo é tranquila, vê-se que a morte não é aquilo que pensávamos. Nas sombras da aparente funcionalidade de um núcleo familiar, observamos as farsas e as amarras de vidas que existem apenas pelo papel que devem cumprir. Nas entrelinhas das alegrias da maternidade, contemplamos planos que nunca serão realidades pelo simples nascer em um corpo onde nem a aparente loucura é vista como empecilho para o gerar.

Uma presença rápida e impactante de Fernanda Montenegro

Vale destacar, apesar da minha pouca bagagem teórica de entusiasta da sétima arte, que Guida e Eurídice ganham vida através das atuações brilhantes de Carol Duarte e Julia Stockler. E, também, que Fernanda Montenegro, com menos de cinco minutos de cena, consegue fazer ressoar pela sala as fungadas daqueles que já não conseguem mais disfarçar ou segurar o choro.

Para mais informações sobre o livro e o processo de adaptação, recomendo o episódio 87 do podcast da Companhia das Letras.

Conheça o canal Livro&Café:

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