A obra”Tratado sobre a Tolerância”, de Voltaire, defendeu vigorosamente a liberdade religiosa e a separação entre igreja e estado.
Voltaire, cujo nome real era François-Marie Arouet (1694-1778), foi um dos mais influentes filósofos e escritores do Iluminismo francês. Sua obra abrange uma ampla gama de tópicos, incluindo filosofia, política, religião e literatura.
No contexto do livro “Tratado sobre a Tolerância”, Voltaire defendeu vigorosamente a liberdade religiosa e a separação entre igreja e estado. Este tratado, publicado em 1763, foi uma resposta às injustiças sofridas pelos protestantes franceses, especialmente após o caso Calas, no qual um protestante foi injustamente executado por assassinato. Voltaire usou essa obra para argumentar contra a intolerância religiosa, a perseguição religiosa e a superstição, promovendo a ideia de que a tolerância era essencial para uma sociedade justa e harmoniosa. Seu apelo à razão e à liberdade religiosa teve um impacto duradouro na história do pensamento político e filosófico, influenciando a evolução das democracias liberais e dos direitos humanos em todo o mundo.
Em outubro de 1761, Marc-Antoine, filho de Jean Calas, foi encontrado morto. Sem sinais de violência, todos os indícios apontavam para o suicídio por enforcamento. Entretanto, Calas era um protestante em uma França oficialmente católica. A intolerância religiosa levou a um julgamento precipitado, à prisão e ao banimento de sua família e à tortura e morte de Jean Calas. Impondo-se contra essa barbárie e em defesa da justiça à memória e à viúva de Calas, Voltaire publicou em 1763 o Tratado sobre a Tolerância. Em uma época ainda marcada pela guerra entre as religiões francesas, o filósofo ataca o fanatismo religioso e prega a aceitação e o respeito ao próximo. Registro de um dos processos jurídicos mais famosos da história e uma peça filosófica das mais brilhantes, Tratado sobre a Tolerância é um texto que continua necessário em nossos dias.
Confira um trecho do livro “Tratado sobre a tolerância”:
Não é mais aos homens que me dirijo. É a você, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos: Que os erros agarrados à nossa natureza não sejam motivo de nossas calamidades. Você não nos deu coração para nos odiarmos, nem mãos para nos enforcarmos. Faça com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira.
Que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos corpos, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas e nossas opiniões insensatas, não sejam sinais de ódio e perseguição.
Que aqueles que acendem velas em pleno dia para celebrá-lo, suportem os que se contentam com a luz do sol.
Que os que cobrem suas roupas com um manto branco para dizer que é preciso amá-lo, não detestem os que dizem a mesma coisa sob um manto negro.
Que aqueles que dominam uma pequena parte desse mundo, e que possuem algum dinheiro, desfrutem sem orgulho do que chamam poder e riqueza e que os outros não os vejam com inveja, mesmo porque, Você sabe que não há nessas vaidades nem o que invejar nem do que se orgulhar.
Que eles tenham horror à tirania exercida sobre as almas, como também execrem os que exploram a força do trabalho. Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos violentemos em nome da paz.
Que possam todos os homens se lembrar que são irmãos!’
Voltaire
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