Todos já enfrentaram o problema dos cupins. Aquela poeira grossa saindo da madeira é um sinal certo de destruição iminente. Mas, ao preparar este artigo, realizei uma pesquisa no Google sobre cupins e descobri conexões com a literatura, especialmente com o livro “Cupim”, uma novela de Layla Martínez, lançada em 2021.
O Mundo dos Cupins
Existem mais de 2.000 espécies de cupins catalogadas em todo o mundo, conhecidas por causarem prejuízos econômicos ao destruírem objetos de madeira e outros materiais à base de celulose. Assim como outros insetos, os cupins são animais sociais, com formas jovens e adultas. Os adultos se dividem em dois grupos: sexuados alados (machos) e as fêmeas, cuja função é espalhar a colônia no exterior.
A reprodução dos cupins acontece com a revoada dos machos alados, que saem da colônia em busca de ambientes favoráveis à criação de uma nova sociedade. Após a formação de um casal entre um macho alado e uma fêmea, os cupins perdem suas asas e são denominados dealados. No centro da colônia, está a rainha cupim, cuja função primordial é a reprodução.
(Fonte)
A Literatura e os Cupins
No livro “Cupim”, de Leyla Martínez, encontramos uma história que mistura terror, drama e uma profunda análise social. A narrativa é conduzida por duas personagens-narradoras: uma avó e sua neta, que se revezam em dez capítulos repletos de suspense e mistério. A trama gira em torno de um evento tão sério que atrai jornalistas para a casa onde vivem.
Esta obra de terror, lançada em 2021, utiliza elementos clássicos do gênero, como uma casa mal-assombrada. No entanto, é a construção detalhada dessa casa – cheia de vida, mistérios, fantasmas, santos e armários sinistros – que confere à história sua originalidade. As duas mulheres protagonistas narram suas vidas antes e depois do evento principal, revelando como a casa, impregnada de cupins, simboliza também o ódio, a raiva e a ira que crescem dentro delas.
“Família é isso, um lugar onde lhe dão teto e comida em troca de você ficar presa com um punhado de vivos e outros de mortos. Todas as famílias têm seus mortos embaixo das camas, só que nós vemos os nossos, dizia a minha mãe.”
p. 51
A narrativa faz com que o leitor compreenda e, de certa forma, sinta prazer com as ações dessas mulheres. Ninguém sai imune ao impacto delas, e nem elas mesmas escapam da influência da casa.
Contexto Histórico e Social
À medida que a história se desenrola, a ambientação durante a Guerra Civil Espanhola e a ditadura franquista torna-se evidente, representando outro tipo de cupim: a luta de classes. A violência de gênero e as formas de resistência das mulheres também são temas centrais, com a avó sendo retratada como uma figura forte e mística, quase uma bruxa, capaz de retaliar aqueles que ameaçam sua família.
O ponto culminante da narrativa é a revelação do motivo pelo qual os jornalistas estão na casa. Nesse momento, o leitor já estará profundamente envolvido na vida dessas mulheres e na complexidade de suas existências. A ancestralidade e a força familiar passada de geração em geração são temas entrelaçados na história, que mostra como a repressão pode levar à destruição total.
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Crítica Social e Linguística
Layla Martínez também faz uma crítica sutil à linguagem, destacando como a fala, dentro dos padrões linguísticos, pode representar classes sociais e influenciar a seriedade com que uma voz é levada em consideração.
“Cupim” é uma leitura rápida, um livro para ser devorado, que faz o leitor sentir-se, de certa forma, como um cupim dentro da história.
Esse é o encanto e a profundidade de “Cupim”, uma novela que vai muito além do terror tradicional, explorando as camadas da sociedade, da família e da própria psique humana.