Katherine Mansfield (1888—1923) começou sua vida literária no colégio, onde publicou alguns contos no jornal da escola. Desde pequena ela possuía uma curiosidade excessiva para a escrita, causando boa impressão aos professores. Assim que terminou seus estudos, pediu aos pais que a deixassem viver de literatura em Londres, mesmo com pouco dinheiro, pois ela queria se dedicar exclusivamente à escrita. Nesse período ela já escrevia um diário, mas o livro “Diário e Cartas”, que registra toda a sua produção despretensiosa de adolescente, foi jogado no lixo por ela mesma considerar tudo como “enormes diários lamentosos”.
Em Diário e Cartas, como o próprio nome sugere, contém o diário e suas correspondências e foi organizado por Julieta Cupertino com base em três publicações inglesas.
A princípio o livro já me ganhou, pois a organizadora (e tradutora) do livro não tentou biografar Katherine Mansfield, diferente, por exemplo, com o que foi feito no livro “A Casa de Carlyle e Outros Esboços” que é vendido como um livro de Virginia Woolf, porém, seu miolo é composto 80% de textos do organizador. Ponto para Julieta Cupertino!
O diário e as cartas são datados desde 1907 até 1922. Ali fica registrado o seu mundo e a convivência com os amigos e os intelectuais da época: Murry (o marido), Ida Baker, Lady Ottoline Morrel, Beatrice Campbell, Dorothy Brett, Virginia Woolf, Estelle Rice, Condessa Russel entre outros.
Contos em que as palavras não sobram
Katherine Mansfield é poderosa no quesito conto. Em seu diário ela diz que um bom conto é aquele onde palavras não sobram. E, realmente, os contos de Katherine são assim: palavras e palavras formando uma bela história – nada falta, nada sobra. Ou seja, ela é de uma precisão absurda! E isso, talvez, seja um dom natural, pois seus diários também são assim: precisos, apesar de simples e despretensiosos. O mesmo posso dizer das cartas: são todas bonitas, alegres, espirituosas e engraçadas, mas também há tristeza, devido à sua doença.
Katherine Mansfield morreu de tuberculose aos 34 anos e conseguiu apenas produzir contos. Se não fosse a morte, ela escreveria também romances que seriam, sem dúvidas, excelentes. Em seu diário ela registra essa vontade: “me voltar de fato para o meu romance Karori“.
A experiência em conhecer um pouco mais de Katherine Mansfield
Ao terminar a leitura do livro “Diário e Cartas”, a sensação é de ter conhecido uma escritora que amava a vida, que foi feliz dentro de suas limitações, entretanto, que construiu uma muralha para se concentrar e produzir a boa literatura perante o convívio com a sua terrível doença.
Por fim, pouco tempo antes de morrer, ela deixou um testamento e uma carta para Murry onde informava que todos os seus escritos pertenciam ao marido e que ele poderia escolher o que deveria ser publicado ou não. A carta é bonita, singela, como ela. Quero terminar este post assim:
Para J. M. Murry
7 de agosto de 1922Há dias tenho estado a ponto de escrever esta carta. Meu coração tem se comportado de maneira tão estranha, que não posso imaginar que esteja valendo alguma coisa. Assim, como eu odiaria deixá-lo sem saber o que fazer, escreverei o que me vier à cabeça. Todos os meus originais – eu deixo para que você faça com eles o que quiser. Um dia qualquer, leia-os, e destrua tudo o que não for usar. Por favor, destrua as cartas que não quiser conservar, e todos os diários. Você sabe o quanto eu gosto de ordem. Faça uma boa faxina, Bogie, e deixe tudo limpo – viu?
Os livros são seus, naturalmente. O dinheiro, também. Na verdade, meu querido, mais querido, deixo tudo para você, para aquele ser secreto cujos lábios beijo esta manhã. A despeito de tudo, como fomos felizes! Sinto que nenhum casal de amantes pisou a terra com felicidade maior – apesar de tudo.
Adeus – meu inestimável amor.
Para todo o sempre, sou sua
Wig
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Ao terminar a leitura do livro “Diário e Cartas”, a sensação é de ter conhecido uma escritora que amava a vida, que foi feliz dentro de suas limitações, entretanto, que construiu uma muralha para se concentrar e produzir a boa literatura perante o convívio com a sua terrível doença.
Respostas de 3
Adoro livros assim que emocionam. As cartas de despedida sempre sao tristes e belas.
Mais um pra minha lista! 🙂
Adoro-a tanto, tanto.
E assim como as Cartas de Clarice Lispector ( que comprou Bliss com o primeiro salario) Katherine é puro lirismo.
katherine,é tudo…é lirismo,emoção,razão,desordem…seus diarios e cartas são fantasticos