O menino no espelho – livro e filme

O menino no espelho reúne histórias sobre a infância do escritor. As aventuras de um garoto mineiro que se deixava levar pela imaginação e vontade de viver os encantos da infância.

O que você quer ser quando crescer?

Acredito que na infância, a gente escute essa pergunta muitas vezes e é quase uma obrigação ter uma resposta antes dos 16 anos. Engraçado é que só descobri o que queria ser com quase 18 anos. Não queria saber de ser adulto antes disso, queria saber era de ser criança.

Talvez venha daí o meu amor por livros infantis, Manoel de Barros, Alice no País das Maravilhas, Peter Pan e a curiosidade imensa de conhecer a história do menino no espelho.

E foi como se Fernando Sabino pegasse na minha mão e falasse: – vem cá, deixa eu te contar todas as aventuras que vivi quando criança.

O menino no espelho, livro publicado em 1982 (Editora Record) por Fernando Sabino (1923-2004), reúne histórias sobre a infância do escritor. As aventuras de um garoto mineiro que se deixava levar pela imaginação e vontade de viver os encantos da infância. São lembranças algumas vividas, outras apenas imaginadas.

5 livros de Fernando Sabino para ler e se encantar

Sabino era um garoto esperto e é bom conhecer suas lembranças do tempo em que as ruas eram mais seguras, não tinha internet e as crianças se reuniam para brincar no quintal ou na casa da árvore. É para ler com um sorriso no canto da boca e se divertir com o menino que, como a maioria das crianças, gostaria de ter uma cópia para delegar todas as tarefas chatas do dia, enquanto o original se ocupa apenas da diversão. Ou simplesmente, alguém com gostos semelhantes para não ter confusão na hora da brincadeira. 

“Por que diabo eu queria encontrar alguém igual a mim? É o que eu ficava pensando, ao olhar a minha própria figura refletida no espelho. Eu não achava graça nenhuma em mim, confesso que desde então eu já não era o meu tipo. Mas era comigo mesmo que eu tinha de viver e, neste caso, um menino feito aquele ali diante de mim é que eu gostaria de encontrar, sem tirar nem pôr. Um menino que, em tudo e por tudo, fosse absolutamente igual a mim – porque do contrário não tinha graça. Que falasse como eu, se vestisse como eu, andasse como eu, pensasse e sentisse como eu. Juntos, nós dois seríamos capazes de tudo, das melhores brincadeiras, e até mesmo conquistar o mundo.” – pag 130

O livro tem capítulos curtos, cada um com uma aventura do menino Fernando. São contos divertidos, cheios de peraltices. Sem dúvidas, nos faz lembrar do tempo de criança. Afinal, quem nunca falou na língua do P, conversou com um animal ou teve um clube secreto? 

O menino no espelho – Filme

O filme O menino no espelho (direção de Guilherme Fiúza Zenha, 2014) dará uma atenção especial a um dos episódios da infância do Fernando Sabino contado no livro – o dia em que ele descobre que seu reflexo preso no espelho pode viver ao seu lado no mundo real.

Durante quase todo filme vamos acompanhar as peraltices de Fernando ( Lino Facioli – o Robin Arryn de Game of Thrones), garoto de 10 anos que vive em Belo Horizonte, ao lado de seus amigos e bichos de estimação no tempo em que brincar no quintal ou na casa da árvore eram essenciais. Até que um dia Fernando se cansou de ter que viver o lado chato da vida e desejou ter um outro igualzinho a ele para ir a escola e fazer o dever de casa, tomar remédios, levar broncas. E o seu desejo se realiza.

O filme preencheu o vazio deixado pela leitura do livro. Eu queria saber um pouco mais da aventura do Menino no espelho e é justamente isso que o filme nos traz. Como seria viver com seu reflexo? Será que ele vai continuar a viver apenas o lado chato da vida?

O elenco é bom. Além do Facioli, de nomes conhecidos, temos o Mateus Solano (Domingos – pai),  Regiane Alves (Odete – mãe), Ricardo Blat (Major Pape Faria) e Gisele Fróes (Risoleta – professora).

Assim como no livro, é uma viagem nostálgica para uma infância vivida com os pés no fundo do quintal e de cima de uma árvore. A cena em que Fernando conversa com sua amiga, Mariana, por um telefone feito com lata e barbante me fez lembrar da minha infância no interior da Bahia.

O filme é uma bela homenagem ao Fernando Sabino e reafirma a ideia de que ser criança é ser livre e feliz.

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