Alison Bechdel revelou que a ideia veio de uma amiga, Liz Wallace, que se inspirou no ensaio “Um Teto Todo Seu”, de Virginia Woolf.
Mulheres conversam entre si sobre uma gigantesca variedade de assuntos, porém o que está nos filmes e nos livros (de ficção e não-ficção) não mostram as mulheres como um todo. Mulheres conversam sobre homens, é o que dizem os filmes e os livros. Você já reparou nisso?
Numa história em quadrinhos chamada “Dykes to Watch Out For”, da cartunista norte-americana Alison Bechdel, uma personagem feminina diz que ela só assiste a um filme se ele satisfazer os seguintes requisitos:
1.) Deve ter pelo menos duas mulheres
2.) Elas conversam uma com a outra
3.) Sobre alguma coisa que não seja um homem
E assim “nasceu” o Teste Bechdel, aplicado cada vez mais por interessados no tema de igualdade de gênero e feminismo, bem como leitores e cinéfilos mais atentos.
Alison Bechdel revelou que a ideia para o que se tornaria um teste com o seu próprio nome veio de uma amiga, parceira de treinos de Karate, Liz Wallace, que se inspirou no ensaio “Um Teto Todo Seu”, de Virginia Woolf para chegar aos 3 itens do teste:
Todas essas relações entre mulheres, pensei, recordando rapidamente a esplêndida galeria de personagens femininas, são simples demais. Muita coisa foi deixada de fora, sem ser experimentada. E tentei recordar-me de algum caso, no curso de minha leitura, em que duas mulheres fossem representadas como amigas. […] Vez por outra, são mães e filhas. Mas, quase sem exceção, elas são mostradas em suas relações com os homens. Era estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção, até a época de Jane Austen, eram não apenas vistas pelo outro sexo, como também vistas somente em relação ao outro sexo. E que parcela mínima da vida de uma mulher é isso!
No ensaio, Virginia Woolf faz diversas comparações com a literatura feita por homens e mulheres, a premissa do Teste Bechdel se faz presente e também causa outras perguntas no leitor.
É importante registrar que a resposta para o teste não significa prontamente um preconceito, caso não haja as duas mulheres conversando sobre um tema diferente, pois no caso da ficção, o autor está livre para usar personagens conforme o cenário, a história, a ideia, a época que ele quer demonstrar em sua obra e outros quesitos. Mas por outro lado, é importante a reflexão sobre os motivos que levou o autor a querer contar aquela história, sobre aquele ponto de vista, com aqueles personagens.
O mundo é patriarcal desde os primeiros registros que temos sobre ele. As mulheres ficam (hoje menos) à berlinda da história da humanidade que ela também faz parte. Foram os homens os guerreiros, os reis, bandidos e mocinhos. A mulher, como coadjuvante de uma história, aparecia apenas para dar ênfase ao protagonista, no caso o homem. E então o que está escrito nos livros, nas artes em geral desde que o mundo é mundo, representa o olhar masculino sobre a mulher. Como bem disse Virginia Woolf, “a mulher representada somente em relação ao outro sexo” e pelo outro sexo.
Ao aplicarmos o Teste Bechdel e encontrarmos no mínimo 2 mulheres conversando entre si sobre assuntos diferentes do tema “homens”, significa que houve uma mudança positiva no comportamento da humanidade, mas isso também não garante que a obra em si não seja preconceituosa e ou machista.
O Teste Bechdel é uma ferramenta a mais para ser usada, que pode colaborar para o pensamento fugir do lugar comum, alçar outros voos e olhar diferente para as mulheres e também para outros grupos sociais, gêneros, raças, religiões, etc.
Onde comprar Um Teto Todo Seu (Virginia Woolf): Amazon