Livro II, a Queda, é sobre Jean V. e a relação dele com o Bispo Bienvenu. Sabemos que os dois funcionam como personagens opostos. Um que faz apenas o bem; outro que está totalmente envolvido em atos ilícitos, por ter roubado um pão, ficou mais de 15 anos na cadeia e assim se transformou em um homem amargo, frio, sem luz. Mas, como afirma o texto, há algo de bom escondido nas entranhas de Jean Valjean, pois ele “não era de natureza perversa” (p. 141). E assim, por acreditar que em tudo existe algo bom, o Bispo deixa Jean Valjean entrar em sua casa, lhe dá um lugar para dormir e comida, mesmo sabendo de seu passado criminoso. Ele acredita que a casa onde mora não lhe pertence, tampouco os objetos que lá se encontram.
O pior acontece, Jean rouba objetos de prata da casa do Bispo e vai embora, mas retorna no mesmo dia, com dois policiais acusando-o do roubo, mas o Bispo informa que não foi um roubo, pois os objetos que J. Valjean levou, foram dados como um presente para ele.
Neste ponto, a vida de J. Valjean parece possível de ganhar um novo caminho. Pela primeira vez, ele percebe que alguém olhou diferente para a sua vida, de um jeito que nem mesmo ele olhava mais. A luz e a escuridão se encontram. O Bispo dando-lhe uma nova chance e ele totalmente sem saber o que fazer com o que lhe foi concedido. Anteriormente sabemos que desde que foi preso por conta do roubo dos pães, Jean Valjean não derrubava uma lágrima, mas depois do episódio com o Bispo, houve um momento em que ele fez mal para uma criança, tentou concertar a situação, mas não deu certo. E assim, ele chora:
“Jean Valjean chorou longamente. Chorou lágrimas quentes, soluçando, com mais fraqueza que uma mulher, mais amedrontado que uma criança” (p. 172 )
P.S.: Pretendo não problematizar a frase “com mais fraqueza que uma mulher”, mas se não fosse por essa imagem de que mulher é fraca, eu realmente teria me emocionado neste momento da história.
Livro III – Durante o ano de 1817
É neste capítulo que aparece pela primeira vez o nome “Fantine”, personagem que dá título a esta primeira parte do livro.
Antes de Fantine “aparecer”, há um longo relato sobre fatos da história da França em 1817, dados objetivos intercalados com a vida cotidiana de algumas pessoas. Segundo o narrador isso se faz necessário pois:
“Não existem pequenos fatos na história, como não existem pequenas folhas na vegetação – são úteis. As feições dos anos é que compõem a fisionomia dos séculos” (p.189)
Vamos conhecer então a história de amor (e tragédia) de Fantine. Ela, uma trabalhadora, vê sua vida se transformar ao se apaixonar por Tholomyés, um rapaz rico que por lá estava. Fantine totalmente apaixonada, mas ele não.
Entre amigos, surge a brincadeira dele fazer uma surpresa para ela, mas por fim a tal surpresa, uma “boa peça” era o abandono definitivo. Tholomyés e seus amigos abandonam Fantine e suas amigas, explicando, por uma carta, que não poderiam continuar um relacionamento com mulheres pobres. E assim, completando a difícil vida de Fantine, ela tem uma filha de Tholomyés.
Livro IV Confiar é, por vezes, abandonar
Ano 1818
Estar grávida e não ter um marido era um grande problema para a época. Ela, que almejava uma vida feliz, vê tudo desmoronar por conta do preconceito das pessoas, que é algo tão assustador!
“Dez meses já eram decorridos desde aquela boa peça que lhe haviam pregado” (p. 228), Fantine, sozinha, triste, sem trabalho, pede para um casal, donos de um albergue, para cuidar de sua filha, pois ela acredita que, voltando para a sua terra Natal, irá conseguir um trabalho e então, com dinheiro, poderá ficar com a sua filha novamente.
Mas fica evidente que o casal Thérnardier não são pessoas do bem, porém, Cosette, a filha de Fantine, já se encontra em sua nova casa e a mãe, como informado por uma outra vizinha, em outra rua, chorando pela tragédia de sua vida.
Saber sobre a difícil vida de Cosette é para deixar qualquer pessoa com o coração na mão, pois, sabemos, infelizmente, que a cruel realidade desta criança, representa uma realidade que ainda existe no mundo:
“Alimentavam-na com os restos dos outros pratos, pouco melhor que o cão, pouco pior que o gato. O gato e o cão, afinal, eram seus comensais costumeiros. Cosette comia com eles, debaixo da mesa…” (p. 238)
“A injustiça tornara-a arisca, e a miséria a deformara. Restavam-lhe somente os lindos olhos que davam pena, porque, grandes como eram, deixavam entrever maior quantidade de tristeza.
Era doloroso ver, no inverno, essa pobre criança, que não tinha ainda seis anos, tiritando de frio, coberta de farrapos, varrendo a rua antes de o sol sair, com uma vassoura enorme em suas pequenins mãos vermelhas e os olhos cheios de lágrimas” (p. 241)
Livro V – A decadência
Fantine chega a Motreuil-sur-Mer, sua terra natal. “Enquanto Fantine decaía de miséria em miséria, sua cidade progredia sempre mais”.
Dois novos personagens:
Madeleine, um homem que se torna um empresário loca, que ajuda muito a cidade e as pessoas, empregando todos aqueles que desejam trabalhar em suas fábricas. Se no início do livro tínhamos o Bispo como personagem representando a bondade do ser humano, agora temos o empresário Madeleine.
Javert, era da polícia. Extremamente rígido e cumpridor do seu dever com o Estado, este que valoriza a riqueza e despreza a pobreza.
Fantine, então, vai se transformando: de uma pobre mulher trabalhadora para uma mulher miserável, sem dentes, sem cabelo, prostituta. Tudo porque em sua terra natal, as pessoas descobriram que ela era mãe e assim a condenaram à miséria.
Fantine e Jean Valjean
Impossível não comparar Fantine com Jean Valjean. Ele, que no final das primeiras 150 páginas de leitura sofreu uma difícil tempestade de sentimentos em relação ao mundo que o cercava – a dúvida sobre ser bom ou mal, a partir da generosidade do Bispo; ela, Fantine, se vê em uma encruzilhada parecida, pois acreditava que Madeleine era o causador de toda a sua desgraça, por fim é ele que a tira da terrível realidade que se encontra.
Agora, com 300 páginas lidas, penso no tamanho da genialidade de Victor Hugo. Cada personagem que ele apresenta, de um modo tão calmo e interessante, leva o leitor para o caminho da compreensão, de se sentir no lugar do outro, de ser mais tolerante. Dizem que leitores são pessoas assim, que conseguem se colocar no lugar do outro. Ao ler Os miseráveis a gente se coloca em várias posições, pois aqui dentro, há um pouco da miséria, mas também a fartura. Em um mesmo dia tantas coisas acontecem, tantos pensamentos invadem a nossa cabeça, que somos de tudo um pouco. Então, esses personagens de Victor Hugo representam toda a miséria do ser humano, mas ele consegue também revelar a riqueza da alma. Personagens como o Bispo e Madeleine; o momento do choro de Jean Valjean; Fantine que faz tudo por sua filha – mostram que de alguma forma, a alma pode manter-se iluminada.
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Respostas de 6
Olá! Estou acompanhando seu diário de leitura porque quero ler esse livro, talvez em 2017, pois este ano já tenho uma lista enorme para ler. Seu diário está me fazendo ter muita vontade de ler o livro e me causa paixão pelos personagens. Estou amando seus relatos. Sobre a condição em que era retratada a mulher, todo livro antigo demonstra esta fragilidade, alguns casos nos causa raiva, mas dependendo da genialidade do texto nem ficamos tanto nesta problemática. Parabéns pelo projeto. Abraço!
Brilhante apresentação!
Adorando os comentários! Tô muito atrasada na leitura, mas vi os vários filmes… ?
Muito obrigada, Maria!
Ler Os Miseráveis realmente está sendo muito especial. Eu não imaginei que a obra seria tão maravilhosa!
Sim, a vida das mulheres é muito sofrida, mas como o escritor é brilhante, ele consegue mostrar a verdade – tão dura, da vida de algumas mulheres. É um livro essencial na vida de qualquer leitor! 🙂
Bjos!!
Obrigada!
Não tem problema ficar atrasada! Leia no seu ritmo, no seu tempo… vai dar tudo certo!
Eu cheguei a assitir o último musical lançado em filme, mas não lembro muita coisa então, ler o livro, é como se fosse o meu primeiro contato com a obra. Estou amando!! 🙂