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Hibisco Roxo (Chimamanda Ngozi Adichie): o poder destruidor da religião

Hibisco Roxo é a história de uma família cercada por uma religião que, em vez de complementar a vida, destrói. Essa religião é o cristianismo, que arraigada em um pai fanático, gera angústia, dor e desespero em Kambili, a narradora-personagem. O livro, publicado em 2003, é o primeiro romance de Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana que vem se destacando na literatura contemporânea.

Hibisco Roxo

Mas não é apenas Kambili que sofre com as atitudes do pai controlador. Todos os familiares que convivem com ele recebem doses de seu comportamento controverso, pois, para os familiares, não há carinho, mas para o mundo externo, Eugene é conhecido como um homem generoso e justo. E a história, por entregar pequenas informações, a princípio, sobre o motivo das angustias da narradora, leva o leitor para uma profunda reflexão sobre as relações familiares e a religião.

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O cristianismo destruidor

“E quando é que nós vamos protestar? Quando os soldados virarem professores e os alunos tiverem de ir às aulas com armas apontadas para a cabeça? Quando nós vamos protestar?”

O pai de Kambili vê o cristianismo como uma base transformadora de sua própria vida. Ele, antes um homem pobre e sem perspectivas financeiras, por meio da igreja, transformou-se em um homem rico, poderoso, dono de um jornal e também de fábricas de produtos alimentícios. Por conta disso, ou outros aspectos que ficam nas entrelinhas, esse homem constrói uma fortaleza e vive um mundo, aparentemente, belo, mas dentro de sua mansão, o terror é constante para toda a família, por conta da violência física e psicológica que ele faz aos filhos e à esposa.

“Algo pairava sobre todos nós. Às vezes, eu queria que tudo fosse um sonho – o missal atirado na estante, as estatuetas despedaçadas, o ar quebradiço. Era tudo novo demais, estranho demais, e eu não sabia o que ser nem como ser.” (p. 166)

Com horários rígidos e a obrigação de ser a número um na escola, Kambili não possui grandes horizontes. A sua vida, limitada a conseguir atingir as exigências do pai, ganha novas perspectivas com a chegada de sua tia Ifeoma, professora universitária, irmã de seu pai, mas muito diferente dele, pois ela mantém suas raízes na cultura nigeriana e não trata os filhos com violência. Como uma flor, Kambili vai se iluminando a medida que se aproxima da tia, dos primos e também do avô, que é considerado um pecador pelo próprio filho.

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Chimamanda constrói uma narrativa simples, mas forte. A beleza de seu texto está nas imagens que construímos conforme a leitura avança e nas nuances de cores e cheiros que ela nos entrega para caracterizar ambientes e personagens: a cultura nigeriana e a cultura do cristianismo; a casa das pessoas ricas e das pobres; o medo e a força de Kambili; a chuva e o sol.

Há tempos eu não fazia uma leitura tão emocionada.

Leia também a resenha: Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie)

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