Conceição Evaristo: “o ato de traçar uma escrevivência”

A escrevivência de Conceição Evaristo e uma definição do que é literatura a partir de uma leitura do livro “Insubmissas lágrimas de mulheres.”

Talvez não exista pergunta mais difícil que definir o que é literatura. Teorias e críticos parecem ter abordado essa questão de todas as maneiras. Mas, simplificando, literatura pode ser aquilo que nos comove, que nos pega de surpresa, que faz um dia comum ter algo especial porque um livro, um personagem, um capítulo, uma frase nos transportou para outro lugar.

Hoje, após um período sem tempo para leituras, decidi retomar com um livro de contos, pois sempre acho que os contos são um ótimo caminho para a literatura e, principalmente, quando a ideia é ler algo curto, mas também intenso. Escolhi o livro “Insubmissas lágrimas de mulheres“, da escritora brasileira Conceição Evaristo. (Minha admiração por ela aconteceu na FLIP, quando a vi falando tão lindo sobre poesia, no Leia Mulheres que aconteceu por lá.)

Está na primeira página do livro uma definição, não sobre o que é literatura, mas sobre o que move um escritor, sobre seus horizontes e escolhas.

Tive uma sensação tão feliz quando li as primeiras linhas. Sabe aquele sentimento de quando se está diante de uma gigante literárias? É isso:

“Gosto de ouvir, mas não sei se sou hábil conselheira. Ouço muito. Da voz outra, faço minha, as histórias também. E no quase gozo da escuta, seco os olhos. Não os meus, mas de quem conta. E, quando de mim uma lágrima se faz mais rápida do que o gesto de minha mão a correr sobre meu próprio rosto, deixo o choro viver. E, depois, confesso a quem me conta, que emocionada estou por uma história que nunca ouvi e nunca imaginei para nenhuma personagem encarnar. Portanto, estas histórias não são totalmente minhas, mas quase que me pertencem, na medida em que, às vezes, se (con)fundem com as minhas. Invento? Sim, invento, sem o menor pudor. Então as históris não são inventadas? Mesmo as reais, quando são contadas. Desafio alguém a relatar fielmente algo que aconteceu. Entre o acontecimento e a narração do fato, alguma coisa se perde e por isso se acrescenta. O real vivido e o escrito aprofunda mais o fosso. Entretanto, afirmo que, ao registrar estas histórias, continuo no premeditado ato de traçar uma escrevivência.”

Essa coisa de todas as mulheres terem suas histórias particulares – e tão doloridas, mas que também representam a história de todas as mulheres.  Já dizia Virginia Woolf, não possuímos um país, mas somos de todos os países.

Para mergulhar na “escrevivência”, conheça mais sobre Conceição Evaristo:

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