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Um passeio literário e político: Lima Barreto contra tudo o que está aí

Walking tour leva público a conhecer vida do escritor Lima Barreto, que escreveu contra o feminicídio há mais de um século.

1915, Rio de Janeiro, Convento da Ajuda (atual Cinelândia): Durante o carnaval, um homem atira contra a ex esposa e a mata. Este caso poderia passar despercebido na história se não fosse uma crônica de Lima Barreto, intitulada “Não as matem”, em que o escritor denuncia os frequentes casos de assassinatos de mulheres na época. Em um trecho emblemático o autor diz sobre os assassinos: “Todos esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros. Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer”. Passados 104 anos, o tema segue, infelizmente, sendo atual, apesar dos avanços obtidos desde a escrita do autor, como a tipificação jurídica do feminicídio. Além de se posicionar contra a violência às mulheres, Lima Barreto se manifestou sobre diversos problemas do Rio de Janeiro de outrora, como em críticas sobre o racismo, a república e a reforma urbana – novamente problemas que continuam a existir entre nós e acaloram os debates nas redes sociais. Assim, Rio de Janeiro e Lima Barreto estão conectados para a eternidade – e é isto que o walking tour “Revelando o Rio de Lima Barreto”, realizado pela turismóloga Juliana Fiuza, quer contar aos cariocas.

Conheça: As mulheres nos contos e nas crônicas de Lima Barreto

O tour apresenta os caminhos que percorreu o pensamento e o corpo de Lima Barreto pela cidade carioca, como a Cinelândia, no evento descrito acima; a Academia Brasileira de Letras, onde Lima Barreto foi renegado duas vezes; e também a Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores e a Praça XV, locais marcados pela Revolta da Armada e a da Vacina, respectivamente, que Lima Barreto abordou a fundo em suas crônicas, e no seu Diário Íntimo, onde denunciou as inúmeras violências e arbitrariedades de que foram vítimas os populares revoltosos.

A ideia de promover o debate acerca das posições do escritor em formato de passeio veio justamente pela exclusão que o escritor suburbano e negro sofreu no Rio de Janeiro em que vivera e também pelo esquecimento do autor na cidade atual: “Eu conheci o Lima ainda na escola, sempre me intrigou a forma como ele foi tratado pela sociedade na época. A ideia do roteiro surgiu há muito tempo, mas era difícil ter acesso as crônicas dele, que sempre foram a sua maior forma de expressão; por isso, a pesquisa foi muito dificultosa, precisei comprar livros que falassem sobre ele e o Rio de Janeiro. A vida pessoal dele era mais fácil de encontrar, mas as crônicas, não. Ele publicou em muitos periódicos de pouca expressão, o que prejudica na realização de uma pesquisa”, afirma Juliana.

Outro fator destacado no evento é mostrar Lima Barreto como um questionador e debater de forma coesa os pensamentos dele com o momento em que vivemos, não apenas na cidade, mas por todo o país, explica Juliana:

“A maior descoberta foi saber em como ele foi pioneiro em questões sociais, como falar de racismo e feminicídio em uma sociedade enrijecida e preconceituosa. A indignação do Lima é algo presente na sociedade atual. A diferença é que ele era ignorado. Era uma voz na multidão, hoje a sociedade retoma amplamente discussões que ele começou em 1900. Foi um pioneiro”.

O evento ocorre dia 1º de março, na sexta antes do carnaval, especialmente para aqueles que querem aproveitar a folia com consciência. A concentração, às 14h, acontece em frente ao CCBB e o valor é o pedido de uma contribuição voluntário de no mínimo R$10.

Serviço:

  • Evento: Revelando o Rio de Lima Barreto;
  • Como funciona o Walking Tour? São passeios à pé pela cidade, neste os participantes conhecerão as interseções do pensamento de Lima Barreto com a cidade do Rio de Janeiro;
  • Data: 1º de março de 2019;
  • Horário: 14h;
  • Local de Encontro: Em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), localizado na R. Primeiro de Março, 66 – Centro;
  • Recomendado levar água, protetor solar e sapatos confortáveis;
  • Valor: contribuições a partir de R$10. Aceita dinheiro, cartão de crédito e débito. Contribuições acima de R$20 é possível parcelar;
  • Não é necessária inscrição;
  • Link do evento.

LEIA TAMBÉM: Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (Lima Barreto): uma despedida literária

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