Clássico “Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” apresenta uma crítica sobre identidade nacional e à elite europeizada

    Publicado em 1919, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá é uma das obras mais maduras e perspicazes de Lima Barreto. Uma poderosa crítica à elite europeizada do Brasil daquela época, o romance, relançado pelo selo Via Leitura, marca a despedida literária do escritor carioca.

    Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá

    Lima Barreto é um dos escritores mais relevantes da literatura brasileira, conhecido por sua habilidade em abordar temas sociais e políticos com agudeza e crítica. Sua importância reside na maneira como ele trouxe à tona as contradições da sociedade brasileira do início do século 20, especialmente em relação às questões raciais e às desigualdades sociais. Barreto, que era negro e enfrentou diversos obstáculos em sua carreira literária devido ao preconceito, utilizou sua obra para denunciar a hipocrisia e a marginalização sofridas por grupos sociais marginalizados. Seu estilo satírico e realista, permeado por um olhar sensível, ofereceu uma perspectiva única sobre a realidade brasileira da época, contribuindo para a construção de uma literatura mais inclusiva e reflexiva.

    Um exemplo notável do seu trabalho é o livro “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”. Nessa obra, Lima Barreto apresenta uma crítica mordaz ao ambiente burocrático e corrupto do Rio de Janeiro, destacando as falhas do sistema político e administrativo. Através da história do protagonista, M. J. Gonzaga de Sá, um funcionário público em busca de ascensão social, o autor expõe as artimanhas, intrigas e ambições que permeiam o cenário político e social da época. Com isso, Lima Barreto escancara as contradições e a falta de moralidade que caracterizavam a sociedade, tornando-se um crítico ativo e uma voz indispensável para entender a complexidade do Brasil daquele período.

    A narrativa se desenrola por meio dos olhos de Augusto Machado, protagonista que leva o leitor a conhecer a intrigante figura de Gonzaga de Sá. Neste encontro, o autor esboça a biografia do intelectual rebelde, que recusa o alinhamento com o meio acadêmico e rejeita a política de branqueamento da elite.

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    O romancista oferece um retrato vívido da aristocracia carioca da época, simultaneamente, expõe a dura realidade enfrentada pelas classes populares e escancara as profundas desigualdades sociais existentes. Sob uma análise afiada, Lima Barreto apresenta um panorama da sociedade brasileira e convida à reflexão sobre as contradições da identidade nacional.

    Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá está entre as leituras obrigatórias de vestibulares nacionais, o que comprova o reconhecimento, relevância literária e a importância do título no cenário acadêmico. Em 2025, o livro será cobrado na Fuvest, e a partir do próximo ano, torna-se obrigatório na Unicamp, o que consolida a posição de obra-prima da Literatura brasileira. Além disso, o livro conta com notas explicativas para termos não usuais, o que possibilita uma compreensão mais completa do contexto histórico e social em que a narrativa se desenvolve.

    Sobre o autor: Lima Barreto (1881-1922) foi jornalista e escritor. Neto de escravos, nasceu no Rio de Janeiro, filho de um tipógrafo e de uma professora. A amizade de seu pai com o Visconde de Ouro Preto garantiu ao futuro escritor uma educação de qualidade. Começou sua carreira aos 26 anos, publicando textos em diversas revistas cariocas e, inclusive, fundando a sua própria: a Floreal. Crises de alcoolismo e de depressão o levaram a internações em hospícios e a uma morte precoce por colapso cardíaco. Seus restos mortais estão no Cemitério de São João Batista (no Rio de Janeiro), próximo ao mausoléu dos imortais da Academia Brasileira de Letras.

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