O livro dos abraços (Eduardo Galeano): construções sentimentais

Quando comecei a ler “O livro dos abraços” me veio a ideia de que a obra, composta por pequenos contos, pequenas histórias, pequenas observações sobre a vida remetem de alguma forma às fábulas. Sim, aquelas histórias que líamos quando criança sobre lebres, tartarugas, ratinhos etc. Porque no final dessas histórias há uma moral, uma explicação, um ensinamento. E assim é feito o livro de Galeano, cada história – muito mais atrelada à realidade do que as fábulas, pois os personagens são pessoas e lugares – mostra a beleza e as dores da vida.  

Eduardo Galeano é um escritor uruguaio, nasceu em 1940 e faleceu em 2015. Sua obra é marcada por uma profunda sensibilidade social e política, refletida em uma prosa poética e envolvente.

O livro dos abraços

E como o autor mostra belezas e dores da vida?

Podemos dizer que “O livro dos abraços” é um livro que fala sobre tudo, pois as histórias são curtas. Algumas ocupam 10 linhas, outras, no máximo, uma página inteira do livro. Mas todas são poderosas porque trazem pequenas conclusões bonitas – algumas tristes, sim; mas muitas ficam no campo da esperança, o que dá uma certa aquecida em nosso coração. O livro é uma coleção de pequenos relatos, memórias e reflexões que abraçam o leitor de diferentes maneiras.

Alguns temas me chamaram mais a atenção. Acredito que para cada um pode ser uma experiência de leitura muito diferente, no entanto, essa sensação de estar diante de um registro singular da vida ficará presente.

  • Gostei muito de como ele traz o tema do absurdo, como ele explora os sonhos, como ele tece um certo tipo de celebração da realidade também.
  • Ele fala também sobre os livros em si e todo poder que permeia uma grande história.
  • Ele traz a arte como um impulsionador da vida.
  • Ele traz as cidades e seu teor político, principalmente a América Latina. Você vai encontrar aqui na obra o Rio de Janeiro, o México, Bogotá…
  • Ainda no teor político, ele traz com muita clareza as questões indígenas, ele fala sobre guerras, sobre o futuro…
  • Outra abordagem genial do autor é em relação à televisão e seu sentido de alienação social.

Por que o livro se chama “O livro dos abraços”?

O prólogo do livro traz a seguinte informação:

“Recordar: do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração”

E durante a leitura, um pequeno trecho na página 352 diz:

“Existe um único lugar onde o ontem e o hoje se encontram e se reconhecem e se abraçam, e este lugar é o amanhã.”

p. 352

Ou seja, Eduardo Galeano construiu essa obra num sentido de recordação. E a gente recorda o que é bom, o que fortalece nossas histórias e, sendo assim, escrevê-las e lê-las é um sentido de abraço.

Um abraço literário, um gesto de proximidade e empatia que acolhe o leitor e o transporta para universos diversos, repletos de sentimentos, experiências e perspectivas humanas.

Os “abraços” presentes no livro não são apenas físicos, mas também simbólicos, emocionais e espirituais. Eles representam os laços que unem as pessoas, as histórias que compartilham, as experiências que moldam vidas.

É uma delícia de leitura. O livro, em certas digressões sobre a existência da linguagem lembra Borges – e toda sua complexidade literária. E também há uma simplicidade maravilhosa, como aquele livro super conhecido “Minutos de sabedoria” …

Assim, acredito muito que Galeano construiu uma obra para todos, porque permeia a vida com muitas belezas e cada leitor poderá encontrar a sua. Leia!

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