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Fique Comigo (Ayòbámi Adébáyò): a mulher na sociedade nigeriana

Fique Comigo é o nome da obra de estreia da escritora nigeriana, Ayòbámi Adébáyò (a pronúncia é como se escreve mesmo), finalista do Baileys Women’s Prize for Fiction de 2017, e eleito um dos melhores livros do mesmo ano. Na obra, a autora dá voz em primeira pessoa ao casal Yejide e Akin, alternando as personagens, mas predominando o discurso da esposa ao longo da história.

Apesar de a cultura nigeriana permitir a poligamia, o casal decide manter um relacionamento monogâmico. Contudo, logo no início do livro é possível observar a pressão familiar e cultural em relação à escolha, quando a mãe de Akin vai à casa do filho (sem ser convidada, vale ressaltar) para pressioná-lo a ter uma segunda esposa. O motivo para tal atitude se dá porque, após quatro anos de casamento, eles ainda não têm filhos, o que, para a cultura nigeriana retratada no livro, era um fato um tanto complicado. Até determinado momento da narrativa Akin manteve o posicionamento de não ter mais nenhuma esposa além da Yejide, porém, por conta da suposta dificuldade dela em engravidar, o marido cede à pressão da família e decide por ter uma segunda esposa, a Fummi.

O papel da mulher na sociedade nigeriana

A partir daí uma onda de desespero atinge Yejide. Além do grande anseio em ser mãe, ela também teme perder o marido. Um ponto interessante é que a obra retrata claramente o papel da mulher na sociedade nigeriana, mostrando como são taxadas como culpadas e são hostilizadas quando não engravidam.

É uma questão que chama a atenção se comparada a outras culturas, principalmente atualmente, já que é possível notarmos como está mais forte a discussão e a escolha das mulheres ao redor do mundo em relação a ter ou não ter filhos, independentemente da opinião de terceiros. Não que o tema ainda não gere discussão ou estranhamento em outras culturas além da nigeriana, mas, ao que parece, a aceitação da ideia de não ter filhos ou não poder tê-los é menos aceita por lá de acordo com a obra de Ayòbámi.

Ayòbámi Adébáyò (Lagos — Nigéria, 1988) é mestre em escrita criativa pela Universidade de East Anglia, na Inglaterra.

A pressão social e cultural

Ao longo do livro é possível observar o quanto Yejide é afetada pelo desejo de ser mãe e, principalmente, pela pressão da sociedade, já que por vezes era tida como “a mulher que não tem filhos”. Fazendo uso de métodos pouco convencionais, como a ida a rituais espirituais realizados por chamados “charlatões”, a mulher passou por riscos e sofreu consequências nada positivas em relação a sua saúde física, emocional e psicológica.

Enfim, apesar tudo, Yedije consegue engravidar. Mas a que custo? É preciso ler o livro! A trama de Adébáyò é surpreendente, dessas que te faz prender a atenção em cada detalhe.
Além disso, apesar de retratado apenas em algumas passagens, a obra também mostra um pouco o fundo histórico da Nigéria por volta dos anos 80. Os acontecimentos políticos e sociais que assolavam o país são contados juntamente com os dramas da família, o que dá um pano de fundo ainda mais intenso para a narrativa.

É possível dizer que o livro é impactante e, por vezes, incômodo em determinadas passagens da narrativa. É notável o peso com que Yejide precisa lidar diariamente em seu casamento e em suas relações, tanto no ambiente de trabalho, familiar ou em consultas médicas, por exemplo. O livro retrata o papel da esposa nigeriana, o que ela precisa (sim, isto mesmo PRECISA) ser e fazer para agradar ao seu esposo, à família e à sociedade de forma geral. Com certeza é uma baita oportunidade de leitura para quem busca conhecer outras culturas e também ampliar a compreensão da própria em que está inserido. Ayòbámi Adébáyò acertou em cheio em seu livro de estreia.

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Por: Maria Alice Santini
Jornalista apaixonada por livros. Acredita no poder que a literatura tem de nos tornamos mais empáticos, capazes de enxergar a vida pelo olhar do outro. Tem certeza de que os livros podem curar feridas, salvar vidas e expandir não apenas a mente, mas a alma também.

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