Em Sumchi, o leitor poderá conhecer as emoções, as fantasias e as trapalhadas de um menino na conquista do primeiro amor.
Escritor israelense, Amós Oz foi indicado ao Nobel de Literatura de 2002 e ganhou o prêmio Goethe de 2005. Criador da organização pacifista Paz Agora, é o autor de diversas obras de ficção e não-ficção. Sumchi: uma fábula de amor e aventura, sua novela infantojuvenil, foi publicada pela Companhia das Letras em maio de 2019.
Nela, acompanhamos um dia da vida de Sumchi, um garoto de 11 anos que tem a imaginação como sua maior companhia. O menino é apaixonado por Esti e, como boa parte dos garotos de sua idade, manifesta seu amor com violência, deixando as demonstrações de carinho para seus momentos de solidão, enquanto escreve poemas em um caderno secreto e desenha o nome da menina na superfície da água que se acumulou na pia. Outra figura marcante é o tio Tsemach, que, apesar de parecer desfavorável para boa parte da família, desperta fascínio e admiração no sobrinho.
Aventura
A aventura tem início na festa de Shavout, quando Tsemach – ótimo na arte de dar presentes – entrega a Sumchi uma bicicleta. É com ele que o garoto começa a realizar as quatro ou cinco trocas feitas naquele mesmo dia.
Tudo se troca. Por exemplo, a maioria dos meus conhecidos e amigos trocam uma casa velha por uma nova, trocam entre si cumprimentos de bom-dia, trocam ações por títulos de renda fixa, ou, ao contrário, trocam bicicleta por motocicleta e motocicleta por automóvel. Trocam selos e moedas, trocam de cortina e de profissão, trocam cartas, trocam ideias e opiniões, e há quem troque sorrisos.
[…] Eu, quando tinha mais ou menos onze anos e alguns meses, fiz quatro ou cinco trocas no mesmo dia. Esta história pode começar com David Tsemach e pode começar com Esti. Vou começar com Esti. (p. 09, 10 e 11)
O livro pequeno, de capa dura e ilustrações encantadoras, perde um pouco da beleza quando alguns erros de concordância e de digitação são encontrados. A parte boa – ou ruim – é que a história não é empolgante ou poética e, depois de algum tempo, o incômodo com os problemas de revisão foi deixado de lado. Assim, por boa parte da leitura, meu único sentimento era a vontade de que Sumchi terminasse logo o seu relato.
Uma fábula de amor que passa
A novela foi o meu primeiro contato com a obra de Amós Oz e, hoje, penso que deveria ter começado por algum outro livro. Aqui mesmo, na Livro & Café, é possível achar resenhas de diversas outras obras do autor. No caso de Sumchi, a fábula de amor, apontada no subtítulo, é a romantização de atitudes que só alguém que nunca pensou duas vezes antes de sair da sala e enfrentar as investidas e empurrões de meninos apaixonados que não são ensinados a lidar com os próprios sentimentos poderia fazer. E a aventura, também ali citada, me pareceu rasa e pouco explorada.
Assim, apesar de trazer uma bonita reflexão sobre o tempo – que passa, como “tudo passa e se troca no mundo” (p. 113) -, no fim, Sumchi é mais um daqueles livros com grande potencial e sinopses maravilhosas, mas que perdem seu encanto logo nas primeiras páginas.
Respostas de 2
Pode ser mesmo que o Amós não tenha sido muito feliz em sua reflexão sobre o tempo em Sumchi. Não li esse livro, mas sim dois desse autor nesse ano: A caixa preta e Judas. O passar do tempo transformando as personagens é marcante em ambos. O que ficou de mais importante para mim foi conhecer a sociedade israelense em dois contextos políticos diferentes.
Pois eu não achei nada disso, esse livro é maravilhoso do começo ao fim. Não é lição de moral pra ninguém, muito menos lição de vida, o único problema é o termo fábula, justamente por isso. O interessante não é a passagem de tempo em si e sim o desenrolar para chegar no amor da ‘vida’ dele e ponto. É um livro doce e delicioso de ler. Amargo ver que algumas pessoas esperavam demais…