O Dia D. Hoje é a prova sobre o livro Grande Sertão: Veredas. Em geral, o professor pede para escrever o enredo, fazer um resumo e uma análise breve sobre os principais personagens. A ideia, como avisei no primeiro post, era terminar a leitura hoje, mas ainda estou na página 341, no meio da história.
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Riobaldo está lá, entretido no meio dos jagunços, também sendo um, atirando, se defendendo e, principalmente, sobrevivendo ao sertão. Diadorim ganhou um ferimento na perna, fugiu e voltou novamente inteiro.
Guimarães Rosa utiliza frases curtas num grande parágrafo, o que deixa a narrativa veloz e densa. Cada frase, por mais simples que seja, ganha um significado maior a cada avanço, como se o “virar a página” também significasse entender a página anterior. E se eu não entendi, eu volto. Voltei várias páginas, reli outras para conseguir me adaptar aos nomes de todos os personagens. Isso é coisa do sertão: nomes parecidos, gente parecidas, tudo se fundindo, misturado e confuso. Quem é quem? Deus? Diabo? Gente boa e gente má? Está tudo lá em Grande Sertão: Veredas, o único romance que Guimarães Rosa escreveu. E ele precisava escreveu outro? Não. É como aquela situação de matar com um único tiro. Certeiro.
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E como a arte imita a vida, abaixo um trecho do livro que gostei muito. Ele “chegou” até mim num dia que eu estava pensando sobre amizade. Esta aí toda a resposta:
Mais em paz, comigo mais, Diadorim foi me desinfluindo. Ao que eu ainda não tinha prazo para entender o uso, que eu desconfiava de minha boca e da água e do copo, e que não sei em que mundo-de-lua eu entrava minhas ideias. O Hermógenes tinha seus defeitos, mas puxava por Joca Ramiro, fiel – punia e terçava. Que, eu mais uns dias esperasse, e ia ver o ganho do sol nascer. Que eu não entendia de amizades, no sistema de jagunços. Amigo era o braço, e o aço!
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas, Nova Fronteira, p. 180.
Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que tira prazer de estar próximo. Só isto; quase; e todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era Fafafa; o Alaripe; Sesfrêdo. (…)