A vida dos animais (J. M. Coetzee): palestra e ficção?

O livro A Vida dos Animais ( J.M. Coetzee, Cia das Letras) é dividido em duas partes: uma é a obra de Coetzee propriamente dita, e a outra, comentários a respeito da obra. O livro é uma palestra que foi feita em forma de ficção, ou seja, o autor criou um pequeno romance ou conto e o leu na tribuna. O discurso romanceado trata profundamente das implicações de ser vegetariano. Elizabeth Costello é a protagonista da história que se vê convidada a palestrar sobre um assunto a sua escolha em determinada universidade. Ela é escritora, mas ao contrário do senso comum, ela não decide falar sobre sua obra ou vida, mas sim da vida dos animais enquanto alimento de humanos.

“Ela [Costello] fala também alguma coisa sobre a maneira como as pessoas preferem não pensar muito sobre o que acontece com aqueles que estão fora da esfera do grupo favorecido, de como nós evitamos as coisas que podem nos perturbar e olhamos para o outro lado, enquanto o mal é praticado. Mas acho que ela pode ir mais longe que isso. O discurso dela parte de um igualitarismo entre humanos e animais mais radical do que eu estou preparado para defender.”

p. 104

Até agora li três livros de Coetzee, e este foi o mais difícil de virar as páginas e absorver os filosóficos diálogos que perpassavam meus olhos. Um dos comentários da segunda parte classifica o livro como um Romance Acadêmico, o que evidencia bem o grau de meticulosidade da leitura. Há inúmeras analogias a livros e grandes nomes da filosofia, todas bem esmiuçadas por parte de Costello.

Consumi duas noites de leitura antes de dormir para terminar o livro. Não é o que eu chamaria de noite agradável. Acho válido ressaltar como Coetzee conseguiu produzir tamanho estardalhaço com tão poucas páginas, o que pode ser controverso, já que a própria protagonista confessa a incapacidade da poesia de mudar o mundo. Os pungentes argumentos usados na defesa da modalidade de vida conferenciada são exatamente a parte forte do livro, portanto não vou citá-los aqui. Ao final da primeira parte, há um diálogo tão estonteante que faz jus ao prêmio que Coetzee carrega nas capas das edições de seus livros.

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