Evelina (Frances Burney): uma influência literária para Jane Austen

Livros escritos em forma de cartas eu gosto. Porque parece que estamos violando alguma coisa secreta, proibida. Eu tive um pouco dessa sensação no começo da leitura do romance Evelina (Frances Burney), pois Evelina, a protagonista, escreve cartas ao seu tutor detalhando tudo o que acontece em sua vida, durante o período que, pela primeira vez, ela sai de casa para conviver na sociedade burguesa inglesa e francesa.

evelina

A história do nascimento de Evelina a permite ter contato com pessoas diferentes dela – algumas de boa índole, outras com atitudes bastante duvidosas. Ela é fruto de um casamento muito errado, pois o pai casa-se com uma moça, mas depois foge sem deixar provas sobre o casamento, o que deixa a mãe de Evelina numa situação extremamente delicada. Por outro lado, Evelina tem sorte em encontrar um tutor muito bom, que cuida da menina com muito carinho, respeito e também colabora para ela encontrar o próprio caminho e enfrentar os obstáculos que uma garota simples enfrenta ao conviver com a alta burguesia.

A personagem Evelina

Evelina é uma personagem contagiante, uma Bridget Jones dos tempos antigos. Atrapalhada, graciosa e impulsiva, ela consegue sobreviver ao mundo tão superficial, interesseiro e machista.

O primeiro momento dela na sociedade inglesa é num baile em que ela fica sabendo que é preciso dançar com algum homem. E que se ela aceitar a dança com um, não pode aceitar a dança com um segundo homem na mesa festa, pois assim ela se tornaria uma mulher leviana.

Mas ela, apavorada pelo simples fato de dançar, decide antes de começar a festa que não irá dançar com ninguém, como uma forma de não se atrapalhar com a situação da dança e etc.

Porém, o primeiro a querer dançar com ela é Lord Orville, que possui todas as qualidades exigidas para um bom ser humano – educação, respeito, cordialidade, mas por medo da dança, ela diz não. E passa o resto da noite negando convites. Até que aparece um homem extremamente inconveniente e ela, toda atrapalhada e assustada, diz a ele que já está dançando com Lord Orville e, para desespero de Evelina, o homem inconveniente não acredita nela e – literalmente – a persegue durante toda a festa.

Aliás, o homem a persegue durante a história toda, o que me deixou bastante incomoda com isso; e também os outros que aparecem para cortejá-la. Todos desrespeitosos, que de um jeito absurdo, mas muito praticado até os dias de hoje, colocam a mulher como sedutora e o homem como a vítima.

Cartas

E por se tratar de um livro epistolar, cada passo de Evelina é registrado nas suas cartas, que mais parece um diário, por possuir tantos detalhes. Ela conta ao seu tutor todos os momentos de sua rotina: os passeios em belos jardins, jantares e conversas com suas novas amizades.

Dos outros personagens, destaco Lord Orville, o príncipe encantado da história, num estilo muito parecido com Mr. Darcy (Jane Austen; que por sinal, recebeu influências literárias de Frances Burney) – impossível não ficar encantada.

A leitura é muito agradável. A história mostra para o leitor o que irá acontecer – a moça quer encontrar um grande amor e casar-se – mas isso não é o principal, apesar de ser a base de toda a história, o que fica, e por isso é um clássico, é a crítica social. Frances Burney (1776-1840), por meio de sua personagem Evelina, mostra o quanto é difícil viver em sociedade, o quanto as pessoas podem ser cruéis de acordo com os seus instintos, conta bancária e gênero.

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