Então eu conheci um pouco de Susan Sontag (1993 – 2004), ao ler uma entrevista que ela deu para a Revista Rolling Stones. No livro, lançamento da Editora Autêntica e tradução de Rogério Bettoni eu tive a oportunidade de mergulhar um pouquinho na mente de uma mulher tão incrível. Aliás, acho que não mergulhei, apenas fiquei admirando a profundidade e a eloquência da escritora, cineasta, crítica de arte e ativista dos direitos humanos, que escreveu romances e obras de não-ficção, como: Contra a interpretação, Sobre a fotografia, A doença como metáfora, Na América, entre outros.
Pensei muito para escrever este post e concluí que o melhor jeito – o jeito possível, para deixar aqui um registro da minha leitura de Susan Sontag, é fazer uma pequena lista das partes da entrevista que mais me chamaram a atenção, por conta da inteligência, eloquência e clareza de Susan Sontag, uma pessoa realmente admirável. Por quê:
1.) O amor pelos livros
No posfácio tem um frase do conto “Uma carta para Borges”, em que ela declara todo o seu amor pelos livros:
“Você disse que devemos à literatura quase tudo o que somos e fomos. Se os livros desaparecerem, desaparecerá a história e também os seres humanos. tenho certeza de que você está certo. os livros não são apenas a soma arbitrária de nossos sonhos e memórias. Eles também nos dão o modelo da autotrancendência. Alguns pensam que a leitura é apenas uma forma de escapismo: uma fuga do mundo “real” cotidiano para um mundo imaginário, o mundo dos livros. Mas os livros são muito mais. São um modo de sermos plenamente humanos.” (p. 17)
2.) A importância do pensar
A entrevista começa com um assunto delicado: o câncer, que atingiu Susan e foi assunto de seu livro “A doença como metáfora”. Ao responder sobre como ela iniciou o livro, mesmo passando por um momento tão delicado, Susan responde: “Se a gente não pensa nas coisas, acaba sendo veículo dos clichês do momento, mesmo dos mais inteligente” (p. 21). E, na medida que o assunto desenrola, há um complemento interessante:
“Olha, o que quero é estar presente por inteiro na minha vida – ser quem você é de verdade, contemporânea de si mesma na sua vida, dando plena atenção ao mundo, que inclui você. Você não é o mundo, o mundo não é idêntico a você, mas você está nele e presta atenção nele. O escritor faz isso – presta atenção no mundo.” (p. 23)
3.) Feminismo
E Susan também fala do feminismo, dá exemplo de sua rotina e mostra para o leitor que até mesmo uma simples conversa de intelectuais pode conter atitudes machistas, mesmo que inconscientes:
“Depois do seminário, eu, ele e mais quatro pessoas saímos para tomar café. Por acaso as quatro pessoas eram mulheres. A gente se sentou, e um delas disse para David, em francês: “Oh, pobrezinho, tendo que se sentar com quatro mulheres!” E todas riram. Eu disse para elas, todas professoras da universidade: “Você percebe o que está dizendo e a opinião vulgar que tem de si mesma?” Quer dizer, imagine uma situação em ue uma mulher se senta com quatro homens e um deles diz: “Oh, pobrezinha, tendo de se sentar com quatro homens sem nenhuma mulher como companhia,” Ela se sentiria honrada” (p. 29)
4.) Uma “purificação das metáforas”
Susan fala de metáforas e dá uma aula de escrita para o leitor. Metáfora é legal, mas na hora certa, do jeito certo, etc, etc… Para Susan, é preciso ter uma “purificação da metáfora“, entendo que neste ponto também mora a pureza da frase em si, a beleza da verdade pura, sem malabarismo toscos, porém, perceber tudo isso dentro da linguagem da literatura não é tarefa simples, mas é preciso ficar atento:
“As metáforas são fundamentais para o pensamento, mas não deveríamos acreditar nelas quando as usamos – deveríamos saber que elas são uma ficção necessária ou talvez não uma ficção necessária.” (p. 64)
5.) Amor e paixão pelos livros!
Não é somente no prefácio que encontramos a Susan Sontag leitora, durante a entrevista ela fala do amor aos livros, da paixão pela literatura e cita alguns escritores incríveis (Franz Kafka, Jane Austen, Stendhal, Jack London, etc), além de dizer que quando leu Os Irmãos Karamazov (Dostoiévski) ficou tão emocionada que pensou:
“É inacreditável, agora sei por que devo viver” (p. 84)
Como não amar Susan Sontag? No livro há muito mais, como acredito que a vida e a obra da autora tenham muito mais coisas maravilhosas que apenas esses singelos 5 motivos. A entrevista é inteiramente rica, espirituosa, forte, honesta, eloquente, inspiradora…