Todo mundo é mocinho e bandido, talvez esta seja a premissa da literatura moderna. Não sabemos mais os limites ou os horizontes das coisas. Eu fiquei pensando nisso quando li Mayombe, livro do angolano Pepetela (o nome dele todo é Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, muito mais legal Pepetela).
O Chefe de Operações contemplava as sombras das árvores, deitado na lona. Ouvia a conversa dos outros, pensando na chuva que iria cair dentro de momentos e na casa quente de Dolisie, com a mulher a seu lado.
A história é sobre guerra, publicado em 1980, em um ambiente conhecido do autor, que fez parte da guerra de libertação de Angola nos anos 70.
É complicado escrever sobre o que mais gostei no livro, mas eu gosto das pequenas coisas, daqueles detalhes que de repente preencher todo o meu universo literário. Às vezes, fico pensando que a literatura pode ser muito mais simples do que imaginamos (menos quando leio David Foster Wallace, pois é, mas deixa pra lá). O que quero dizer é que Pepetela é desses escritores que fazem a gente pensar no termo poesia de uma forma mais abrangente. A poesia não está nela em si, mas na construção que ela produz em nossas cabeças. Tá dando pra entender? Vamos lá: os nomes dos personagens:
- Sem Medo é um comandante;
- Teoria é um professor;
- Verdade e Lutamos são os destribalizados;
- Mundo Novo, as pessoas que vão estudar em outros países (uma elite);
- e tem outros também, mas por enquanto, assim, tá bom.
Agora, se você não acha lindo esses nomes e suas profissões não leia mais esta resenha, nem mesmo o Pepetela. Mas se você vê poesia nisso, uma simples poesia nisso, vamos em frente!
E claro que a história não é sobre flores e o seu cheiro numa manhã de inverno. A história é sobre guerra, sobre as diferenças de classes, sobre pessoas corajosas e transformadoras, sobre uma cultura que tanto nos representa ao mesmo tempo que está ainda tão distante de nós.
Em alguns momentos eu lembrei de Cem Anos de Solidão, Mayombe é também uma Macondo, que sobrevive e sofre, de maneiras diferentes sim, mas cada qual com sua capacidade de reconstruir-se.
“As árvores enormes, das quais pendiam cipós grossos como cabos, dançavam em sombras com os movimentos das chamas. Só o fumo podia libertar-se do Mayombe e subir, por entre as folhas e as lianas dispersando-se rapidamente do alto, como água precipitada por cascata estreita que se espalha num lago.”
Pepetela, então, foi um guerrilheiro, fez parte do MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) e reuniu as suas experiências no livro. Portanto, a literatura do autor também é engajada, atinge os patamares da história, a partir do livro é possível compreender a história do povo angolano que tanto lutou por sua independência.
Das coisas mais bonitas: a luta por um ideal, ser bom e ruim, errar, acertar, não ter medo. É a guerra, é a identidade.