J.R.R. Tolkien – O Senhor da Fantasia (Michael White): tudo comove…

A biografia J.R.R. Tolkien – O Senhor da Fantasia, chegou no Brasil em 2016 pela editora Dark Side. Escrita por Michael White, um jornalista que escreveu sobre diversos escritores e cientistas, a obra pode ser uma boa escolha para quem quer conhecer mais o universo da literatura fantástica e, principalmente, as rotinas que transformaram Tolkien em um dos escritores mais bem sucedidos da literatura.

Ao ler uma biografia, é importante que o leitor perceba quem é o biógrafo por trás daquele livro, porque, por mais que uma biografia procure contar a realidade sobre a vida de alguém, pequenos traços de estilo e até mesmo de interpretações podem fazer parte do livro. Nada impede, por exemplo, do biógrafo dar a sua opinião enquanto constrói em palavras a vida do biografado.

No caso do livro de Michale White, logo no início ele se declara um apaixonado por Tolkien e isso é maravilhoso, pois quando o escritor é realmente devoto daquela história que ele está contando, tudo fica mais fácil para o leitor e também mais envolvente, no caso, até para as pessoas menos interessadas no universo tolkieniano.

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Quando comecei a ler O Senhor dos Anéis, foi logo que lançou o primeiro filme. Eu pegava o livro na biblioteca da escola em que eu fazia um curso técnico e havia uma lista de espera para os livros. Foi uma febre, pequena, mas eu pude curtir um pouquinho o que, imagino, viveram os primeiros jovens que leram a obra sem o fator filme para alavancar o interesse. Deve mesmo ter sido maravilhoso vivenciar uma conversa – numa época sem internet – sobre o quanto era incrível um livro de um tal Tolkien, sobre um anel poderoso, sobre elfos falando uma língua diferente, hobbits, grandes homens e as suas falhas. Mas, agora no século XXI o que podemos falar sobre a obra de Tolkien? O que ele representa para a literatura fantástica? Por que Frodo levando o anel até Mordor nos comove tanto? Por que o livro é tão detalhado? Quem é Tolkien, afinal?

As respostas o leitor poderá encontrar nesta biografia, pois, de uma forma leve, o biógrafo vai ampliando o universo desse grande nome da literatura, desde a infância do autor até o sucesso de sua obra.

É interessante perceber que a vida toda de Tolkien foi uma construção contínua dessa tal de Terra-Média. Durante a sua infância podemos perceber alguns espaços que refletiram depois na construção do Condado. A relação entre homens e mulheres, muito tem a ver com a mãe de Tolkien e depois a sua esposa Edith. O catolicismo, que chegou na vida do autor com muito sofrimento familiar, pode ter colaborado para a construção desses personagens ao mesmo tempo simples e heroicos.

“Numa toca no chão havia um hobbit”

O que há de mais bonito na literatura é imaginar qual foi o momento, então, que aquela ideia sublime chegou para o escritor. É muito conhecida a história que a primeira frase que surgiu na cabeça de Tolkien é que iniciou tudo. Algo como “naquela toca havia um Hobbit.” Mas o que era um Hobbit? Por que ele estava numa toca? Foram perguntas que o prório autor teve que responder a partir desse lampejo literário. Então, para aqueles que sabem apenas essa parte da história, podem imaginar que o artista é isso: sentar e esperar uma ideia brilhante, mas não é assim. Não é assim mesmo e quando se conhece a biografia de Tolkien é possível entender isso com bastante clareza.

tolkien
J. R. R. Tolkien

Tolkien iniciou seus estudos superiores em um curso de Antiguidade Clássica em Oxford. Tinha um domínio incrível da Língua Inglesa, estudava o inglês antigo e era muito curioso pela relação entre a língua e cultura. Para ele, era ruim o fato dos ingleses não terem, por exemplo, uma própria mitologia – como a grega, então, a sua ideia era produzir algo que se tornasse (ou representasse) a mitologia inglesa, arquétipos do que ele considerava importante, e nesse ponto, entra todos os seus estudos, um pouco de sua personalidade (ele se considerava um hobbit), vivências pessoais e profissionais.

Arquétipos: “Carl Gustav Jung usou o conceito de arquétipo em sua teoria da psique humana, ele acreditava que arquétipos de míticos personagens universais residiam no interior do inconsciente coletivo das pessoas em todo o mundo, arquétipos representam motivos humanos fundamentais de nossa experiência como nós evoluímos consequentemente eles evocam emoções profundas.”

(fonte: Psicologias do Brasil)

Tolkien realmente construi a Terra-Média, elaborou mapas e línguas para os seus personagens. Estudo, pesquisou, escreveu, reescreveu, resconstruiu. Então, o fato dele ter um dia sentado na sua cadeira e ter tido uma ideia genial, não pode ser considerado o principal fator de seu sucesso. O que Tolkien fez – dedicar uma vida ao estudo das línguas e das culturas, ao ponto de colocar em segundo plano todo o resto, é o que o torna especial e comovente – por conta do quanto é bonito saber de alguém tão dedicado com o trabalho.

Por que tudo é tão comovente?

E Frodo levando o anel até Mordor nos comove tanto porque representa a caminhada de uma pessoa rumo a um objetivo. E o leitor acompanha toda essa caminhada – que não foi simples, nem fácil. Ele quase desistiu, quase deixou de ser quem era para ser algo muito ruim, ele teve amigos (o Sam é tão importante quanto Frodo), pessoas que acreditaram em seu potencial, outras desacreditaram, mas que mesmo assim, por um objetivo coletivo, seguiram os seus ideais para que Frodo pudess concluir o seu. Isso, me parece, a própria vida de Tolkien, um professor que dizia ser um hobbit e que viveu uma vida quase sufocante por conta dos objetivos que ele mesmo traçou, mas também feliz, mas também triste. Cheia de erros, mas também de acertos. E parece também, mesmo cheia de clichês, a vida de todas as pessoas.

J. R. R. Tolkien provou que não se faz literatura, qualquer tipo, sem estudos, pesquisas e dedicação. Ele abriu um caminho gigante para a literatura fantástica e se os seus personagens cairão, por fim, no inconsciente coletivo para tornarem-se lendas, só o tempo irá dizer, mas quando esse dia chegar, talvez não se fale mais em Tolkien, porém algo de seu universo espetacular perdurará. Que sejam os hobbits e não os orcs.

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Uma resposta

  1. Eu li O Silmarillion e a trilogia na sequência. Eu já tinha terminado o colégio e os livros tinha sido relançados pois vinha chegando o filme. Lembro que foi uma leitura gostosa, mas também muito cansativa, tanto que hoje eu não conseguiria ler mais. rs

    No entanto, admiro o universo inteiro criado por Tolkien. Sua obra influenciou gerações de escritores até hoje, por bem ou por mal, e certamente continuará influenciando ainda mais.

    Essa biografia está na lista de leitura, espero conseguir ler em breve!

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