Explore o mistério e o terror psicológico de A Assombração da Casa da Colina, clássico de Shirley Jackson (1916 – 1925). Em nossa resenha, mergulhamos na atmosfera sombria da mansão, onde eventos inexplicáveis desafiam personagens e você, leitor!
Shirley Jackson é uma das autoras americanas mais importantes do século XX e é apontada como influência para nomes como Stephen King, Neil Gaiman e Donna Tartt. A assombração da Casa da Colina, seu primeiro romance, ganhou a primeira edição brasileira este ano pela editora Suma, com tradução de Débora Landsberd.
Um enredo clássico
No livro, conhecemos o Dr. John Montague, um estudioso da mediunidade e doutor em Filosofia com formação em Antropologia, que busca assistentes para auxiliá-lo em uma temporada de pesquisa em uma casa famosa por ser mal-assombrada e rodeada de mistérios. Ele busca pessoas sensíveis ao sobrenatural e, após consultar registros mediúnicos, jornais e relatórios parapsicológicos, convida cerca de dez candidatos para explorar as histórias sombrias do local.
Assim, Dr Montangue recebe a resposta de duas mulheres de sua lista:
- Eleanor Vance, uma espécie de Amélie Poulain mais melancólica, que leva uma vida solitária e tediosa, refugiando-se em fantasias e acreditando que algo extraordinário acontecerá.
- Theodora, uma mulher empolgada, vibrante, curiosa e dotada de certa habilidade telepática, que aceita o convite como forma de fugir – ou dar um tempo – de um problema com uma amiga.
O grupo se torna completo – ao menos por um período – com a chegada de Luke Sanderson, herdeiro da mansão e homem de caráter duvidoso, que se junta a eles sob a condição de que tal pesquisa só poderia acontecer com a presença de um membro da família.
Nenhum organismo vivo pode existir muito tempo com sanidade sob condições de realidade absoluta; até cotovias e gafanhotos, supõem alguns, sonham. A Casa da Colina, desprovida de sanidade, se erguia solitária contra os montes, aprisionando as trevas em seu interior; estava desse jeito havia oitenta anos e talvez continuasse por mais oitenta. Lá dentro, paredes continuavam de pé, tijolos se juntavam com perfeição, assoalhos estavam firmes e portas estavam sensatamente fechadas; o silêncio se escorava com equilíbrio na madeira e nas pedras da Casa da Colina, e o que entrasse ali, entrava sozinho.
p. 7
A construção da insanidade
Mais do que uma história sobrenatural, A Assombração da Casa da Colina explora a construção da insanidade. Foca em como os personagens reagem ao medo e ao incompreensível, mais do que nos eventos em si. O terror nasce dos diálogos precisos, da tranquilidade com que tratam o inexplicável, e da estranha mistura entre riso e pavor.
Apesar de alguns clichês, Shirley Jackson me cativou com sua história ambígua e psicológica, que foca no mistério e constrói uma casa opressiva e enigmática.
Essa casa, que parecia ter se formado sozinha, voando ao mesmo tempo até formar seu padrão potente sob as mãos dos construtores, se ajustando à própria construção de traços e ângulos, levantava sua enorme cabeça para o céu sem fazer concessões à humanidade. Era uma casa sem bondade, jamais feita para ser habitada, não era o lugar adequado a pessoas ou ao amor ou à esperança. O exorcismo não consegue mudar o semblante de uma casa; a Casa da Colina continuaria igual até ser destruída.
p. 36
Tirando uma breve descrição física do Dr Montague, as únicas coisas que sabemos sobre aquelas pessoas são sobre o que elas falam, as piadas que fazem, a forma como se comportam e o que Eleanor pensa sobre eles. Tais personagens são pessoas feitas de camadas, de frases – aparentemente – sem sentido, de contradições, de sentimentos, de fantasias, de olhares e coisas não ditas. Shirley Jackson te apresenta àquelas pessoas, te faz amiga delas, te mostra suas qualidades e defeitos antes mesmo de te contar sobre como a casa potencializa algumas dessas características e como ela modifica os relacionamentos.
Para perder o sono…
Para quem já lê terror, A Assombração da Casa da Colina talvez não pareça tão assustador ou impactante. Mas, sendo facilmente impressionável e pouco acostumada ao gênero, o livro me tirou o sono — tanto pelo medo quanto pelas horas refletindo sobre como eu agiria nas mesmas situações e criando teorias para os acontecimentos. Além disso, me deixou com vontade de ler Sempre Vivemos no Castelo, último romance de Shirley Jackson, já na lista de próximas aquisições.
Leia a resenha de Sempre vivemos no castelo.
Uma resposta
Vanessa Pessoa, thanks a lot for the post.Really thank you! Much obliged.