Em “Longe de casa”, a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz conta sua história de migração e dá voz a garotas que estão entre os milhões de refugiados pelo mundo.
“Eu conto a minha história não porque ela seja única, mas principalmente porque não é.”
(parte do discurso de Malala Yousafazai no Prêmio Nobel da Paz)
Malala Yousafzai nasceu no Paquistão em 1997 e quase foi morta por lutar para que ela e outras meninas pudessem ir a escola. Uma das figuras mais importantes da nossa época, foi a mais jovem ganhadora do Nobel da Paz, estuda filosofia, política e economia na Universidade de Oxford e continua sua campanha pela educação através do Fundo Malala.
Eu sou Malala, sua autobiografia, foi escrita em colaboração com a jornalista e correspondente Christina Lamb e publicada pela Companhia das Letras em 2013, com tradução de Caroline Chang, Denise Bottmann, George Schlesinger e Luciano Vieira Machado. Nele, Malala nos introduz aos retrocessos impostos pelo Talibã, nos conta sobre colégios queimados e sobre a proibição da educação de meninas, nos mostra que uma adolescente pode ser parte da resistência quando decide escrever em um blog sobre todas as atrocidades que vê; nele, ela também mostra que ameaças podem sair de páginas anônimas, podem entrar em um ônibus, podem carregar uma arma e podem modificar toda uma vida.
Nunca deixei de me chocar que as pessoas considerem a paz algo garantido. Sou grata por ela todos os dias. Nem todo mundo tem essa sorte. Milhões de homens, mulheres e crianças testemunham guerras diariamente. A realidade dessas pessoas envolve violência, lares destruídos, vidas inocentes perdidas. A única escolha que têm para se manter seguras é ir embora. Então elas “escolhem” ficar longe de casa. Só que não é exatamente uma escolha.
Dez anos atrás, antes de qualquer pessoa de fora do Paquistão soubesse meu nome, tive que deixar meu lar com minha família e mais de 2 milhões de habitantes do vale do Swat. Não tínhamos outra opção. Não era seguro ficar. Mas para onde iríamos? Eu tinha onze anos. E tive que migrar. (p. 09).
Longe de casa, seu mais novo livro
Seu mais novo livro, Longe de casa, também escrito em colaboração, mas com a jornalista Liz Welch, e com tradução de Lígia Azevedo, apresenta um pequeno resumo de seu passado, um apanhado de seus feitos desde então e a nostalgia de quem se vê obrigada a sair, deixar sua casa e seu país, para poder sobreviver; mas o livro não é sobre Malala. Longe de casa é sobre a vida de outras dez meninas e mulheres, é sobre refugiados, sobre guerra, sobre partida, sobre medo, mas também sobre acolhida, sobre futuro, sobre querer e poder transformar a existência de outras pessoas através da própria experiência, dos problemas e dificuldades já enfrentados; o livro é sobre usar a própria voz como arma.
A menina, aqui, serve como guia, como mediadora de nossa conversa com Zaynab, Sabreen, Muzoon, Naila, María, Analisa, Marie Claire, Jennifer, Ajida e Farah. Assim, lemos a voz de cada uma delas nos contando sobre sua própria luta pela sobrevivência. Zaynab e Sabreen, por exemplo, são irmãs que tiveram experiências muitos diferentes até seu refúgio; enquanto a primeira teve o pedido do visto para os Estados Unidos aceito, a segunda enfrentou uma longa viagem em barcos sem qualquer equipamento de proteção ou comida até chegar à Europa.
Os relatos de Malala Yousafzai
Os relatos são curtos e partem das mais variadas realidades que, juntas, nos mostram o privilégio que é se ter uma escolha e a importância da ajuda, da acolhida e do olhar para além de si.
Compartilhei a minha trajetória para honrar as meninas que conheci. Mas agora é hora de compartilhar as histórias de algumas delas. Para dizer a verdade, não quero continuar contando a minha. Meu objetivo atual é viver no presente e focar no futuro, mas sei que o interesse das pessoas não cessou. Se contando a minha história posso ajudar a divulgar a história de outras meninas, é o que vou fazer. Sou parte de um grupo de pessoas que não teve escolha a não ser deixar sua casa para trás. E, juntas, nossas histórias se espalham pelo mundo ao mesmo tempo que permanecem firmes em nossos corações. (p. 58).
De linguagem fácil e temática extremamente importante e necessária, Longe de casa (Malala Yousafzai). é mais um livro essencial para a formação de jovens e adultos mais empáticos, que entendem que existem realidades muito além das suas. Ele é fundamental para que possamos perceber que hoje, agora, nesse exato momento, acontecem guerras, conflitos e tragédias que vão além do eixo Brasil-EUA-Europa e que, por mais que a grande mídia não dê atenção a elas, é importante estarmos de olhos e ouvidos atentos, é importante que usemos a liberdade que ainda temos para que essas vozes e vidas sejam escutadas.