Agora chegou a vez da Bruna Bengozi, editora da Revista Livro & Café, compartilhar suas melhores leituras em 2019.
Em 2019, me propus a participar do desafio literário da Livro & Café e do projeto Leia Mulheres. Nem preciso dizer que falhei miseravelmente, assim como falhei em todos os planos que fiz para este ano, mas isso não vem ao caso agora.
A questão é que, apesar de 2019 ter sido um lixo em vários aspectos, consegui fazer boas leituras e gostaria de compartilhar aquelas que mais me marcaram ao longo desses quase 365 dias de dor e ranger de dentes.
Um teto todo seu, de Virginia Woolf
Já comentei que meu gosto pela Woolf é um pouco tardio e o devo às minhas queridas amigas Francine Ramos e Rossana Pinheiro-Jones, que tanto amam a autora inglesa. Quis começar o ano lendo a dona Vivi e a escolhi para a categoria “um livro clássico”, do desafio do Leia Mulheres. Realmente, me arrependi por não ter lido antes. Quanta sabedoria e lucidez sobre o papel das mulheres na literatura e na sociedade em geral. É uma leitura que ainda ecoa em mim e que me ajuda a pensar sobre os mecanismos de opressão e, principalmente, de superação dessas amarras que silenciam as palavras das mulheres. + Compre na Amazon
Leia mais: Um Teto Todo Seu (Virginia Woolf)
Potências do Encontro, de Mari Mendes
Esse é um livro especial para mim em muitos sentidos. Primeiro, porque foi escrito pela minha amiga e colaboradora da nossa Revista, Mari Mendes. Você provavelmente já deve ter lido os ótimos textos dela aqui e, se ainda não leu, termine esta lista e confira os conteúdos dela! Em segundo lugar, tive a oportunidade e a honra de preparar, revisar e prefaciar a obra da Mari. E, por fim, discutimos Potências do Encontro no encontro de maio do Leia Mulheres Sorocaba, o que permitiu não só a releitura do livro quanto o debate de seu conteúdo. Composto por diversos contos que trazem mulheres se encontrando com outras e com elas mesmas, se debatendo sobre as dores da maternidade, sobre seus desejos, sua sexualidade, a vivência sob suas peles e seus lugares no mundo. Um livro dolorido, mas colorido; real e subjetivo. Um livro que representa a sensibilidade e força de uma mulher como a Mari! + Compre na Editora Patuá
Leia mais: Arte em Sorocaba: entrevista com Mariana Mendes
Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves
Outro livro lido para o encontro do Leia Mulheres Sorocaba e que se revelou uma grande surpresa, tanto pela seu extensão (952 páginas lidas em pouco mais de um mês!), quanto pela sua narrativa. Neste romance histórico, Ana Maria apresenta a vida de Kehinde, sua personagem-heroína, que nos narra sua infância em Savalu, reino do Daomé (atual Benin), passando por sua vinda para o Brasil como escrava, na Bahia e no Rio de Janeiro, até seu retorno à África e sua derradeira volta ao Brasil no fim da vida. Um livro bem construído, que acompanha as dores da escravidão, a resistência dos grupos oprimidos e as transformações sociais, culturais e econômicas em nosso país. Uma aula de história e um clássico da nossa literatura! + Compre na Amazon
Leia mais: 23 livros que Lula leu: da realidade do Brasil e do mundo à ficção
Fome: uma autobiografia do (meu) corpo, de Roxane Gay
Uma leitura que ainda dói, apesar do tempo que já se passou. Nesta autobiografia, a norte-americana Roxane Gay relata o estupro coletivo sofrido aos doze anos e como isso a levou a transformar o seu corpo em uma armadura e um esconderijo através do ganho de peso. Em um primeiro momento, achei que seria uma daquelas histórias em que a pessoa reduz medidas e começa a demonizar a gordura. Não, muito pelo contrário: aqui, Gay apresenta como nossos maiores medos e vergonhas acabam levando a compulsões, como comer descontroladamente, mas também critica com veemência a sociedade que não enxerga os gordos e, quando enxerga, é para ridicularizá-los e lembrá-los que estão fora de um padrão irreal imposto pela mídia, indústrias farmacêuticas, cosméticas etc. Fome é o relato de uma mulher que sofreu e sofre várias violências ao longo da vida: contra seu consentimento, contra seu corpo, contra seus desejos. É o retrato de uma mulher que tem fome de outra vida – e todas nós estamos famintas! + Compre na Amazon
Leia mais: Fome (Roxane Gay) e as violências que sofremos e praticamos em nome do machismo
A dama do cachorrinho, de Anton Tchekhov
Li o russo Anton Tchekhov pela primeira vez neste ano, para um dos encontros do Clube de Leitura do Sesc Sorocaba, mediado pela Talita Annunciato e pela Francine. Comecei pelo livro O assassinato e outros contos, que realmente me surpreendeu. Então, passei para outra coletânea, A dama do cachorrinho, publicado em 1899. Nos diversos contos que compõem a obra, podemos passear pela Rússia do século XIX, seus costumes, suas hipocrisias, seus anseios, por meio das palavras precisas de Tchekhov. Seu controle narrativo é algo que me marcou: parece que não há nada sobrando em suas histórias, não há um começo muito detalhado nem um final estabelecido. O autor nos deixa com um grande ponto de interrogação e aqueles personagens, construídos tão bem em poucas páginas, continuam vivendo em nós por dias e dias. E eu gostaria de mencionar o conto que mais me prendeu, “A morte do funcionário”, de 1883. Uma história simples, até banal, mas que nos dá um grande tapa na cara. Talvez todo mundo devesse começar o ano lendo e refletindo sobre esse conto curtinho – fica a dica! + Compre na Amazon
O guia do mochileiro das galáxias, de Douglas Adams
Lembro que comecei a leitura das aventuras de Arthur Dent e Ford Prefect há muito tempo e acabei deixando de lado, o que sempre me deu a sensação de que eu era uma nerd incompleta, rs. Pois em 2019 isso mudou graças ao Clube de Leitura do Sesc Sorocaba! A trilogia de cinco livros – com seus altos e baixos, evidentemente – se mostrou leve, divertida, ácida e inteligente. E o seu aviso, “Não entre em pânico”, nunca fez tanto sentido quanto neste ano que está acabando! + Compre na Amazon
Leia mais: 17 livros sobre viagem no tempo
Cosmos, de Carl Sagan
Eu sou suspeita para falar sobre o Carl Sagan, porque o acho uma das pessoas mais incríveis que já habitou este planeta! E seu livro, Cosmos, e a série homônima para TV fizeram um grande sucesso e são, até hoje, fontes de informação e divulgação científica. Na obra, além de dados astronômicos atrelados à história, antropologia e outras áreas, é possível adentrarmos a profunda sensibilidade de Sagan, com seu olhar carinhoso sobre a humanidade e sobre o nosso “pálido ponto azul”. Então nem preciso dizer que recomendo este livro para todos aqueles que querem ter alguma esperança no futuro, nos outros e em nós mesmos. + Compre na Amazon