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Narração: o ato de contar histórias e suas mil possibilidades

A narração compõe a vida, seja real ou ficcional. É uma das formas mais genuínas da expressão humana. Envolve a habilidade de criar mundos, desenvolver personagens e explorar temas universais.

A narração é uma forma de expressão humana que remonta aos primórdios da comunicação. Trata-se do ato de contar uma história, seja ela fictícia ou baseada em eventos reais, de maneira a envolver e cativar o público. A narrativa desempenha um papel crucial na transmissão de conhecimento, cultura e experiências entre gerações, proporcionando uma ponte entre o passado, o presente e o futuro.

No cerne da narração, encontra-se a capacidade de articular eventos e ideias de maneira sequencial e coerente, proporcionando um significado mais profundo aos acontecimentos. Essa habilidade de contar histórias não se limita apenas à linguagem escrita; ela abrange uma variedade de formas, incluindo tradições orais, música, pintura, cinema e outras formas de mídia. Independentemente da forma que assume, a narração serve como uma ferramenta poderosa para transmitir emoções, ensinamentos e reflexões.

O narrador: um elemento fundamental

Um elemento fundamental da narração é o narrador, a entidade que conduz a história e guia o público através do enredo. O narrador pode ser um observador neutro, um personagem central na trama ou até mesmo uma entidade onisciente que conhece todos os detalhes. A escolha do ponto de vista do narrador tem um impacto significativo na forma como a história é percebida, influenciando a empatia do público pelos personagens e moldando a compreensão dos acontecimentos.

A narração não é apenas uma forma de entretenimento, mas também uma ferramenta poderosa para a compreensão humana. Ao contar histórias, as sociedades preservam sua história, compartilham valores e exploram a condição humana. As grandes obras literárias, os mitos antigos e as epopeias lendárias são exemplos de narrativas que transcendem o tempo e continuam a ressoar em diferentes culturas.

Os narradores desempenham um papel crucial na construção e apresentação de uma história, influenciando a perspectiva e a interpretação dos eventos pelo leitor ou espectador. Existem vários tipos de narradores, cada um com características distintas. Aqui estão alguns dos principais tipos de narrador:

Narrador em Primeira Pessoa:

  • O narrador é um personagem da história.
  • Usa pronomes como “eu” e “meu”.
  • Oferece uma visão subjetiva e limitada, pois só conhece os eventos percebidos por ele mesmo.
  • Proporciona uma conexão íntima com o ponto de vista do narrador.
  • Exemplo:Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis.
  • Descrição: Brás Cubas narra sua própria vida após a morte, proporcionando uma visão íntima e reflexiva sobre suas experiências e o mundo ao seu redor.

Narrador em Terceira Pessoa Limitado:

  • O narrador é externo à história.
  • Usa pronomes como “ele”, “ela”, “eles”.
  • Tem conhecimento limitado aos pensamentos e sentimentos de um ou alguns personagens específicos.
  • Oferece uma perspectiva mais objetiva, mas ainda mantém uma conexão próxima com os personagens principais.
  • Exemplo: “Capitães da Areia” de Jorge Amado.
  • Descrição: A história é contada de forma externa, mas foca principalmente nas experiências e emoções dos meninos de rua em Salvador, Bahia.

Narrador em Terceira Pessoa Onisciente:

  • O narrador é externo à história.
  • Usa pronomes como “ele”, “ela”, “eles”.
  • Possui conhecimento total dos pensamentos, sentimentos e eventos de todos os personagens.
  • Oferece uma visão mais ampla e detalhada, permitindo uma compreensão mais profunda dos personagens e da trama.
  • Exemplo:A Hora da Estrela” de Clarice Lispector.
  • Descrição: A narrativa é conduzida por um narrador onisciente que possui uma compreensão profunda dos pensamentos e emoções da protagonista, Macabéa. Clarice Lispector utiliza essa técnica para explorar a vida e as reflexões da protagonista de maneira íntima e poética.

Narrador Testemunha:

  • O narrador é um observador que testemunha os eventos da história, mas não participa diretamente deles.
  • Pode ter uma visão limitada ou completa dos acontecimentos, dependendo das escolhas do autor.
  • Exemplo: “O Quinze” de Rachel de Queiroz.
  • Descrição: A narrativa é observada a partir da perspectiva de pessoas que testemunham as consequências da seca no Nordeste brasileiro.

Narrador Não Confiável:

  • O narrador apresenta uma perspectiva distorcida dos eventos.
  • Pode ser intencional ou resultado de limitações perceptuais ou emocionais.
  • Desafia a confiança do leitor na veracidade dos fatos apresentados.
  • Um grande exemplo é Dom Casmurro, de Machado de Assis

Narrador Participante:

  • Similar ao narrador em primeira pessoa, mas participa ativamente dos eventos da trama.
  • Pode oferecer uma visão única e pessoal, pois está diretamente envolvido na história.
  • Exemplo: “Macunaíma” de Mário de Andrade.
  • Descrição: Macunaíma, o protagonista, narra ativamente suas próprias aventuras e desventuras em busca do muiraquitã.

Narrador Objetivo ou Observador:

  • Apresenta os eventos de maneira objetiva, sem acessar os pensamentos ou sentimentos dos personagens.
  • Oferece uma perspectiva mais distante e impessoal.
  • Exemplo:Vidas Secas” de Graciliano Ramos.
  • Descrição: O narrador observa os eventos e os personagens com objetividade, proporcionando uma visão realista e crua da vida no sertão nordestino.

A escolha do tipo de narrador tem implicações significativas na experiência do leitor e na forma como a história é percebida. Cada tipo de narrador oferece vantagens específicas em termos de profundidade de caracterização, revelação de informações e controle da perspectiva narrativa. Autores podem escolher um tipo de narrador com base nas necessidades da história que desejam contar e nos efeitos que desejam alcançar.

A estrutura da narração

Além disso, a estrutura da narrativa é um aspecto crucial da arte de contar histórias. A introdução, desenvolvimento e conclusão formam a espinha dorsal de muitas narrativas, proporcionando uma organização que ajuda a criar tensão, suspense e resolução. O uso de flashbacks, flashforwards e outros recursos temporais também contribui para a complexidade e profundidade das narrativas.

Existem diversas estruturas narrativas que autores utilizam para construir histórias envolventes e cativantes. Algumas delas são modelos clássicos que têm resistido ao teste do tempo, enquanto outras são variações mais contemporâneas. Aqui estão alguns exemplos comuns de estruturas narrativas:

Estrutura Linear:

  • Exemplo:Orgulho e Preconceito” de Jane Austen.
  • Características: Narrativa que segue uma ordem cronológica linear, começando com a introdução dos personagens e eventos, seguida pelo desenvolvimento e culminando na resolução.

Estrutura em Flashback:

  • Exemplo:O Grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald.
  • Características: A história é interrompida por eventos do passado, proporcionando informações adicionais sobre os personagens ou eventos principais.

Estrutura em Múltiplos Pontos de Vista:

  • Exemplo:As Crônicas de Gelo e Fogo” de George R.R. Martin (série “Game of Thrones”).
  • Características: A história é contada por meio de diferentes perspectivas, muitas vezes utilizando capítulos dedicados a diferentes personagens.

Estrutura em “Zigzag”:

  • Exemplo:São Bernardo” de Graciliano Ramos.
  • Características: A narrativa segue uma trajetória não linear, com o protagonista Paulo Honório refletindo sobre sua vida e eventos de forma não sequencial.

Estrutura em Círculo:

  • Exemplo: “O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien.
  • Características: A história volta ao ponto de partida no final, muitas vezes mostrando como os personagens foram transformados ao longo da jornada. É também um exemplo da “Jornada do Herói

Estrutura Epistolar:

  • Exemplo:Precisamos falar sobre o Kevin” de Lionel Shriver.
  • Características: A narrativa é apresentada por meio de cartas de uma mãe para o seu marido.

Esses exemplos representam apenas algumas das muitas formas como as histórias podem ser estruturadas. Os escritores muitas vezes adaptam ou combinam diferentes modelos para atender às necessidades específicas de suas histórias e estilos de escrita.

Conheça 3 livros essenciais para mergulhar no universo da narração

As estruturas narrativas

Um livro de grande utilidade para os nossos estudiosos de literatura, pois, além de divulgar de modo claro e irrepreensível as idéias dos formalistas russos e do estruturalismo lingüístico, dá ao leitor armas para descobrir as estruturas que existem subjacentes a toda narrativa e estabelecer um repertório de intrigas, de funções e de visões. Estes são alguns dos objetivos deste livro, que leva adiante as reflexões dos formalistas e as atualiza à luz da lingüística contemporânea. COMPRE NA AMAZON

Narrativa Cinematográfica: Contando histórias com imagens em movimento

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Este extraordinário guia de referência revela 100 das mais eficazes ferramentas narrativas da mídia do cinema. Ele mostra como roteiristas e diretores de destaque dependem de recursos cinematográficos para intensificar a ação, inventar personagens e dar vida ao enredo do filme.Narrativa cinematográfica sintetiza 100 anos da história do cinema, delineando a relação importante que existe entre a técnica e a narrativa cinematográficas. A obra mostra como o uso intencional de técnicas de cinema, como iluminação, edição e som, pode provocar no público sentimentos de medo, aversão ou raiva sem uma linha de diálogo. Ela demonstra como os valores e o leitmotiv do personagem são expressos cumulativamente ao longo do tempo e de forma não verbal. Com isso, o leitor recebe tanto os instrumentos críticos para entender melhor o cinema atual como os instrumentos criativos para explorar mais plenamente o potencial dramático dessa mídia. COMPRE NA AMAZON

A Jornada do Escritor: Estrutura mítica para escritores

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Em 1949, no clássico O herói de mil faces, o estudioso Joseph Campbell conceituou a chamada Jornada do Herói: uma estrutura presente nos mitos e replicada em todas as boas histórias já contadas e recontadas pela humanidade. Em A Jornada do Escritor, Christopher Vogler faz uma detalhada e esclarecedora análise desse conceito, tomando como base diversos filmes importantes. Resultado de anos de estudo sobre mitos e arquétipos, somados à experiência de Vogler na indústria cinematográfica norte-americana, esta edição, revisada pelo autor, é uma obra de referência fundamental não apenas para quem deseja escrever boas histórias – bebendo da fonte dos mais belos e fascinantes mitos já criados pela mente humana -, como para quem quer entendê-las melhor, relacionando-as à própria vida. COMPRE NA AMAZON


No contexto contemporâneo, a narração evoluiu para incluir uma variedade de mídias. O cinema, a televisão e a internet oferecem novas maneiras de contar histórias, explorando a combinação de elementos visuais, sonoros e narrativos. A narrativa transmídia, que se estende por várias plataformas, exemplifica essa evolução, proporcionando experiências imersivas e interativas.

Por fim , a narração é uma forma fundamental de expressão humana que vai além da mera contagem de eventos. Envolve a habilidade de criar mundos, desenvolver personagens e explorar temas universais. Ao mergulhar nas complexidades da narrativa, os seres humanos continuam a descobrir novas maneiras de se conectar uns aos outros, compartilhar experiências e compreender as complexidades da existência.

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