Materialismo e espiritualidade na obra O Fantasma de Canterville (Oscar Wilde)

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Escrito por Oscar Wilde e publicado pela primeira vez em 1887, “O Fantasma de Canterville” é uma obra que integra o gênero do conto de terror cômico. Além disso, a obra traz precisosas reflexões sobre materialisno e espiritualidade.

Nesta resenha sobre O Fantasma de Canterville você irá encontrar:

  • Enredo da obra
  • A problemática da história
  • Personagens e suas características
  • O conceito de modernidade e tradição na obra
  • O materialismo e a espiritualidade na obra
  • O fio condutor do enredo
  • Breve conclusão
  • Frases do livro

O terror cômico combina elementos de medo e humor, oferecendo uma leitura única e envolvente. O conto narra a história de uma família americana, os Otis, que decide adquirir um castelo na Inglaterra, conhecido como Canterville Chase.

Logo após se instalarem, a família Otis percebe que o castelo é assombrado pelo fantasma de Sir Simon de Canterville, um nobre que cometeu um assassinato e foi condenado a vagar eternamente pela propriedade. Sir Simon tenta de diversas maneiras assustar os novos moradores, mas seu esforço é constantemente frustrado pela praticidade e o ceticismo dos Otis.

Materialismo e espiritualidade na obra O Fantasma de Canterville (Oscar Wilde)
O autor Oscar Wilde

A problemática da história

O conflito central se desenvolve a partir desse embate cultural entre o pragmatismo americano, representado pela família Otis, e a tradição europeia, encarnada na figura do fantasma. A trama explora temas como a modernidade versus a antiguidade, ceticismo versus superstição, e a colisão entre mentalidades diferentes. A família Otis, com sua visão prática e moderna, não se intimida pelas tentativas do fantasma, tratando-o mais como uma inconveniência doméstica do que uma verdadeira ameaça.

Essa dinâmica dá margem a inúmeras situações cômicas e satíricas, nas quais Wilde critica tanto o materialismo e a eficiência exagerada dos americanos quanto a pompa e a superstição herdadas das tradições inglesas. Dessa forma, “O Fantasma de Canterville” não é apenas um conto de terror com um toque humorístico, mas também uma reflexão sobre o confronto entre duas culturas e suas respectivas visões de mundo.

Com uma narrativa rica em detalhes humorísticos e uma crítica social subjacente, “O Fantasma de Canterville” permanece uma obra relevante e envolvente, encantando leitores de várias gerações com sua astúcia e charme inigualáveis.

O fantasma de Canterville - Oscar Wilde
Edição de bolso da editora Antofágica

Bons personagens

Bem na sua frente viu, à pálida luz do luar, um velho de aspecto terrível: seus olhos pareciam carvão em brasa, os cabelos longos e grisalhos lhe caíam sobre os ombros em madeixas emaranhadas, suas roupas, de corte antiguado, estavam sujas e esfarrapadas e de seus pulsos e tornozelos pendiam grilhões enferrujados.

O livro “O Fantasma de Canterville” apresenta uma gama diversificada de personagens cuja dinâmica contribui significativamente para o desenvolvimento da história e para a crítica social inerente à obra. A família Otis, composta por Mr. Hiram B. Otis, a Sra. Otis, e seus filhos Washington, Virginia, e os gêmeos, representa o típico núcleo familiar americano, contrastando com o espectro britânico, Sir Simon.

Mr. Hiram B. Otis é um pragmático e confiável Ministro dos Estados Unidos, cujo ceticismo inicial em relação ao sobrenatural estabelece uma barreira racional contra as tentativas do fantasma Sir Simon. Sua esposa, a Sra. Otis, é igualmente racional e prática, apontando o caráter moderno da família, que frequentemente oferece soluções diretas e materiais aos eventos paranormais que encontram. Washington, o filho mais velho, é descrito como um jovem dinâmico e emblemático do espírito empreendedor, enquanto Virginia, a filha, é representada como sensível e a verdadeira heroína, cujo papel crucial na redenção de Sir Simon traz à tona uma profundidade emocional na narrativa. Os gêmeos, conhecidos por suas travessuras, representam uma força caótica que frequentemente desestabiliza as tentativas do fantasma de assombrar a família.

Sir Simon, o fantasma de Canterville, é uma figura complexa e tragicômica. Inicialmente retratado como uma entidade espectral com um propósito claro de aterrorizar, suas falhas sucessivas frente à impassibilidade e troça da família Otis evocam humor e simpatia. A evolução de Sir Simon, de um assustador fantasma para uma alma penada angustiada e eventualmente redimida, reflete a crítica ao sistema de aristocracia decadente pelo contato com os valores modernos representados pelos Otis. A interação entre Sir Simon e Virginia é particularmente significativa, pois quebra barreiras de tempo e valores culturais, resultando em um desfecho que destaca temas de redenção e empatia.

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No conjunto, a interação entre os personagens no livro “O Fantasma de Canterville” não só oferece uma leitura envolvente, mas também provoca reflexões sobre choque cultural, preconceitos e a possibilidade de transformação pessoal. A abordagem humorística e crítica social de Oscar Wilde é magistralmente tecida através das experiências interligadas destes personagens coloridos e memoráveis.

Modernidade e tradição

“O Fantasma de Canterville”, escrito por Oscar Wilde, é uma obra rica em temas e estilo literário que se entrelaçam para oferecer uma experiência de leitura abrangente e envolvente. Um dos temas centrais é o confronto entre modernidade e tradição:

  • A família Otis, representando a modernidade, adquire a mansão dos Canterville, uma família aristocrática britânica em declínio.
  • A convivência entre os métodos racionais e práticos dos Otis e as antigas crenças e tradições da casa assombrada cria situações repletas de humor e reflexão.

Materialismo e espiritualidade em O Fantasma de Canterville

Outro tema significativo é o materialismo versus a espiritualidade:

  • A família Otis, em seu pragmatismo e descrença nas superstições, trata as manifestações do fantasma com uma racionalidade quase cômica, utilizando produtos comerciais para resolver problemas sobrenaturais.
  • Do outro lado, o fantasma Sir Simon, com sua necessidade de redenção espiritual, simboliza a busca por significado além do tangível. Esta dicotomia é explorada com humor, mas também com uma certa profundidade filosófica.

O fio condutor do enredo

A redenção é, sem dúvida, um fio condutor do enredo. A transformação de Sir Simon, de um espírito atormentado para uma alma redimida, ocorre através da intervenção da jovem Virgínia Otis. Wilde utiliza este arco de redenção para tecer uma narrativa que transcende o mero conflito entre dois mundos, apresentando uma mensagem de esperança e transformação pessoal.

Ironia, humor e crítica social

O estilo literário de Oscar Wilde em “O Fantasma de Canterville” é destacado por seu uso magistral de ironia, humor e crítica social. A ironia é evidente na forma como Wilde subverte os elementos tradicionais da história de fantasmas. Ao invés de enfatizar o medo, ele destaca a inutilidade das tentativas do fantasma de aterrorizar uma família que opera na lógica prática do mundo moderno.

O humor permeia toda a narrativa, desde os diálogos espirituosos até as situações absurdas que resultam do confronto entre o fantasma e a família. Este humor é muitas vezes usado como ferramenta para a crítica social, comentando sobre a superficialidade do materialismo e a ingenuidade da modernidade em face das questões intangíveis da existência.

Combinar elementos de comédia e terror, Wilde cria uma obra que é única e cativante. Este equilíbrio delicado entre o cômico e o sombrio mantém o leitor engajado, enquanto proporciona uma reflexão sobre os temas mais profundos que permeiam a história.

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Uma breve conclusão

Dentro do corpo de trabalho de Oscar Wilde, ‘O Fantasma de Canterville’ se destaca não apenas por seu humor e sátira social, mas também pela profundidade emocional que oferece. Wilde usa a figura do fantasma, com toda a sua carga simbólica, para explorar temas como redenção, arrependimento e a fragilidade da condição humana. Isso garante que a obra continue a ser relevante e significativa, mesmo em um contexto moderno.

Ao refletir sobre as lições e mensagens do conto, o leitor contemporâneo pode encontrar várias camadas de interpretação. A ideia de que os erros do passado precisam ser confrontados e corrigidos para se alcançar a paz é uma mensagem atemporal. Da mesma maneira, a crítica de Wilde à superficialidade e ao materialismo permanece pertinente. Em essência, ‘O Fantasma de Canterville’ é uma obra que convida à reflexão e ao questionamento, uma jornada tanto divertida quanto profunda.

Frases do livro O fantasma de Canterville

1. “É um absurdo dividir as pessoas em boas e más. As pessoas são encantadoras ou tediosas”.

2. “O que é um cínico? Um homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada.”

3. “Um pouco de sinceridade é uma coisa perigosa e grande parte é absolutamente fatal.”

4. “Existem apenas duas tragédias na vida: uma não está conseguindo o que se quer e a outra está conseguindo”.

5. “Quem vive dentro de suas possibilidades sofre com a falta de imaginação.”

6. “Há apenas uma coisa na vida pior do que ser comentada, e isso não está sendo comentado”.

7. “A moralidade é simplesmente a atitude que adotamos em relação às pessoas de quem não gostamos pessoalmente”.

8. “Os verdadeiros amigos esfaqueiam você na frente.”

9. “O trabalho é a maldição das aulas de bebida.”

10. “O mundo é um palco, mas a peça é muito ruim.”

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