Voltar para casa, de Toni Morrison, foi escrito em 2012. A obra é sobre dois irmãos que desejam retornar ao lar, porém, a difícil batalha por sobrevivência que os dois irmãos passam, torna uma tarefa que poderia ser simples, algo muito mais complicado, no sentido de que voltar para casa também é mexer em coisas do passado, enterradas há muito tempo.

    Frank Money e Ycidra Money são irmãos, estão distantes fisicamente um do outro. Ele acabou de voltar da guerra; ela casou-se com um homem que a abandonou, mas os dois desejam se encontrar e ele, como um personagem que ganha uma voz própria na narração, é que vai se encontrar com a irmã, que está totalmente desamparada e precisa muito de sua ajuda para não morrer.

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    “Meu nome é Frank por causa do irmão do meu pai. O nome do meu pai é Luther, o da minha mãe é Ida. A parte maluca é o nosso sobrenome. Money. Que a gente não tinha nenhum”

    p. 40

    Há poesia, lirismo e mistério em cada personagem, mas também na forma como o livro é narrado, que intercala uma narração em terceira pessoa com uma em primeira pessoa, como uma carta entre os irmãos Frank e Ycidra (também chamada de Ci), que possuem histórias paralelas, mas desejam um reencontro, um retorno para a casa, como forma de fugir da realidade difícil que vivem.

    Sobrevivência é o tema

    A história, como um todo, é sobre sobrevivência. Frank sobrevive à guerra e tenta não ser enquadrado pela polícia todos os dias. Ycidra sobrevive ao marido que a abandonou e também precisa encarar a cidade, com trabalhos que não pagam bem, a aprisionam e a ferem, literalmente. Os dois ficam com marcas profundas, por conta das situações difíceis que enfrentam sozinhos.

    Também vamos conhecer a família deles, a relação que eles tinham com os pais, que evidencia uma vida difícil desde a infância, amenizado pelo amor dos irmãos. Frank sempre foi um protetor de Ycidra, que se sentia fraca e indefesa, porém, ao longo da narrativa com a ajuda de outras pessoas, ela vai buscar sua identidade e também a sua força. Um dos momentos mais bonitos da obra, sem dúvidas, é quando uma mulher, um tipo de curandeira diz:

    “Olhe para você. Você é livre. Nada nem ninguém é obrigado a te salvar, só você mesma. Plante a sua própria terra. Você é moça e mulher e as duas coisas têm sérias limitações, mas você é uma pessoa também. Não deixe a Lenore ou um namoradinho qualquer e com toda certeza nenhum médico do mal resolver quem você é. Isso é escravidão. Em algum lugar aí dentro de você está essa pessoa livre de que eu estou falando. Encontre ela e deixe ela fazer algum bem neste mundo” (p. 117)

    O livro possui uma metáfora muito forte, que o leitor só irá compreender no final, pois, a partir de um momento na infância dos irmãos, é que a história se desenrola e o leitor recebe uma chuva de analogias sobre brincadeiras de criança e a dura realidade de enfrentar a vida iniciada na miséria, de sentir muito medo, sofrer demais e permanecer em pé.

    Toni Morrison é um dos mais importantes nomes da literatura contemporânea, ganhadora do Nobel de Literatura em 1993, a escritora possui mais de dez livros publicados, mora no EUA e também é editora e professora universitária.

    Veja a resenha no canal Livro&Café:

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    1 comentário

    1. Fran, sempre tive vontade de ler a Toni. Depois de ver seus posts nas redes sociais, resolvi ler a resenha. Não tenho irmãos, mas estou lendo Dois Irmãos e adorando saber sobre essa experiência que não tive oportunidade de vivenciar. Literatura é isso, né? Esse Voltar para casa vai pra listinha, com certeza.
      Beijos!

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