Embora irônico no que concerne aos professores perante a conjuntura brasileira, esse trecho resume bem a triste e melancólica saga dos personagens de As Agruras do Verdadeiro Tira (Roberto Bolaño). Esse romance teve início em 1980, e “término” na data de morte do autor: foram vários fragmentos achados no computador ou em papéis de Bolaño que acabaram por produzir o livro.

Na raiz de todos os meus males se encontra minha admiração pelos delinquentes, pelas putas, pelos perturbados mentais, pensava Amalfitano com amargura. Quando adolescente, queria ter sido judeu, bolchevique, negro, homossexual, drogado e meio louco, e manco para arrematar, mas só fui professor de literatura.

Roberto Bolãno

2666 retorna

Os melhores personagens de 2666 voltam a aparecer neste também complexo romance. O mais conhecido de todos vem a ser Amalfitano, personagem principal da segunda parte de 2666, um professor que com a idade já adiantada se descobre homossexual. Sem muito mistério e com uma realidade crua e pungente, a história acompanha a expulsão de Amalfitano de uma faculdade na Espanha em decorrência de sua opção sexual e envolvimento com alunos, além de suas viagens geográficas e internas em busca do verdadeiro eu.

Quem dá as caras em As Agruras do Verdadeiro Tira é o tão procurado Archimbaldi, mas não de uma maneira ativa como os outros personagens já conhecidos, mas sim numa espécie de formulário, onde conhecemos o nome de seus livros, uma lista de seus inimigos, entre outras informações. O leitor de 2666 tem noção do alto valor de tais informações.

Um alerta formidável: As Agruras do Verdadeiro Tira não existe para responder as questões em aberto de 2666, nem para vir em auxílio, é simplesmente uma extensão da história de alguns de seus personagens.

Lalo Cura também tem seu momento de matar a saudade, o tira que sobressaia em meio aos outros por seu gosto pela leitura tem sua vida um pouco mais à mostra no romance. É como se os personagens fossem vistos por um outro ângulo, por outros parâmetros, mesmo não deixando de pertencer ao estilo de 2666.

O livro é melancólico em excelência, tanto nas peripécias dos personagens como na decadência de outros pela doença ou pela saudade.As duas passagens que mais se destacaram durante a minha leitura foram a despedida do recém e primeiro namorado de Rosa (já que esta acompanha o pai ao México, deixando o par romântico em Barcelona), a filha de Amalfitano, que deixa claro em suas cartas além mar que todas as relações que conhecemos são passíveis de término, enfraquecimento e brevidade, assim também a vida que é demonstrada curta quando o foco se volta para Padilla, um jovem homossexual que está morrendo pelas mãos da AIDS, o último suspiro deste negligenciado pelas maiorias, assim como o excerto do início do texto representa bem o livro como um todo.

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