Na biografia, Monique Nathan preocupou-se mais com a conexão entre as obras de Virginia Woolf e sua vida pessoal.
Quando iniciamos o processo de gostar de um determinado autor, de uma determinada personalidade, não percebemos onde esse sentimento pode nos levar. Independente da qualidade real da personalidade, afinal há os que gostam das celebridades, dos atores bonitos, das modelos gostosas e tudo mais, esse sentimento de fã, se dotado de equilíbrio mental, pode gerar uma série de conhecimentos interessantes. Digo isso por mim, pois venho descobrindo o mundo literário através da minha preferência pelas obras de Virginia Woolf, primeiramente, e também pela pessoa que ela foi, pela vida que viveu.
Eu li a segunda biografia dela, não a segunda publicada, mas a que chegou em minhas mãos. A primeira foi uma leitura deliciosa, coisa de fã que adora bisbilhotar a vida alheia, que adora a certeza de que a vida da personalidade é regada de mistérios e segredos, porém, nessa segunda leitura estou descobrindo a escritora Virginia Woolf, não a celebridade.
O livro foi escrito por Monique Nathan, é da série “Escritores de Sempre” da editora José Olympio (infelizmente o livro está esgotado nas livrarias, mas é possível encontrar em sebos). No livro encontrei o cunho crítico que faltou em “Sou Dona da Minha Alma”, pois a autora preocupou-se mais com a conexão entre as obras de Virginia Woolf e sua vida pessoal.
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Eu me pergunto: isso é biografia? ou é crítica literária? Monique Nathan fez o que realmente deve ser feito para o início de um estudo literário de determinado escritor: a interação entre a vida pessoal, a obra, a vida em sociedade e o contexto histórico no qual o autor viveu . Isso não é tarefa simples, penso eu, pois a história política, social e tantas outras que moram nos becos da cidade podem, em diferentes proporções, influenciar a vida e obra de um artista, ou não. Afirmo isso porque há o artista engajado, o rebelde, o outsider e outros tantos tipos que, em proporções diferentes, aceitam e negam tudo o que permeia a vida deles.
Qual é o papel de um biógrafo?
Então, o papel do biógrafo é saber reconhecer os fatos que tiveram real influência na vida do biografado e se assim não for, a biografia passa a ser um delírio, uma teoria da conspiração, e, principalmente, um exagero de elogios que transforma a pessoa comum (pois todos nós, inclusive os gênios e artistas somos) em algo totalmente surreal e exagerado. E eu não acredito que uma biografia assim possa contribuir positivamente para o leitor. Então eu pergunto: qual é o segredo de uma boa biografia?
Por enquanto eu não sei a resposta, sou novata no mundo literário, porém muito curiosa. Mas o que posso afirmar é que, como leitora de Virginia Woolf e outros bons escritores, descubro que somente um pouco não basta, precisamos ir sempre além, precisamos querer mergulhar no mundo que está à nossa frente, mas com muito cuidado! Talvez esse mundo à nossa frente seja apenas mais um pintado por nossa perigosa mente ou pela mente de outro e então, precisamos ir atrás da realidade. É essa que nos salva.
Respostas de 2
Para mim a melhor biografia que tem é ler todas as obras de um escritor, você vai conhece-lo muito. Biografia (na minha humilde opinião) fica melhor numa tela de cinema.
Beijos
Oi, Fran, não sou muito fã de biografias, viu. Acho que o segredo para este tipo de livro dar certo é o equilíbrio, o “acertar na mão”, porque quando somos muito fãs da obra de alguém não tem como não idealizar sua vida de forma heróica, romântica e cheia de ideologias e eu acho que isso faz parte da magia que saborear um livro, sabe, a liberdade de poder criar, sem ter imagens nos limitando e dizendo como são as coisas na realidade, consequentemente a imaginação acaba envolvendo também o autor. Então, se uma biografia mostra o escritor como alguém muito normal, sem nada de extraordinário na sua forma de enxergar o dia a dia, eu meio que perco um pouco da empolgação rs e se ao contrário, fico com a sensação de que ele é um “técnico”, que calcula o que escreve, por outro lado se a biografia cria alguém intocável, que nunca erra e tem uma vida perfeita, gera um distanciamento tão grande de sua humanidade, que também não acho positivo para o leitor. Acho que o que todo mundo espera de um ídolo, seja na música, no cinema, na literatura, é que ele seja de carne e osso, que seja possível, mas que ao mesmo tempo tenha algo especial que diferencie sua vida da dos demais e que se possa sentir que a sua obra reflete isso. Acho que as boas biografias são resultado do acerto desta mistura.