Facebook
Threads
Pinterest
WhatsApp
Email

Leitura errada: Reparação, Ian McEwan

Eu “paquero” Ian McEwan há um certo tempo. Tudo começou com a indicação de um amigo. Não lembro de suas palavras, mas o que ficou martelando em minha cabeça era que eu não poderia demorar para ler alguma coisa de Ian McEwan. E então eu comecei por “O Jardim de Cimento”; e comecei certo.

Em O Jardim de Cimento temos uma narrativa breve, a história é pequena, possível de se ler numa “sentada só”. O livro é sobre crianças que perdem sua família e precisam lidar com o desamparo e o medo misturado com atitudes ingênuas, perigosas e macabras. É um excelente livro. Minha mãe, que dorme até no melhor filme de ação do mundo, que lê poucos livros, pegou O Jardim de Cimento da minha estante e devorou o livro em poucos dias e, claro, achou a história ótima.

Reparação (Ian McEwan): uma obra-prima

Enfim, voltemos a Reparação: dizem que é uma obra-prima, o melhor de Ian McEwan, mas eu tenho as minhas dúvidas. O livro é bom? É. Emociona? Muito. Mas em certo momento eu achei a história um pouco parada, principalmente em relação a primeira parte – que contém vários capítulos e cada um funciona como um conto perfeito – fiquei maravilhada, encantada! A cada final de capítulo eu pensava (licença para os palavrões): é isso, porra! Literatura é isso! Ian McEwan você é foda! Mas então, como toda boa emoção, uma hora ela passa e fica a serenidade. A segunda parte do livro me deixou um pouco confusa: cadê a personagem principal? Para que detalhar tanto essa guerra? Quero a primeira parte de volta e pra sempre!

Terminei o livro porque não consigo largar nada pela metade, mas foi uma leitura, a partir desse ponto, truncada, perdida, confusa. Quando o livro terminou, fiquei feliz, não pela história, mas porque acabou mesmo.

A vida pessoal influencia na sua leitura?

Eu acredito muito que nossa vida pessoal influencia demais na leitura de um livro. Um certo momento, pode ser melhor para um certo livro. E esse mesmo livro, se lido na hora errada, pode não ser bom – tudo se perde; se confunde; não há ritmo; tampouco entusiasmo, como se fosse uma orquestra totalmente desafinada com cada músico tocando uma música diferente.

Agora que terminei Reparação, que minha vida está mais calma, consigo ver desta forma. Se eu tivesse escrito esse texto assim que terminei o livro, seria muito diferente, eu iria dizer que Reparação é um livro totalmente confuso, que tinha tudo para ser perfeito, mas que o autor se perdeu no meio da história. Agora sei que quem se perdeu foi eu, quem estava atarefada, com a rotina tumultuada, era eu! Literatura é isso: jamais algo pronto capaz de provocar a mesma sensação, é tudo instável, imprevisível, mágico, assim como a vida.

Por fim, eu pedi desculpas ao livro hoje pela manhã, segurei-o como uma criança arrependida de estragar a boneca: Reparação, me desculpe, eu não estava pronta para você, não lhe dei atenção suficiente, li errado, mas vou reparar esse tremendo descaso, será possível?

Onde comprar Reparação (Ian McEwan): Amazon

Conheça o canal Livro&Café:

Se você gostou, compartilhe!
Facebook
Threads
Pinterest
WhatsApp
LinkedIn

Continue por aqui...

Respostas de 6

  1. Dizem que sim, que é possível “resgatar” uma leitura que nos caiu mal numa primeira leitura…pessoalmente acho que nao. Um livro que foi ruim pra mim nunca chegou a ser bom numa segunda leitura, eu já tentei, comigo nao deu certo. Tipo, “Diário de um mago”, já tentei várias vezes, mas sempre desisto nas primeiras páginas, impossível pra mim! Leitura é assim mesmo.

    McEwan está na minha estante, é um dos que a gente precisa conhecer, vamos ver o que acontece…

    beijos!

  2. Eu sou suspeita para falar porque AMO Reparação com todas as minhas forças. O seu sentimento de “é isso, porra! Literatura é isso! Ian McEwan você é foda!” me acompanhou durante todo o livro. Por isso acredito que sua opinião negativa tenha a ver com o contexto da sua vida naquele momento da leitura.

    É possível mudar de opinião ao reler um livro que a princípio nos caiu mal SIM! Já aconteceu comigo mais de uma vez. Existem momentos certos para cada leitura e é importante observá-los justamente para não estragar o que poderia ser uma leitura maravilhosa.

    Btw, linkei o teu blog lá no meu 😉

  3. “Pegar o livro como uma criança arrependida de estragar a boneca”? kkkkkkkkkkkkkkkkkk. Ri demais dessa comparação.
    Obrigado pela sua opinião Francine, realmente é assim mesmo, tem vezes que quando acabo de ler um livro olho para ele e digo: “Lixo!! Como pude perder meu tempo com isso?”. Porém depois começo a prestar atenção no que ele disse e percebo que por mais ruim que o livro seja o que aprendemos com ele continua com a gente.

  4. Concordo plenamente! Muitas vezes nao estamos preparada para a leitura – é o que acontece comigo e Paixão segundo G.H de Lispector: nao sei o que ocorre, simplesmente nao avanço e isso há anos, 5 na verdade.

    Outra coisa que defendo é ler um livro de cada vez, acho desrespeitoso alguém mais de um livro ao mesmo tempo. Uma desconsideração com a história e no próprio ato de ler, que exige dedicação e exclusividade literária.

    Até =D

  5. Eu amo Reparação, um dos meus preferidos, então me desculpe mas vem coisa parcial pela frente. Deixa o livro quieto, de lado. Daqui há uns anos, quem sabe, lê ele de volta, tadinho. É engraçado, porque eu também tenho um história de arrependimento com esse livro, primeiro, numa biblioteca, eu dei uma folheada nele, li um pouco da primeira parte e achei ruim, meio lerdo. Aí bem depois eu fui ler ele de verdade, e me arrependi bastante de ter esperado tanto tempo, até porque percebi que o ritmo da primeira parte é intencional: tudo em tons pasteis, romântico, devagar mesmo, como que em contraste com os acontecimentos que vêm depois. Genial.
    Enfim, gostei do seu blog, bom achá-lo por aí. Beijos

  6. Comigo Atonement foi amor à primeira vista, tanto com o filme tanto como o livro, já dei de presente, já emprestei pra Deus e o mundo etc. Aconteceu algo similar comigo referente ao Deuses Americanos do Gaiman. Preparado eu estava sim, o que aconteceu foi uma espécie de birra mesmo, porque após algum tempo, de um ano mais ou menos, um estalo veio e me fez ver o livro duma forma diferente. O que muito me intriga na humanidade são esses insights, tanto em exercícios durante provas como também em diferentes pontos de visão a respeito de algo. Sobre as divisões do livro: todo mundo reclama da segunda parte, mas pense bem, como a terceira parte se ligaria à história sem a segunda? Como saberíamos o desencadeamento dos atos de Briony? Acho ela realmente necessária. Ela só não é romântica e tensa como a primeira, ao contrário, ela nos apresenta o desespero de Robyn e o início de uma constante sensação que perdura até o final do livro: por que a história não está prosseguindo? Isso nos mata devagar até o epílogo. Essa é a beleza do pós primeira parte. Na minha opinião ele soube conduzir a história sem enrolação alguma, conferindo a cada parte sua própria beleza.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *