On the Road (Jack Kerouac): uma jornada árdua

Quando escolhi através de uma indicação On The Road, clássico de Jack Kerouac como o livro com o qual eu apresentaria um trabalho no final do semestre de Literatura Norte-Americana em meu curso de Letras na faculdade, não fazia ideia de onde estava me metendo.

A primeira busca que fiz referente ao livro na internet para saber um pouco mais sobre do que se tratava, referia-se à obra como sendo “A Bíblia dos Hippies”, o que mais tarde de certa forma discordei.

Primeiras impressões

No início da leitura, nada muito diferente. Narrado em primeira pessoa, Sal Paradise (que representa na verdade o próprio Kerouac) um cara até então pacato que vive com a tia em Nova York, conhece Dean Moriarty, e inspirado por sua agitação e seu modo um tanto quanto elétrico de viver a vida, inicia sua aventura cruzando por diversas vezes o mapa dos Estados Unidos.

Seja de carona, sobre locomotivas, ou ônibus velhos, quando você se dá por si já está a 180km/h com Dean Moriarty ao volante, voando baixo pelas mais diversas “highways” norte-americanas, passando por inúmeros lugares, e deixando fixado em seu nariz de leitor, cada cheiro,entre nasceres e pores do sol.

Ledo engano pensar se tratar de uma aventura “rock and roll” antes mesmo do estilo musical surgir influenciado pela música negra (esta sim presente constantemente entre as páginas do livro representada pela figura endeusada de músicos de jazz tocando de bares de beira de estrada e vilarejos).

Na verdade, trata-se de uma jornada árdua, fruto da escolha símbolo de uma geração que via no movimento e na inconformidade sua forma de levar a vida, tendo que pra isso se aventurar também em empregos temporários que lhes davam dinheiro suficiente apenas para não passarem fome (como no caso de Sal, quando trabalha colhendo algodão sob o sol ardente para voltar pra “casa” com poucos centavos).

Mas claro, nem tudo é dramático. Os rapazes de mentes agitadas e brilhantes desfilam com grande frequência entre festas por onde passam, se divertindo entre prostitutas, música e drogas, o que talvez na verdade seja onde mais se mostram felizes quando não estão correndo pelas estradas.

On the road, Jack Kerouac e Bob Dylan

Quando Bob Dylan, um entre dezenas de músicos influenciados por esta geração, compôs “Like a Rolling Stone” para seu clássico disco “Highway 61 Revisited “ em meados da década de 60, intencionalmente ou não, denominou muito bem o estilo de vida da geração “beat”, que foi na verdade como as pedras que rolam e não criam limbo. Geração que, esta sim podemos citar como tendo nesta obra a sua “bíblia”, influenciou fortemente o que foi posteriormente o movimento “hippie”, com todas as suas características próprias e seus movimentos sociais, diferente da forma como os “beats” viviam, dentro de suas cafeterias esfumaçadas ou em movimento contínuo, mas sem querer serem importunados.

O único perigo que se corre além da alta velocidade ao ler “On The Road”, é o de viciar na escrita ininterrupta de Kerouac. O que era pra ser uma rápida leitura para um trabalho universitário se tornou nas últimas semanas uma doce compulsão, que consequentemente me levou a ler “Cenas de Nova York & outras viagens“, e “Tristessa” na sequência, já visando o polêmico “Visões de Cody” como o próximo.

Foi sem dúvida a grande descoberta literária do ano para o tardio desbravador da literatura, mas antes tarde do que nunca, não é mesmo?

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Uma resposta

  1. muito linda a cena em “cenas” das garotas dançando um flamengo no loft do pintor, “todas tornozelos e joelhos, os cabelos esvoaçantes”

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