Em “Nem te conto, João”, Dalton Trevisan traz diálogos que parecem acontecer nos 5 minutos de cada cigarro entre a bela moça de vestidos indecentes e botinhas sedutoras e João, um experiente dentista casado de classe média alta.
A história, produzida a partir de ideia e trechos de outros contos publicados pelo autor, trata da indecisão de Maria sobre se guardar, ainda que o dinheiro do seu pão dependa do empréstimo de seu corpo. Em passagens curtas e atemporais, ela se entrega na medida do possível e relata seus amores, casos e dificuldades financeiras a João, que parece lhe ouvir de forma superficial, apenas interessado na parte em ela tira sua roupa e faz o que lhe é pedido (mas sempre deixando as botinhas…).
Apesar de manter seu portfólio amoroso em meio às exigências do trabalho, a paixão da moça parece ser o Sargento, que foi para o Quartel sem mandar notícias, que lhe bagunça os pensamentos e volta vez ou outra exigindo sua presença. Entre nervos dessa confusão mental, dores de cabeça e falta de dinheiro, Maria vai ao consultório do dentista na busca de palavras, carinhos e reais.
Com um linguajar atrevido sem beirar a vulgaridade, Trevisan deixa ao leitor, quase um espectador capaz de sentir a fumaça do cigarro de Maria, a tarefa de aprofundar cada cena e entender os não ditos de suas reticências e exclamações. A intensidade e velocidade das conversas permite uma leitura igualmente intensa e ligeira. E o final, como em boas histórias da vida real, não é tão óbvio, se é que existe.
“- Está pálida.
– Ai, João. É dos cuidos.
p. 74
– Tem falado tão pouco.
– Sou assim.
– Não contou mais do Sargento. Do viúvo da cicatriz. Do hominho da Bíblia. Onde estão eles? Que fim levaram?
– Credo, João. Você decorou minha vida.”
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