“Em A Cabeça do Santo, Socorro Acioli mistura realismo mágico e cultura nordestina para contar a história de Samuel, um jovem em busca de seu passado e respostas espirituais. Ao encontrar abrigo em uma cabeça de santo gigante, ele passa a ouvir vozes de mulheres que rezam por amores perdidos. Descubra nesta resenha como o livro explora temas de fé, misticismo e a jornada do protagonista em um Brasil repleto de mistérios e encantos.”
Socorro Acioli, jornalista e doutora em estudos de literatura, começou a escrever as primeiras ideais para o livro “A Cabeça do Santo” (Companhia das Letras, 2014) na oficina de criação e roteiro “Como contar um conto”, ministrada por Gabriel García Márquez na Escuela de Cine y TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, no ano de 2006.
Em “A cabeça do santo”, vamos acompanhar a saga de Samuel pelo sertão do Ceará com o objetivo de cumprir o último pedido que sua mãe, Mariinha, fez antes de morrer e encontrar a avó e o pai que nunca conheceu. Após uma longa viagem a pé, sofrendo com as surpresas do sertão nordestino, Samuel chega em Candeia – uma cidadezinha cheia de desesperança, desfelicidade e desgraça. E lá encontra uma gruta para dormir, mas quando acorda ele se depara com uma confusão de vozes femininas na sua cabeça.
A gruta, na verdade, era a cabeça oca de uma estátua de santo Antônio. E as vozes, preces que as mulheres faziam para o santo.
“O fato é que as orações das mulheres reverberavam dentro da cabeça do santo e, por algum motivo, Samuel conseguia ouvir. No dia seguinte ele comeu goiaba, folhas, bebeu água da chuva e percebeu que as orações aconteciam de manhã e à tarde. Nem sempre todas as vozes, nem sempre as mesmas palavras, mantinham-se apenas o pedido: elas amavam e queriam casar.”
p. 34
Samuel tinha essa habilidade estranha e incompreensível de ouvir as preces. Não sabia se era por falha do santo, ou engenho do demônio, mas isso mudou a sua vida e de todos em Candeia. A primeira pessoa que conhece é Francisco. Juntos passam a tentar entender como tudo acontecia e claro de que forma podiam se aproveitar da situação. Então, Francisco tem a ideia de cobrar por consultas feitas com o mensageiro de Santo Antônio, promover casamentos e outras formas de reverter o dom de Samuel em dinheiro. Candeia renasce como um milagre do próprio santo que a tinha arruinado.
Apesar de começar focado no objetivo de Samuel, o romance nos leva para o centro de Candeia e lá nos deparamos com muitos fatos e surpresas que deixam várias pontas soltas na narrativa, mas Acioli acaba amarrando tudo, apesar de fazer isso de uma forma corrida (o livro tem apenas 176 páginas), e no final nos entrega uma boa leitura digna do gênero realismo fantástico e com uma prosa leve e divertida.
Uma experiência musical
Tive uma experiência maravilhosa quando estava lendo o livro, ao iniciar a parte “Canção” (pág. 96) começou a tocar “Eu preciso de você” da banda Validuaté (natural de Teresina). Além de imaginar o livro sendo adaptado para o cinema, foi a música perfeita para o momento em que Samuel estava passando. Apesar de se achar um rapaz sem fé e desafortunado, ele buscava um objetivo para seguir em frente na vida. A mãe lhe dera um logo após a sua morte e agora ele precisava de algo mais.
– Final, final mesmo, Samuel, é só quando eu baixar teu caixão na cova. Ainda dá tempo.
p. 155
– Tu sonha muito, Chico.
– Foi a morte que me ensinou. O tempo de sonhar é em cima da terra.
Curiosidade: a estátua do santo sem cabeça existe na cidade de Caridade, a 100 km de Fortaleza. Confira a matéria do G1: Estátua de santo sem cabeça faz sucesso em Caridade, no Ceará
Respostas de 4
Eu li muitas críticas negativas a respeito desse livro. Mas, a sinopse me atrai. Parece ser bem interessante. Também gosto da maneira como a Socorro escreve. Tenho ela no face e sempre acompanho suas postagens.
Eu li algumas negativas também, mas não me abalou muito. rs A ideia é interessante e a leitura muito agradável.
😉
Jeniffer, muito legal a sua resenha, obrigada. Toda literatura é feita por camadas, bons leitores como você conseguem enxergar. Um abraço. : )
Moço, Zé Lorota… Pegou pesado! 🙂