O tcheco, naturalizado francês, Milan Kundera, é conhecido principalmente por seu livro A insustentável leveza do ser (1983). Após mais de dez anos sem publicar um novo título, o autor lançou A festa da insignificância (Companhia das Letras, 2014) em que conhecemos quatro amigos parisienses: Alain, Ramon, Charles e Calibã.
A festa da insignificância é divido em sete partes e cada uma possui pequenos contos que aos poucos vão nos apresentando os amigos que possuem uma vida sem grandes acontecimentos. São pessoas comuns que podem passar despercebidas. São insignificantes para boa parte do mundo. Vamos conhecer, principalmente, os seus questionamentos e opiniões sobre vários temas, por exemplo o porquê de hoje as mulheres colocarem a barriga de fora e isso ser sex e erótico. Além disso, Kundera intercala o tempo e espaço, entre a Paris atual e a União Soviética do tempo de Stalin.
Tudo se mistura e é fácil o leitor se perder na viagens filosóficas. Se perder no sentido de não compreender totalmente, como também no sentido de compreender, concordar e sentir vontade de participar até o final da festa do Kundera. É como tomar um café com um amigo que resolveu falar sobre as aflições do mundo moderno – mas não é um papo totalmente pesado, tem um pouco de humor -, ele fica divagando e você acompanha com aquele misto de ansiedade e empolgação para ver se ele chega a uma conclusão ou solução: sim, amigo, e aí? O que tiramos disso tudo ou o que podemos fazer disso tudo?
Mesmo sem compreender, é fácil se deixar levar. Agora, neste momento, muitos Alains, Ramons, Charles e Calibãs existem além da minha janela. Para mim, são insignificantes. Não me interessam, mas lá no mundo deles tudo tem significado e é preciso ter para que a vida aconteça. Nem tudo que é insignificante para mim, é para você. Isso move o mundo, não é? E enche de beleza. Acredito que entendi um pouco, Kundera!
“A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças. Isso exige muitas vezes coragem para reconhecê-la em condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la. Aqui, neste parque, diante de nós, olhe, meu amigo, ela está presente com toda a sua evidência, com toda sua inocência, com toda a sua beleza. Sim, sua beleza. Como você mesmo disse: a animação perfeita… e completamente inútil, as crianças rindo…sem saber por quê, não é lindo? Respire, D’Ardelo, meu amigo, respire essa insignificância que nos cerca, ela é a chave da sabedoria, ela é a chave do bom humor…” – pag 132
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