Michelle Perrot (1928) é uma historiadora francesa, precursora nos estudos sobre a história das mulheres no ocidente. No livro “Minha história das mulheres” (Editora Contexto), temos uma narrativa muito interessante com um panorama que envolve algumas mulheres importantes – já conhecidas na história, mas também um relato sobre as tantas mulheres que viveram sem identidade social, apenas exercendo papéis fundamentais porém não reconhecidos na sociedade patriarcal.
Interessante que no início do livro a autora fala, assim como Virginia Woolf no livro “Um Teto Todo Seu”, sobre a necessidade de ir até uma biblioteca procurar livros sobre mulheres e, o mais raro, escrito por elas. São poucos, hoje mais, porém a escrita realizada por mulheres ainda não atinge a mesma gama de temas e assuntos como aqueles escritos por homens. Por que isso acontece? A cada resposta que desenhamos parece ser possível refazer a pergunta, inúmeras vezes, até chegar em diversos pontos importantes que Michelle Perrot evoca no livro.
Há uma citação de Christine de Pisan: “Em minha loucura eu me desesperava por Deus me ter feito nascer num corpo feminino” (p. 32), que também me faz lembrar Virginia Woolf, quando ela apresenta o quanto pode ter sido desesperador para a sua personagem, a irmã de Shakespeare, ter vivido sem poder ser escritora, assim como um irmão, porque era mulher; porque ele era homem. E penso então que o caminho para compreender o feminismo pode vir de diversos lados, pois são tantas as mulheres que desempenharam um papel fundamental para a história delas mesmas e das outras mulheres. Cada uma com a sua voz e estilo imprimiu uma marca sobre o quanto a mulher estava (está) aprisionada em conceitos sociais, políticos e ideológicos.
Cinco capítulos
O livro possui cinco capítulos que narra com entusiasmo o processo de visibilidade das mulheres tanto no espaço público, como no privado. Há de tudo, feiticeiras, artistas, professoras, dona-de-casa, cozinheiras, faxineiras, estudantes, feministas, escritoras, mães, que contribuem para que o leitor possa olhar com sensibilidade a difícil história das mulheres, de todas elas e de cada uma delas. As minhas e as suas também. Até mesmo aquelas que não estão registradas, mas que sabemos que existiu.
Michelle Perrot não se preocupa em dar uma simples resposta, mas sim ponderar sobre as diferenças de opiniões e vivências, construindo um importante inventário sobre as mulheres. Quando o título diz “minha história das mulheres”, a princípio podemos considerar o livro como uma história muito particular e pessoal, mas não é. O “minha” sugere e convida mulheres a contar suas histórias e das outras mulheres também. Você já contou a sua?